Divulgadores da ciência têm papel decisivo no combate à desinformação sobre vacinas contra a COVID-19 no YouTube

Publicado originalmente em Covid-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.

Conclusão é resultado da análise de 50 vídeos da plataforma que acionaram mais de 7,1 milhões de interações em seu conjunto

A análise de 50 vídeos postados em 2020 no YouTube, em canais de 29 influenciadores brasileiros, com número de visualizações de 20 mil a mais de 730 mil e a presença dos termos “vacina” e “COVID” nos títulos ou na descrição, revela que pesquisadores, professores e, principalmente, youtubers divulgadores científicos foram os que mais contribuíram para o enfrentamento de boatos e mentiras sobre as vacinas contra a COVID-19 em circulação nas mídias sociais. 

Dentro do período de análise, médicos, pesquisadores e youtubers que trabalham com divulgação científica foram os que mais produziram conteúdo relacionado à vacina no YouTube. Médicos lideram a produção de narrativas (14 vídeos), seguidos pelos youtubers divulgadores da ciência (10 vídeos) e youtubers (9 vídeos). Apesar da liderança de profissionais da medicina na produção de vídeos sobre o tema, os youtubers divulgadores científicosse destacam pela linguagem mais coloquial, além do uso de ilustrações animadas, infográficos, metáforas e analogias, o que facilita a compreensão da audiência não especializada. 

Em seu conjunto, os vídeos analisados acionaram mais de 7,1 milhões de interações e 32% deles propagaram algum tipo de desinformação, ao relacionar a vacina contra a COVID-19 a boatos e rumores disseminados nas mídias sociais. Temas como a desconfiança em torno da vacina chinesa, a vacina como “marca da besta”, a presença de microchip para controle da população ou a desconfiança do processo científico foram abordados. 

Abordagens equivocadas, a exemplo da defesa da hidroxicloroquina como alternativa de tratamento, a associação da vitamina D à redução de mortes pela COVID-19 e como auxiliar na prevenção do coronavírus, além de interpretações precipitadas de cura sobre uma vacina em desenvolvimento ou, ainda, a ideia de que quem já teve a doença estaria imunizado, também foram observadas.

Infodemia e hesitação vacinal

A análise dos vídeos é apresentada em um artigo publicado na revista Mídia e Cotidiano, do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano da Universidade Federal Fluminense (UFF), assinado por Luisa Massarani, Márcia Cristina Rocha Costa e Antonio Brotas.

Os autores destacam que, na pandemia da COVID-19, mesmo quando ainda representavam uma possibilidade remota, as vacinas já se constituíam como um dos principais temas de interesse social, com aumento na participação do debate público. Isso ocorre em meio ao contexto definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como infodemia – o excesso de informações que se espalham como um vírus durante uma crise sanitária, especialmente com o alcance da disseminação nas mídias sociais. 

O momento é marcado também pela hesitação vacinal, ou seja, o atraso na aceitação ou a recusa de vacinas, motivada pela desconfiança em relação ao sistema de saúde e à indústria farmacêutica, além de fatores socioculturais, políticos e pessoais.  

Destaca-se o esforço de cientistas, instituições de pesquisa, organismos multilaterais de ciência e tecnologia, meios de comunicação e indivíduos espalhados nas mídias sociais para comunicar a ciência. Entre os dez vídeos de divulgadores científicos analisados, oito são do canal Olá, Ciência! e estão entre aqueles com maior engajamento sobre vacinas em 2020.

Por outro lado, os autores alertam para as potenciais consequências negativas da associação da vacina com a ideia de ameaça à saúde ou de disputa política, especialmente quando espalhada por mediadores com poder de influenciar um grande número de seguidores na decisão de tomar ou recusar a vacina. A análise revela que a disputa política ocorre geralmente com a repercussão de declarações do presidente Jair Bolsonaro, agente frequente de mensagens com potencial antivacinação.

Os resultados do trabalho indicam que os rastros da desinformação exigem o fortalecimento de produções de influenciadores divulgadores da ciência que, ao ofertarem um repertório de informações confiáveis, ajudem os cidadãos a tomarem decisões que impactem na saúde pública e na sua qualidade de vida.

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