O papel pedagógico do jornalismo

Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta. Para acessar, clique aqui.

*Daniela Machado, coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta, e Jonas Santana, analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta

No primeiro semestre, a sequência de ataques cometidos em escolas no Brasil acendeu um importante debate sobre o papel e a responsabilidade de jornalistas ao reportar tragédias dessa natureza. Diversos veículos de comunicação adotaram protocolos para evitar a exposição desnecessária de vítimas e uma eventual glamourização dos autores da violência — deixando de divulgar, por exemplo, seu nome ou redes sociais.  

Na ocasião, decisões como essa foram amplamente divulgadas por algumas empresas jornalísticas que, acertadamente, cumpriram sua missão não só de informar o que é de interesse público mas também de explicar com quais critérios exercem essa tarefa. 

Deixar de apresentar algumas informações ao público pode fazer com que o veículo de comunicação seja visto como “menos completo” em relação à concorrência. Porém, é importante compreender a importância de tais escolhas, já que pesquisas mostram que a publicação exaustiva de alguns dados relacionados a episódios de violência tem um “efeito contágio”, eventualmente encorajando outros ataques.

atuação mais consciente da imprensa pode (e deve) ir além. Uma proposta é a de explicar as decisões editoriais de como cobrir ataques toda vez que uma reportagem sobre o tema for publicada, e não apenas nos primeiros dias da cobertura jornalística. 

Iniciativas como essa tornam o jornalismo mais transparente e conectado com a audiência, e foram debatidos com profundidade esta semana durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, organizado pela Jeduca (associação que reúne jornalistas dedicados a essa área). 

O que lemos, vemos e ouvimos na imprensa influencia significativamente a maneira como enxergamos o mundo e, por isso, é essencial que haja reflexão e transparência no processo de construção da notícia. Esse é o papel pedagógico do jornalismo, que precisa — a todo tempo — examinar cuidadosamente suas práticas: quais histórias estão sendo contadas; como contá-las da maneira mais clara possível; que imagens são publicadas e por quê; quais vozes estão sendo privilegiadas ou omitidas; entre tantas outras questões. Esses cuidados não devem se restringir à cobertura de ataques; precisam, sim, estar presentes no dia a dia das redações, garantindo um diálogo mais assertivo entre imprensa e audiência.

Mais importante do que a velocidade de noticiar está a credibilidade e a responsabilidade do jornalismo — que precisa se diferenciar de tantos outros conteúdos despejados nas redes sociais por pessoas que ainda não se atentaram para as consequências negativas da disseminação de imagens e dados sensíveis sobre episódios de violência. Isso não acontece apenas nos casos de ataques cometidos em escolas, mas também com acidentes (principalmente se contarem com o envolvimento de famosos), por exemplo.

Temos hoje, ao alcance de um clique, uma infinidade de informações sobre os mais diversos acontecimentos. Entender que nem todos contam com a mesma precisão ou tratam os fatos com a mesma responsabilidade é uma competência essencial para toda a sociedade. 

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