Pesquisa revela o impacto da desinformação e da violência política contra jornalistas e comunicadoras LGBTQI+

Por Ana Regina Rêgo.

Artigo também disponível em Portal Acesse Piauí e Jornal O Dia.

Uma pesquisa realizada em 2021 pela Organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) em parceria com a ONG Gênero e Número (GN) sobre o impacto da desinformação e da violência política contra jornalistas durante a pandemia e divulgada esta semana, revelou que para cerca de 93% das jornalistas entrevistadas, a desinformação é muito grave.

Cerca de 55% das comunicadoras que responderam à pesquisa acreditam que a desinformação tem impacto direto em seu trabalho cotidiano, enquanto para 86% a violência em canais digitais contra o jornalismo e jornalistas é provocado, quase sempre por desinformação.

A pesquisa realizada no Brasil entre agosto e setembro de 2021 e dividida em três eixos principais, a saber: Desinformação, Violência online e Proteção e plataformas foi respondida por 237 jornalistas, com faixa etária média de 33 anos e das quais 43% se identificam como mulher cisgênero, branca e sem filhos. Sendo que 56,5% residem no Sudeste, 23,2% moram na região sul, 10% no Centro-oeste, 7% no Nordeste e 3% na região norte.

A maioria das entrevistadas atua em mídias digitais (48,9%), enquanto que 28,7% trabalha em Assessoria de Imprensa e 21,1% atua de forma independente, além disso 17,7% atua em jornais e 16,9% em canais de Televisão, enquanto que as demais atuam em outros meios eletrônicos e  impressos.

No que concerne à desinformação, além dos dados já relatados no início deste texto, vale destacar que para 81% das respondentes a suspeição do jornalismo está diretamente relacionada ao fenômeno da desinformação, agravada pela total perda de confiança por parte da sociedade na imprensa, diante disto, 90% avalia que a desinformação tem provocado a desconfiança da sociedade no jornalismo.

Sobre os efeitos da desinformação na relação sociedade e imprensa, vale ponderar que para 85,6% das jornalistas entrevistadas, há uma naturalização dos ataques a jornalistas; enquanto isso, 81% das respondentes acreditam, como dito, que a descredibilização do trabalho do jornalista está relacionada com a desinformação. No mesmo caminho, 71,3% acreditam que a deslegitimação do jornalismo como fiscal do poder também está relacionada com a grande circulação de fake News e para, 60,58% das respondentes a desinformação naturaliza o discurso pró-censura.

Na relação desinformação x pandemia, 79,2% avalia que o problema foi potencializado durante a pandemia, já para 9,7% a desinformação teria diminuído, o que contraria um número considerável de pesquisas já tratadas neste espaço jornalístico e que atesta o incremento exponencial de circulação de narrativas desinformacionais durante os anos de 2020 e 2021 e referentes ao novo coronavírus e temas correlatos.

Por outro lado, o ambiente político tem sido impulsionador do fenômeno da desinformação.  Para 86% das entrevistadas a criação e circulação de desinformação aumentou a partir da eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil. Enquanto isso, 5,5% avaliam que o nível é o mesmo e 6,7% afirmam que a desinformação é um fenômeno histórico e recorrente e não tem relação com o governo, já para 1,7% a desinformação diminuiu durante o governo de Bolsonaro.

No que se refere à segurança online, 8 em cada 10 jornalistas afirmaram ter mudado o comportamento nas redes sociais, objetivando se proteger de ataques. Cerca de 50% afirmaram que os ataques sofridos nas redes terminaram por impactar sua rotina profissional, enquanto 15% relataram ter desenvolvido algum tipo de problema relacionado à saúde mental em decorrência dos ataques virtuais que sofreram. Em casos mais extremos, um quarto das jornalistas entrevistadas afirmaram que foi preciso sair das redes sociais, com o intuito de se proteger.

De acordo com o Relatório da pesquisa, “entre os tipos de violência mais presentes, conteúdos com xingamentos ou palavras hostis aparecem em primeiro lugar (35%), seguido por ataque ao trabalho (34%) e desqualificação do trabalho realizado (33%). O terceiro grupo de violações mais frequentes são ataques misóginos ou com conotação sexual (19%), nos quais a agressão é direcionada à mulher jornalista, com objetivo de intimidar, desqualificar e gerar dano à sua reputação. Ameaças à reputação profissional e pessoal, à integridade física e uso indevido de imagens ou fotos também aparecem como crimes recorrentes contra jornalistas, mas em menor quantidade. Assim como doxxing, spoofing ou ataque devido à identidade de gênero ou orientação sexual, racismo e ameaças a familiares”.

A maioria dos relatos de violência apurados pela pesquisa, falam que a maioria das pessoas entrevistadas sofreram mais de um tipo de ataque, somente 5% afirmam ter sofrido somente um tipo de ataque.

Por outro lado, os ataques aconteceram em diferentes meios. Nesse sentido, 21,8% afirmaram que os ataques aconteceram em uma só rede social, enquanto 11,3% dizem que a violência aconteceu em duas redes sociais, 6,3% afirmam que a violência reverberou em três lugares e 5,9% falam que o alcance dos ataques chegou a 5 plataformas. A pesquisa identificou que a principal fonte de ataques a jornalistas que sofreram violência online ainda é o Facebook (26,1%), seguido pelo Twitter
(20,6%). A página do veículo onde a pessoa trabalha vem em terceiro lugar com 17,3% dos casos.

A ausência de uma legislação, a falta de punição e o anonimato favorece a frequência dos ataques e a difusão da violência digital, 36,7% das jornalistas vítimas de algum tipo de ataque não conheciam as pessoas que praticaram as violências, enquanto 12,6% acreditam ter sido alvo de bots, por outro lado, os perfis públicos representam 18,9% dos ataques.

Segundo o Relatório da Pesquisa em pauta, os políticos “entre eles, presidente da República, ministros, governadores, prefeitos, deputados, senadores e vereadores representam 8,4% dos casos de agressões reportadas pelos jornalistas vítimas
de violência online”.
Na mesma linha, servidores federais, estaduais e municipais representam 3,8% dos agressores, enquanto perfis públicos ligados a governos foram responsáveis por 4,6% dos ataques.

Com informações de Repórteres sem Fronteiras https://rsf.org/pt/noticia/brasil-desinformacao-e-ataques-nas-redes-contra-mulheres-jornalistas-impoem-serios-desafios-para

Para mais informações sobre a pesquisa acesse o relatório disponível em https://rsf.org/sites/default/files/pesquisadesinformacaogn_rsf_relatorio_final.pdf

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