6 motivos pelos quais a educação midiática foi fundamental em 2021

Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta por Mariana Mandelli. Para acessar, clique aqui.

A cada ano, aumenta a sensação de que estamos mais imersos e imersas numa espiral infinita de informações, úteis e inúteis, sem saber exatamente discernir entre os dois tipos nem como filtrá-las e usá-las no dia a dia. A impressão é de que a realidade se torna paulatinamente mais complexa, como se mais coisas estivessem acontecendo sem que conseguíssemos dar conta de assimilar tudo. 

2021 não foi diferente, especialmente por ter sido uma continuação trágica de 2020, uma vez que vimos, no Brasil e em diversos pontos do planeta, o número de mortos pela Covid-19 explodir, vitimando milhões de pessoas. Por aqui, o início da vacinação foi comemorado, mas também acompanhado por uma onda violenta de desinformação e teorias conspiratórias que, misturadas a um excesso de dados sobre imunizantes e aos nossos baixos índices de alfabetismo científico, provocaram — e ainda provocam — confusão e desconfiança.

Para o próximo ano, o prognóstico não é muito otimista, já que teremos eleições, o que promete intensificar a disseminação de discursos políticos duvidosos, narrativas mentirosas e ataques às instituições democráticas. Portanto, paralelamente à intensificação desse cenário de infodemia, é mais do que urgente reforçar iniciativas de educação midiática que abranjam diferentes camadas da população. 

Com o objetivo de deixar mais evidente a relevância desse tema, abaixo estão seis dos muitos motivos pelos quais cidadãos e cidadãs midiaticamente educados foram fundamentais em 2021.

Movimento antivax: a desinformação sobre a pandemia ganhou novos contornos no Brasil com o começo da imunização por aqui, em janeiro. Mesmo com o esforço de divulgadores científicos e de jornalistas em ressaltar a eficácia da vacinação, independentemente da empresa fabricante, vimos uma série de conteúdos falsos, espalhados inclusive por autoridades públicas, sobre a vacina. Vale destacar que a imunização contra outras doenças também nunca foi tão baixa no Brasil, o que pode ser interpretado como um possível efeito da onda de mentiras sobre os imunizantes.

Cancelamento: apesar de não ser exatamente uma novidade, foi em 2021 que essa prática ganhou fôlego por aqui, alastrando-se pelas timelines principalmente por conta da edição deste ano do Big Brother Brasil, que colocou a cantora Karol Conká no centro dessa discussão e provocou debates sobre a eficácia desses linchamentos virtuais e o esvaziamento de pautas sociais extremamente relevantes.

Ataques às urnas eletrônicas e à democracia: a campanha de descredibilização do sistema eleitoral brasileiro ganhou força em meados de 2021 com uma discussão descabida sobre a volta do voto impresso, que seria supostamente mais seguro do que as urnas eletrônicas utilizadas de dois em dois anos. Além destas, o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi alvo de movimentos orquestrados de desinformação e difamação, da mesma forma que vem ocorrendo com o Supremo Tribunal Federal (STF) há meses.

Deslegitimação do jornalismo: o trabalho da imprensa nunca esteve tão em risco no Brasil como em 2021. Diversos relatórios de entidades de classe apontaram o crescimento do número de violações aos direitos dos jornalistas, incluindo agressões verbais, ameaças de morte, violência física e assassinatos. Endossado por políticos, o discurso que descredibiliza o jornalismo profissional mina a democracia e coloca em risco direitos constitucionais e a saúde e a vida dos repórteres e editores.

Boom do TikTokextremamente popular entre os jovens, a rede social do momento se disseminou no Brasil trazendo a linguagem dos vídeos curtos para a rotina de crianças e adolescentes, provocando debates sobre a exposição deles e forçando uma mudança em plataformas digitais consagradas, como o Instagram.

Ensino remoto emergencial: o abre e fecha de escolas após o início da imunização contra o coronavírus deixou ainda mais clara a urgência de se tornar a educação digital e midiática uma realidade nas escolas brasileiras. Formar professores e alunos para que possam lidar de forma ética e responsável com as tecnologias digitais deve ser pauta de políticas públicas em nível municipal, estadual e federal.

Saber diferenciar fatos de opiniões, analisar criticamente as mensagens que nos chegam a todo momento e entender a nossa responsabilidade nisso tudo nunca foi tão importante. É uma questão de proteger direitos, reforçar a cidadania, afirmar e democracia e evitar que a sociedade e tudo que a sustenta seja corroído por discursos neuróticos, ofensivos e que realmente podem matar, como vimos acontecer nesse período pandêmico e como deve ocorrer em 2022. 

*Mariana Mandelli é coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

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