Publicado originalmente em Aos Fatos por Milena Mangabeira. Para acessar, clique aqui.
Posts editam trecho de uma entrevista concedida pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e enganam sobre motivo de atenção do Brasil aos cidadãos deportados dos Estados Unidos;No vídeo completo, Vieira destaca a situação da aeronave que transportou os brasileiros e a situação de maus-tratos à qual os cidadãos foram submetidos;Durante entrevista coletiva, o chanceler explicou ainda que acordos bilaterais sobre operações de deportação foram descumpridos pelos americanos.
O chanceler Mauro Vieira não disse que brasileiros deportados dos Estados Unidos não poderiam usar algemas porque isso atrapalharia em caso de acidente. Trecho da entrevista concedida pelo ministro das Relações Exteriores na terça-feira (28) foi editado para omitir que o governo federal reagiu devido à violação de direitos humanos dos passageiros no voo de volta ao Brasil e ao descumprimento de tratados entre os dois países.
Publicações nas redes com o conteúdo descontextualizado acumulavam centenas de curtidas no Instagram até a tarde desta sexta-feira (31). Os posts ainda circulam no TikTok e no Kwai com milhares de visualizações.
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Repórter: por que só agora o Brasil está dando atenção ao fato de os brasileiros estarem sendo transportados algemados? O que mudou? Ministro Mauro Vieira: o avião poderia ter sofrido acidentes e problemas mais graves.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, não disse durante uma entrevista na terça-feira (28) que brasileiros deportados dos Estados Unidos não poderiam usar algemas porque isso atrapalharia em caso de acidente.
Posts nas redes sociais editam sua resposta para omitir que o chanceler, na verdade, destacou o mau funcionamento da aeronave e “as condições péssimas” impostas aos passageiros durante o voo. Apenas a última frase da declaração cita o risco de acidentes.
Veja a seguir o diálogo completo:
Pergunta do jornalista: Não foi a primeira vez que os voos de deportados dos Estados Unidos para o Brasil tiveram pessoas algemadas, assim como o número de deportados do ano passado foi muito maior do que durante o governo Trump, agora que começou. Por que só agora o Brasil está dando atenção a esse fato? O que é que teve de diferente nesse voo?
Resposta do ministro Mauro Vieira: Primeiro que houve o acidente com o avião, quer dizer, o mau funcionamento, as condições péssimas, que nos levou a buscar as autoridades americanas para encontrar justamente condições adequadas, porque nós não podemos admitir que as pessoas venham com aquele tipo de tratamento, inclusive correndo riscos maiores, porque o avião poderia ter sofrido acidentes e problemas mais graves.
O chanceler ainda explicou que acordos firmados entre o Brasil e os Estados Unidos, em 2018 e 2021, que regulamentam esse tipo de operação, foram descumpridos pelo governo americano. A retirada das algemas dos deportados em território nacional é uma delas.
Na coletiva de imprensa, o ministro reforçou a necessidade de um trabalho em conjunto com as autoridades americanas para que as deportações sejam feitas “de acordo com a legislação brasileira e também com as normas de segurança e de acolhimento dentro de uma aeronave” (veja abaixo a entrevista completa).
O Brasil recebeu no último dia 24 um avião com 158 deportados dos Estados Unidos, o primeiro enviado desde a posse de Donald Trump. Os cidadãos, que desembarcaram algemados em Manaus, relataram ter sofrido maus-tratos durante o voo. O Itamaraty cobrou explicações do governo americano sobre o que descreveu como “tratamento degradante” dispensado aos brasileiros.O caminho da apuração
Aos Fatos realizou uma busca reversa de imagens e encontrou a entrevista completa concedida pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, após reunião com o presidente Lula (PT), na terça-feira (28), para discutir sobre a deportação de brasileiros que estão em situação ilegal nos Estados Unidos.
A reportagem assistiu ao vídeo completo da entrevista e constatou que as peças enganosas omitiram a explicação do ministro, que destacou o descumprimento de acordos bilaterais pelos Estados Unidos e a situação sob a qual os brasileiros foram submetidos no voo que pousou em Manaus na semana passada.
Referências