Onde e como se informar em situações de crise

Publicado originalmente em Jornal da UFRGS por Rafaela Bobsin. Para acessar, clique aqui.

Comunicação | As enchentes no Rio Grande do Sul trazem consigo um grande cenário de desinformação. Neste momento, é preciso questionar e procurar informação de confiança

*Foto: Flávio Dutra/JU

Moradora da zona leste de Porto Alegre, a analista de sistemas Luana Machado se preocupa com a quantidade de informações falsas que ela tem visto circular e na dificuldade de saber quais são verdadeiras. Uma de suas queixas é sobre mensagens alegando que a água que está saindo das torneiras da Capital não é potável e, portanto, não pode ser bebida. A informação foi desmentida pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos.

O Rio Grande do Sul se encontra em estado de calamidade devido às chuvas da última semana. Com isso, diversas pessoas têm trabalhado incessantemente para ajudar quem está desabrigado ou precisando de resgate. Porém, em meio à tamanha crise, informações corretas também tem encontrado dificuldade em chegar nas pessoas.

Entre os problemas envolvendo a desinformação está o grande fluxo de relatos com dados alarmantes, que podem gerar pânico, circulando por diversos meios. Há vídeos, fotos, áudios e textos com dados fora de contexto que acabam dificultando uma comunicação efetiva.

Como evitar fake news

As notícias falsas (fake news) podem surgir em diferentes formatos e abordagens. Uma informação falsa não é apenas aquela que conta uma mentira: é também algo tirado de contexto, uma meia verdade ou um acontecimento contado de maneira distorcida.

Nos últimos dias, vídeos e áudios alarmistas surgiram. Entre eles, um vídeo que diz que havia 300 corpos boiando no bairro Mathias Velho, em Canoas, e que foi desmentido pela Agência Lupa. Outro traz um relato de que havia um bebê boiando na mesma região, o que não tem confirmação.

Quando há um conteúdo com imagens ou histórias apelativas, é sempre importante desconfiar. Em casos de mensagens recebidas pelo WhatsApp, é possível cuidar o texto “encaminhado com frequência” que as acompanha. Nesta situação, a recomendação é tentar verificar a origem.

A checagem das informações é fundamental neste momento. Isso porque casos que pareciam mentira, como o jacaré nadando no centro de Porto Alegre, acabaram sendo confirmados, enquanto alegações de que o governo federal financiou o show da cantora Madonna no Rio de Janeiro e deixou de prestar ajuda ao RS já foram desmentidas.

Publicações fora de contexto, desatualizadas ou com meias verdades são outro problema. Em alguns casos, há a distorção do que de fato está acontecendo, como têm acontecido em relação aos caminhões supostamente barrados por sobrecarga ou falta de nota fiscal ao chegarem com doações no Rio Grande do Sul. Na verdade, os caminhões foram abordados e liberados após as equipes de fiscalização constatarem que a carga era composta por doações.

Outros casos envolvem o uso de imagens de outros locais como se fossem no RS. Um exemplo é o vídeo de animais sendo arrastados pela correnteza: isso aconteceu no México em 2020 e tem circulado como se fosse atual.

Cuidados em tempo de crise

Luciana Carvalho é professora do departamento de Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e salienta a importância de verificar a data e o local da postagem. Outro ponto é pesquisar se a informação saiu em mais de um veículo: se ela está publicada em um único local, pode ser um indício de notícia falsa.

A jornalista e professora da Unisinos Tais Seibt ressalta que é importante sempre tentar verificar as informações em veículos de imprensa e nos canais oficiais do governo.

Todavia, é possível que mesmo os canais oficiais passem uma informação errada e depois retifiquem o dado, principalmente quando ocorrem entradas ao vivo em telejornais. Foi o que aconteceu quando o prefeito de Canoas, Jairo Jorge, disse que nove pessoas haviam morrido em uma UTI devido à cheia. Posteriormente, ele se corrigiu. Por isso, ambas as professoras indicam sempre manter a calma, analisar as informações e checar.

“Sempre em momentos de crise, a gente tem também uma crise da verdade”

Luciana Carvalho

Em um momento de grande fluxo de informação, é importante tentar não repassar dados alarmistas e que possam ser falsos. Todos estão nervosos e querem repassar o que chega, entretanto, é fundamental tentar manter a calma e refletir se compartilhar determinada postagem realmente informa ou se apenas gera pânico.

“Agir no impulso é tentador nesse momento, porque você quer agir rápido para se proteger ou se salvar, mas o prejuízo pode ser maior do que parar um minuto e buscar melhores informações”

Tais Seibt

Outro cuidado deve ser tomado com posts que são compartilhados como imagem (prints) e se assemelham muito aos de veículos oficiais. Novamente, a recomendação é conferir diretamente no perfil original.

Nesta semana, os sites do Governo do Estado ficaram fora do ar devido às cheias e falta de luz. Neste caso, é importante consultar os veículos de imprensa e os perfis oficiais do governo, pois são a alternativa para os órgãos governamentais divulgarem comunicados.

Sendo assim, as dicas principais são: não repassar o que não pode ser confirmado, manter a calma e sempre checar em veículos confiáveis.

Fontes de informação e iniciativas de checagem

Diversos serviços oferecem informação checada. Há os veículos oficiais, de imprensa (jornais digitais e impressos, rádios, telejornais) e de checagem que podem ser consultados. Os órgãos governamentais estão disponíveis em redes sociais, sites e até canais no WhatsApp mediante cadastro.

Alguns dos veículos oficiais que podem ser consultados são:

Diversos jornais estão com o conteúdo relacionado às cheias disponível sem necessidade de assinatura paga. A GZH liberou a edição digital dos seus jornais de forma gratuita para todo o público. Outro serviço ofertado são os de checagem de informação, realizados por agências como: Agência LupaFato ou FakeAos FatosEstadão Verifica e Boatos.org.

“A chave é a origem, a fonte da informação, e por isso recomendamos os órgãos oficiais e a imprensa de referência, bem como universidades e grupos de pesquisa, pois nesses espaços existe uma curadoria e em geral eles vão reportar qual a origem do que está sendo informado. Bem diferente das correntes de zap, que plantam a dúvida e o pânico”

Tais Seibt
Como agências de checagem funcionam

As agências de checagem realizam um trabalho de combate à desinformação e circulação de notícias falsas. A Agência Lupa vem realizando publicações constantes nos últimos dias desmentido e explicando situações que ocorrem no Rio Grande do Sul.

A CEO da Lupa, Natália Leal, explica que a equipe realiza um monitoramento de quais conteúdos estão viralizando nas redes sociais e também recebe pedidos através de comentários, marcações em redes sociais e envios feitos pelo Telegram. A partir disso, os jornalistas analisam o impacto daquela informação e como pode afetar a vida e tomada de decisões das pessoas para selecionar quais passam por checagem.

O processo de checagem tem dois caminhos. Quando se trata de um discurso envolvendo alguém do governo, é realizada a pesquisa em bases de dados públicas. Já o que vem de redes sociais passa por ferramentas que identificam edição de imagem ou áudio, identificadores de Inteligência Artificial e pesquisa para tentar identificar a origem (por exemplo, verificar se determinada imagem já foi utilizada anteriormente em outro contexto). Há casos em que parte da informação é verdadeira. Nessas situações, a agência Lupa realiza matérias de reportagens ou “explicadores”, para dar maior contexto e explicar o que realmente aconteceu.

As enchentes que estamos enfrentando exigem que nos mantenhamos informados, mas é importante colaboramos para gerar uma rede de comunicação confiável e que não irá gerar mais pânico em meio à crise. Na dúvida, cheque antes de compartilhar.

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