Na Bori, artigos de periódicos SciELO têm mais repercussão da mídia e análises de cientistas são preferidas pelo público geral

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.

Por Fernanda Andrade*

Desde fevereiro de 2020, com o surgimento da Bori, centenas de estudos e de reflexões de pesquisadores brasileiros publicados em artigos científicos, artigos de opinião, relatórios e livros foram antecipados e explicados à imprensa cadastrada para mais de 2.500 jornalistas. E quem não é jornalista não ficou de fora do processo: depois de antecipados à imprensa, os textos explicativos sobre as pesquisas brasileiras ficam públicos na Bori com acesso aberto. Mas de que forma os textos da Bori interessaram jornalistas e público geral? E como as pesquisas disseminadas repercutiram na imprensa?

Para fazer essa análise, levantamos os dados de acesso dos nossos materiais na área restrita a jornalistas cadastrados na Bori e na área aberta para o público geral desde o lançamento da agência até 31 de outubro de 2022 – cerca de dois anos e oito meses. Também analisamos as repercussões imediatas das pesquisas disseminadas na Bori na imprensa escrita. Os materiais que tratam de temas ligados à pandemia despertaram maior interesse dos jornalistas e do público geral, mas há diferenças interessantes.

Jornalistas têm mostrado mais interesse em trabalhar com artigos científicos e relatórios técnicos. O material mais acessado por essa comunidade foi um relatório de 2020 do Science Pulse e do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD) sobre as principais vozes da ciência no Twitter, rede que foi amplamente utilizada por jornalistas e cientistas para disseminar informações na pandemia. Estudos sobre os impactos e o preparo de profissionais da saúde, as consequências do home office e do fim do auxílio emergencial e a prevalência da desinformação nas redes sociais, divulgados em 2020, também estão entre os mais acessados.

Estudos sobre meio ambiente e biologia também fizeram sucesso entre os jornalistas, considerando a quantidade de acessos. Pesquisas sobre a interferência da ação humana nos ecossistemas, como os impactos da degradação de florestas, a importância de sua restauração e as consequências do aquecimento dos oceanos para os recifes de corais brasileiros, além de descobertas científicas, como a descoberta de um fóssil raro no Ceará, estão entre as dez publicações mais acessadas por essa comunidade. Os “temas quentes” são, portanto, os que mais chamam a atenção de jornalistas – seja em relação à pandemia, desinformação nas redes sociais ou degradação do meio ambiente.

Os artigos de opinião assinados por cientistas são bastante consumidos pelo público geral que acessa a área aberta do site da Bori. Sete dos dez materiais mais acessados na Bori por esse público são análises inéditas de cientistas da comunidade da Bori. Esses artigos tratam tanto de temas biológicos – como por exemplo, a transmissão do coronavírus por aerossóis e os efeitos da doença no cérebro – quanto sociais – como a importância da testagem para a contenção da pandemia e a ilusão da imunidade de rebanho.

Também receberam destaque textos sobre ciência e pandemia: a importância das universidades, a gravidade dos cortes na ciência e os riscos da falta de confiança na ciência. Já fora do âmbito da pandemia, dois artigos científicos e um relatório estão entre os dez mais acessados: estudos sobre a suplementação em atletas, a descoberta de novas espécies de peixes no rio Amazonas e a produtividade de universidades públicas paulistas. A comunidade geral está, portanto, fortemente interessada na divulgação de informações sobre a pandemia no Brasil e, em especial, sobre a ciência e as universidades públicas nesse contexto.

Na imprensa

Além do engajamento dos jornalistas e do público, também analisamos a repercussão imediata na imprensa escrita dos estudos divulgados desde o início da Bori, em 2020. Dentre os dez materiais com maior número de repercussões, há temas diversos e tipos de publicações variadas – artigos científicos, relatórios e livros. Isso significa que o formato em que o conhecimento científico é publicado não altera o impacto que o trabalho tem na imprensa.

Muitos estudos são da área da saúde, tratando de assuntos como a origem de doenças infecciosas, a prevalência da cárie em criançasnovas descobertas sobre a biologia da esquizofrenia e causas da complicação da sífilis em bebês. O impacto da ação humana no meio ambiente aparece novamente, ao lado de estatísticas sobre a pandemia no Brasil e questões sociais, como a importância de lideranças plurais nas favelas e a segurança de dados em aplicativos usados por crianças. Diferentemente dos acessos por jornalistas e público geral, a imprensa parece repercutir estudos mais diversos e que têm mais relação com o dia a dia e o interesse dos leitores.

Para se ter uma ideia, as pesquisas com maior repercussão imediata na imprensa tiveram mais de 60 menções na imprensa escrita no dia em que foram publicadas – e saíram em veículos de alcance nacional, como Estadão, Uol, Isto É, Agência Brasil, Correio Braziliense e Galileu, além de veículos de alcance regional e espalhados pelo país, como Diário de Pernambuco, Rondônia Dinâmica, Agora Paraná e Dourados News.

A pesquisa Seis entre dez doenças infecciosas têm origem em animais, mas ação humana facilita sua proliferação teve mais de 200 menções imediatas na imprensa – um recorde na Bori até hoje. Ela foi publicada na “Genetics and Molecular Biology”, periódico indexado na SciELO. As três pesquisas de maior repercussão imediata na imprensa disseminadas pela Bori, aliás, são de periódicos da SciELO: em segundo e terceiro lugares estão Apenas um em cada dez pais lê termos de jogos e aplicativos usados pelas crianças (“Cadernos EBAPE.BR”) e Estudo mostra que oito entre dez crianças atendidas por ambulatório ingerem alimentos açucarados e têm cáries (“Revista Gaúcha de Odontologia”).

As análises sobre as preferências de cada grupo reforçam o papel da Bori em dialogar não apenas com cientistas e jornalistas, mas também com a sociedade, gerando conteúdos que são utilizados de maneira tanto informativa quanto jornalística, além de permitir a interação de todas essas esferas entre si. Assim, a Bori consegue conectar a ciência nacional de qualidade à imprensa e à comunidade geral.

TOP 10 mais acessados por jornalistas na área restrita da Bori à imprensa:

  1. Estudo identifica as principais vozes da ciência no Twitter em 2020 (Relatório, 2020)
  2. Restaurar 30% de áreas degradadas do planeta pode salvar 71% de espécies da extinção (Artigo científico, 2020)
  3. Entre profissionais da saúde, mulheres negras são as mais afetadas pela pandemia, mostra estudo (Relatório, 2020)
  4. Fóssil raro de inseto voador é encontrado na Bacia do Araripe, no Ceará (Artigo científico, 2020)
  5. Invisíveis: 38 milhões ficarão sem assistência com o fim do auxílio emergencial (Relatório, 2020)
  6. Apesar de declarações do YouTube sobre combate à desinformação, vídeos anti-vacinas continuam circulando (Artigo científico, 2020)
  7. Savanização das florestas tropicais impactará mais de 200 espécies de animais (Artigo científico, 2020)
  8. Menos de metade dos profissionais de saúde pública no país recebeu treinamento na pandemia (Relatório, 2020)
  9. Com aquecimento do oceano, recifes de corais do litoral brasileiro podem ser tomados por algas (Artigo científico, 2020)
  10. Dores físicas causadas pelo home office estão associadas a baixos índices de bem-estar e saúde mental (Relatório, 2020)

TOP 10 mais acessados pelo público geral na Bori:

  1. A transmissão aérea do novo coronavírus através de aerossóis (Artigo de opinião, 2020)
  2. Vida é um projeto de longa duração (Artigo de opinião, 2020)
  3. Suplementação de atletas com β-alanina pode ser feita em jejum, aponta estudo (Artigo científico, 2020)
  4. Sobre a importância da ampliação da capacidade de testagem dos sintomáticos para a contenção da epidemia pela COVID-19 no Brasil (Artigo de opinião, 2020)
  5. Como a Covid-19 afeta o cérebro? (Artigo de opinião, 2020)
  6. Só com a graduação, USP, Unicamp e Unesp retornam em produtividade cerca de 15% mais do que custam à sociedade (Relatório, 2020)
  7. Expedição na parte norte do rio Amazonas identifica sete espécies de peixes pela primeira vez no Brasil (Artigo científico, 2020)
  8. Por que a imunidade de rebanho não vai nos salvar (Artigo de opinião, 2020)
  9. Em tempos de pandemia, cortes na ciência são ameaça ainda maior ao povo brasileiro (Artigo de opinião, 2020)
  10. O Conselho Federal de Medicina precisa respeitar a ciência (Artigo de opinião, 2021)

TOP 10 mais repercutidos na imprensa após disseminação a jornalista na Bori:

  1. Seis entre dez doenças infecciosas têm origem em animais, mas ação humana facilita sua proliferação (Artigo científico, 2021)
  2. Apenas um em cada dez pais lê termos de jogos e aplicativos usados pelas crianças (Artigo científico, 2022)
  3. Estudo mostra que oito entre dez crianças atendidas por ambulatório ingerem alimentos açucarados e têm cáries (Artigo científico, 2021)
  4. Lideranças plurais conseguem transformar realidades nas favelas (Livro, 2021)
  5. Com desmatamento, Amazônia perde sua capacidade de absorver carbono (Artigo científico, 2021)
  6. Pesquisa identifica proteínas que podem auxiliar no tratamento da esquizofrenia (Artigo científico, 2020)
  7. Transmissão e complicação da sífilis em bebês pode ser resultado de pré-natal tardio (Artigo científico, 2020)
  8. Com aquecimento do oceano, recifes de corais do litoral brasileiro podem ser tomados por algas (Artigo científico, 2020)
  9. Só um em cada três profissionais de saúde diz ter sido testado para Covid-19 (Relatório, 2020)
  10. Mais de 4.500 profissionais de saúde morreram por Covid-19, revela estudo inédito (Relatório, 2022)

*Assistente de pesquisa na Bori em iniciação científica e aluna de ciências biológicas na Unicamp.

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