Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.
Um estudo conduzido pelo NetLab, o Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais da UFRJ, mostrou que, mesmo após os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, o grupo Meta segue permitindo a veiculação de anúncios golpistas. De novembro de 2022 a janeiro de 2023 foram pelo menos 185 conteúdos com contestação das eleições e ataques a instituições impulsionados no Facebook e no Instagram com o consentimento da empresa.
A anuência da Meta a publicações golpistas já havia sido demonstrada no relatório da Global Witness com anúncios-teste nas plataformas. Já a pesquisa do Netlab encontrou anúncios reais que levantam dúvidas sobre a integridade do processo eleitoral e as urnas eletrônicas, clamam por intervenção militar, convocam, incentivam ou defendem manifestantes para os atos em frente aos quartéis do Exército ou quaisquer outros protestos que tivessem como fim a alteração ou questionamento do resultado das eleições.
“Os esforços declarados da Meta para a remoção de conteúdo antidemocrático e de ataque às instituições e ao processo eleitoral brasileiro foram insuficientes no período pós-eleitoral”, conclui o relatório divulgado pelo laboratório de pesquisa. Os 185 anúncios encontrados alcançaram aproximadamente 2 milhões de impressões, ou seja, número de vezes em que apareceram nas telas das pessoas.
A pesquisa partiu de palavras-chave ligadas às pautas antidemocráticas e identificou 124 contas que impulsionaram os anúncios encontrados. Dessas, 42,7% são de usuários comuns, mas há anunciantes que são políticos eleitos ou candidatos, empresas e páginas religiosas, incluindo perfis de lideranças e de instituições religiosas.
Entre os conteúdos aprovados pela Meta estão ataques ao Supremo Tribunal Federal e acusações de fraude nas urnas. A hashtag #BrazilWasStolen, O Brasil foi roubado em tradução livre, acompanha muitas das publicações. Chamados às manifestações golpistas e pedidos de intervenção militar também compõem o panorama de anúncios.
Além de permitir impulsionamento de conteúdos golpistas, a Meta ainda falha em outro ponto, de acordo com o relatório do Netlab. Os pesquisadores identificaram que, dos 185 anúncios, 151 não possuíam o rótulo de conteúdo sensível. Pelas regras da empresa, qualquer anúncio ligado a temas sociais, política ou eleições devem ser indicados como “sensíveis” pelo anunciante. No entanto, esse requisito pode ser facilmente driblado.
Os pesquisadores do Netlab apresentaram uma outra pesquisa que indica que, globalmente, o Facebook só identificou corretamente como sensíveis 17% dos anúncios. No Brasil, mais de 13 mil anúncios foram veiculados sem o rótulo.
Em nota, a Meta disse que não poderia comentar especificamente a pesquisa pois não teve acesso ao relatório. A empresa também pontuou que a amostra não representa a escala do trabalho realizado na plataforma e que houve uma extensa preparação para as eleições de 2022 no Brasil. “Durante a campanha eleitoral e depois da votação, removemos centenas de milhares de conteúdos de usuários no Brasil por violação das nossas políticas.”, afirmou o porta-voz da Meta.