Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Edison Mineiro. Para acessar, clique aqui.
O Nujoc recebeu para checagem o vídeo do médico Christian Perrone com alegações que os vacinados contra a covid-19 representam um maior perigo e devem ser isolados da população geral. O argumento do médico se baseia no aumento de casos em Israel, que segundo Perrone era maior entre vacinados. Outro ponto que deve ser considerado é que o profissional fez parte da Organização Mundial de Saúde (OMS).
As afirmações são falsas. Estudos científicos comprovam que a vacinação reduz o risco de infecção, hospitalização e morte. Além disso, pesquisas sugerem que, mesmo quando eventualmente contraem a doença, indivíduos imunizados têm menos chance de transmitir o vírus para outros.
De acordo com o Projeto Comprova, a alegação falsa surgiu em uma conversa do médico Christian Perronne, adepto de “teorias alternativas” e acusado de espalhar desinformação sobre a pandemia na França, com um canal negacionista do Reino Unido. O discurso antivacina depois foi abraçado pela organização America’s Frontline Doctors, ligada a grupos de extrema-direita dos Estados Unidos que já foi alvo de uma série de checagens do Projeto Comprova e de veículos nacionais e estrangeiros.
Sobre o vínculo do médico com a OMS, ele realmente formou parte de um grupo consultivo europeu sobre imunização, porém isso ocorreu antes da pandemia. O médico não compõe atualmente o grupo e suas declarações não representam a posição da entidade no combate à covid-19. A OMS diz que as vacinas são eficazes e seguras e não recomendou o isolamento da população vacinada.
Vacinados não são perigosos – É falso que pessoas vacinadas sejam mais perigosas do que não vacinadas no contexto da pandemia. Pelo contrário, estudos científicos comprovam que os imunizantes reduzem a possibilidade de infecção pelo novo coronavírus, assim como a evolução para quadros graves, hospitalização e mortes. Evidências iniciais também sugerem que, mesmo em uma eventual contaminação, os vacinados transmitem menos o vírus para outras pessoas.
Já em relação a questão de isolamento de pessoas imunizadas, Flávio Fonseca da Sociedade Brasileira de Virologia conta que que isolar todas as pessoas vacinadas é uma alegação incorreta, sem embasamento técnico ou científico. O que define a necessidade de isolamento é o eventual contágio, uma vez que os imunizantes reduzem a incidência de quadros graves de covid-19 e morte, mas não eliminam a possibilidade de contaminação.
Ele explica que nenhuma vacina hoje disponibilizada no país – Coronavac, Astrazeneca, Pfizer e Janssen – tem característica infecciosa para justificar o isolamento apontado no vídeo.
Por último, acerca da contaminação entre vacinados em Israel indicada por Perronne no vídeo, a informação também é falsa. O Ministério da Saúde de Israel informava 4.858 casos ativos de covid-19 no país no dia 29 de novembro de 2021, época que o vídeo começou a circular. Destes, 3.624 não estavam vacinados, o equivalente a 75%. Em contrapartida, a população com esquema vacinal completo respondia por 692 casos (14%). O grupo dos parcialmente protegidos contabilizava 542 (11%).