Vacinação contra Covid-19 é mais lenta para indígenas da Amazônia, aponta estudo

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.

Highlights

  • Relatório da OKBR revela discrepância entre fontes oficiais e inconsistência nos dados sobre vacinação da população indígena
  • Imunização de povos indígenas é a mais atrasada entre os grupos priorizados pelo governo federal
  • Apenas um terço dos indígenas vacinados estão na Amazônia, apesar de 60% dessa população viver ali

Uma análise dos microdados da vacinação publicada pela Open Knowledge Brasil nesta terça (23) revela que a vacinação de povos indígenas na Amazônia Legal segue em ritmo mais lento que em outras regiões do país. Um terço (34%) dos vacinados está na região, que abriga pelo menos 60% da população indígena brasileira. Além disso, os dados mostram que o ritmo de imunização entre povos indígenas é o que está mais atrasado entre os grupos priorizados pelo governo federal.

A vacinação de novas pessoas indígenas foi drasticamente reduzida quando ainda estava no patamar de 55% da população prevista, enquanto a segunda dose só chegou a 29% do público de 413.739 indígenas que deveriam tomar a vacina. A título de comparação: profissionais da saúde formam um grupo 13 vezes maior que o dos indígenas; porém, 67% dos profissionais de saúde já convocados haviam recebido a primeira dose.

Parte do Índice de Transparência da Covid-19, a análise integra uma série de boletins especiais sobre a situação da pandemia na região da Amazônia Legal, em parceria com a Hivos e seu programa Todos os Olhos na Amazônia. A Bori já havia antecipado, em novembro de 2020, relatório sobre a falta de transparência de dados sobre quantidade de testes de Covid-19 disponíveis para a população desta região.

Problemas de qualidade dos dados

Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da OKBR e porta-voz do estudo, aponta que, além dessas questões, há uma falta de consistência nos dados de vacinação deste grupo. “A base de dados disponibilizada pelo Ministério da Saúde dificulta a análise e o monitoramento do processo de vacinação da população indígena. Isso porque ela apresenta uma série de problemas de preenchimento e consistência. Por exemplo, em 21% dos registros de todo o país, não há informação sobre o quesito raça/cor”, comenta Fernanda.

O problema é mais grave em entes como Distrito Federal (42%), São Paulo (36%) e Rio de Janeiro (39%). Além disso, a base não traz informação sobre etnia indígena entre os vacinados, o que acontece em outras bases de dados sobre a Covid-19. Há, ainda, possíveis erros em relação ao registro de aplicação de doses: em quase 6 mil casos, apenas a aplicação da segunda dose foi preenchida.

Outro problema identificado pelo relatório é a discrepância expressiva entre os registros da base de dados do OpenDataSUS e do Painel “Imunização Indígena”. O estudo aponta que são mais de 85 mil doses de diferença de uma fonte para outra, apesar de ambas serem mantidas pelo Ministério da Saúde.

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