Quando não houve fake news?

Publicado originalmente em Coletivo Bereia por Caio Fábio. Para acessar, clique aqui.

A antropologia contemporânea nos dá conta de que a principal diferença entre o homosapiens e os demais hominídeos tem a ver, sobretudo, com o desenvolvimento da nossa linguagem. Os neandertais, por exemplo, possuíam linguagem, mas se comparada com a nossa, era extremamente simples e sem capacidade de grandes detalhamentos.

Desde há muito se sabe que através da linguagem também se pensa. Ela enriquece o pensamento, e o pensamento se expressa cada vez melhor por meio dela. Nesse caso, estamos a falar de vários tipos de linguagem, da comunicação oral à linguagem matemática ou musical.

Mas o que fez o homosapiens levar vantagem sobre os outros concorrentes?

A capacidade de dissimular de forma mais sofisticada a linguagem que possuía.

Assim, desde os primórdios, informação e desinformação caminham juntas no processo civilizatório. A própria Bíblia inicia sua narrativa de natureza antropológica (Gênesis 3), com um choque entre a informação divina e a contra informação do ente arquetípico representado pela serpente. Daí em diante, a narrativa da Escritura nos põe frente a frente com a guerra ininterrupta entre a tentativa de informar com realidade e a busca de mudar, alterar ou falsificar a história em questão.

Os evangelhos nos mostram esse mesmo embate em todas as suas histórias e em encontros humanos. Esse processo de informação e contra informação atinge o seu clímax na crucificação. Afinal, Jesus foi morto na vitória das Fakes News, patrocinadas especialmente pelas autoridades religiosas. E como se não bastasse as corrupções do processo histórico, continuaram arquitetando Fake News quando souberam que a tumba de Jesus estava vazia. Mesmo diante das evidências de que o crucificado havia ressuscitado, os religiosos ordenaram que fosse divulgado que os próprios discípulos haviam roubado o corpo de seu mestre da tumba, para que as pessoas acreditassem que, de fato, tinha ressuscitado dentre os mortos.

Hoje, a diferença é que não se tenta criar nenhuma versão elaborada que venha competir com a verdade, basta que se diga o que deseja inventar e divulgue o que se pretende fazer passar por informação perversa. Portanto, não há mais necessidade de grandes dissimulações para camuflar falsificações. Já não há demanda pela verdade. A mente da maioria faz ser verdade apenas a loucura que prefere. A verdade como fato-realidade-observável morreu, tornando-se cada vez mais uma questão do que seja preferível.

“Não dirás falso testemunho” Êxodo 20.16

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