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João Paulo Mallmann
Pesquisador do objETHOS e Mestrando no PPGJor/UFSC
Foi-se o tempo dos planos fechados em um ou uma âncora que simplesmente lia um teleprompter com as chamadas e notas-pé das reportagens que eram apresentadas, igualmente sisudas e amarradas.
O fim dessa era, que já data de uns bons anos atrás, é algo muito positivo e que trouxe leveza para a experiência do telespectador. O problema mora no fato de as brincadeiras, seja na reportagem ou, principalmente, no estúdio, serem mais chamativas que a própria informação, que parece ser encarada com pouca seriedade.
Obviamente, os assuntos considerados mais pesados, como tragédias ou episódios de violência, não são precedidos por tais momentos de descontração. Porém, quase qualquer outro momento que poderia ser protocolar, como a previsão do tempo ou um boletim de trânsito, onde trabalhadores e trabalhadoras perdem horas preciosas do seu dia por problemas graves de infraestrutura urbana, vem acompanhado de alguma brincadeira.
Os quadros de interação com o telespectador, exceto nas vezes que são usados para reivindicações ou compartilhamento de informações relevantes, são outro grande engodo. Num impulso que lembra a explosão digital dos anos 2000, parece que tudo precisa voltar a ter interação com o público. Sinceramente, quem precisa de uma foto de alguma pessoa, seja ela quem for, assistindo ao jornal e saudando os apresentadores? O tempo do telejornalismo local é limitado, e cada instante, que poderia ser preenchido com mais reportagens ou quadros de opinião relevantes, é muito valioso.
Santa Catarina é um estado de grandes eventos, como o Festival de Dança de Joinville e a Festa do Pinhão, em Lages. É tradicional que seja montado um estúdio para apresentação de pelo menos uma edição, normalmente de sábado, do Jornal do Almoço, da NSC TV, no local do evento para todo o estado. Normalmente, são apresentadas as notícias, como usual, intercaladas com informações sobre as celebrações, entrevistas etc. Não há nada de errado e anormal nisso.
Na minha opinião, a linha deve ser desenhada quando uma parte considerável da atração é destinada à exibição de um número de dança que envolve membros do telejornal, ou seja, com o jornalista se misturando ao conteúdo e se tornando “notícia”, algo que é condenado já nas primeiras aulas de qualquer curso de jornalismo. Nesta edição do Festival de Dança de Joinville, especificamente, também fomos brindados com as constrangedoras entrevistas ao vivo que interrompem alguém assistindo a alguma apresentação para responder um questionamento genérico.
Se faço esta crítica, é porque sei que o produto pode ser muito melhor. O telejornalismo catarinense é composto de grandes profissionais, oriundos de diferentes partes do nosso país, e se apresenta cada vez mais diverso, fugindo de antigos padrões na contratação de profissionais. Há, evidentemente, avanços em várias áreas, como já foi citado no início do artigo. A descontração no telejornalismo veio para ficar e tem muito dela a ser celebrada.
Porém, sou defensor de uma leveza que não fique centrada em quadros genéricos de interação com o público, bordões pouco naturais repetidos à exaustão, inclusive nas chamadas para os jornais durante a programação, ou em tentativas de aproximação forçadas com o cotidiano do telespectador.
Sem romantizações problemáticas e desnecessárias, exercer o jornalismo é uma responsabilidade, pois é necessário que a sociedade esteja bem informada, ainda mais em tempos de desinformação em massa. Com a informação e o entretenimento cada vez mais fundidos, a atividade perde a seriedade e, quando falamos de forma, diferencia-se cada vez menos dos conteúdos pouco confiáveis que estão presentes aos montes na internet.
Dá para ser leve sem perder a relevância. Cérebros e mãos competentes certamente temos. Talvez não haja interesse por aqueles que assinam o cheque no início do mês.