Máscaras ainda são estratégia fundamental para combate à COVID-19

Publicado originalmente em COVID 19 DivulgaçAÇÃO Científica. Para acessar, clique aqui.

Em vários países, o uso de máscara – especialmente nos lugares fechados e com grande circulação de pessoas, onde não é possível manter distanciamento social – vem sendo recomendado como uma das principais estratégias de combate ao vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19. Por outro lado, postagens nas redes sociais criticam essa medida, ora dizendo que a opção pela máscara deveria ser escolha individual, ora apresentando alguma justificativa com “tom” científico mas pouco embasada – como a ideia, já refutada pelos cientistas, de que máscaras causam diminuição dos níveis de oxigênio no sangue.

Nos últimos dias, circulou no Twitter: “Um grande e extenso estudo dinamarquês sobre o uso de máscaras descobriu que o uso de máscara quase não oferece proteção contra o coronavírus. Este é o melhor estudo científico já feito sobre esta questão”. Fomos conferir – e descobrimos, sem surpresa, que não é bem assim.

Existem dois benefícios possíveis para o uso de máscaras: proteger quem as usa ou funcionar como uma barreira para a dispersão do vírus, evitando que alguém infectado porém assintomático transmita a infecção a terceiros (o que a internet tem chamado de “proteger os outros”). O estudo dinamarquês citado no tweetpublicado na revista Annals of Internal Medicine, teve como objetivo avaliar apenas a primeira opção.

A pesquisa foi realizada em um momento em que a Dinamarca recomendava o distanciamento social, mas não havia recomendações para o uso de máscaras, que eram raramente vistas fora dos ambientes hospitalares. Um grupo de voluntários foi selecionado e metade deles recebeu a orientação de usar máscaras ao sair de casa. Após um mês, 1,8% dos participantes que receberam a orientação haviam sido infectados, contra 2,1% do grupo de controle, que não recebeu a mesma recomendação. A diferença entre os dois grupos foi considerada muito pequena.

Críticas

Enviamos o trabalho a dois especialistas, pedindo uma avaliação, e perguntando se os resultados apresentados no artigo deveriam nos fazer repensar a recomendação de uso de máscaras como parte das estratégias de combate à pandemia.

O infectologista Antonio Bandeira, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, vê no estudo sérios problemas metodológicos e afirma que o trabalho não permite concluir que as máscaras não são eficazes. “Um dos problemas foi não controlar a transmissão intradomiciliar”, aponta. No estudo, os voluntários foram orientados a usar máscaras fora de casa, mas não quando estavam em casa, com seus familiares. E, se os familiares saíam às ruas sem máscaras, poderiam trazer o vírus para dentro de casa.

A pneumologista Patrícia Canto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz, também faz críticas à metodologia do estudo. “As pessoas eram encorajadas a usar máscara, mas não ficou clara qual era a forma de controle”, indica, explicando que não se sabe se as máscaras foram, de fato, usadas corretamente.

A revista que publicou o artigo original publicou, na mesma edição,  uma análise do estudo feita por outros cientistas. Eles também apontaram algumas limitações. “Primeiro, o estudo avaliou o efeito da recomendação do uso de máscara, não o efeito de realmente utilizá-las. A adesão às recomendações de saúde pública é sempre imperfeita”, escrevem. “Segundo, o efeito de uma recomendação de uso de máscara também depende de muitos outros fatores, incluindo a prevalência do vírus, comportamentos de distanciamento social e frequência e características dos encontros sociais. O uso de máscara é apenas uma entre várias estratégias que interagem entre si para reduzir a transmissão viral, com cada uma reforçando as demais”.

Recomendação de uso de máscaras continua

Tanto Bandeira quanto Ribeiro acreditam que o estudo dinamarquês não é suficiente para justificar uma mudança nas orientações quanto ao uso de máscaras como forma de frear a transmissão do SARS-CoV-2. “Vários outros trabalhos e grandes intervenções epidemiológicas mostram que o uso de máscaras é fundamental. O importante é saber usá-las”, destaca o infectologista, sublinhando o alto grau de proteção conferido pelas máscaras cirúrgicas e respiratórias, como a N-95, e a importância de manter distanciamento social rigoroso em momentos em que se está sem máscara – por exemplo, na hora de comer ou tomar um cafezinho.

“A maioria dos estudos que temos até agora orienta o uso de máscara, as medidas de distanciamento social e a higiene das mãos”, completa Ribeiro. A pneumologista argumenta, ainda, que o uso de máscara é uma forma de as pessoas infectadas, mesmo assintomáticas, diminuírem a transmissão para outras: “Do ponto de vista sanitário, isso é muito importante”. Ela lembra, também, que há evidências de que o uso de máscara, do ponto de vista de quem as utiliza, pode reduzir a carga viral com que se tem contato, ainda que não evite completamente a infecção pelo coronavírus. “Uma carga viral mais baixa possivelmente corresponderá a um adoecimento mais brando”, explica.

Portanto, a mensagem segue clara: use máscaras. Elas são aliadas importantes para a proteção individual e coletiva contra a COVID-19.

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