Médicos europeus solicitam o uso urgente da ivermectina no tratamento da Covid-19?

Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Thalita Albano. Para acessar, clique aqui.

Em meio a um momento tão difícil e incerto para inúmeras pessoas, mais uma desinformação no tocante ao tratamento, cura e combate a Covid-19 tem ganhado espaço e força nas redes sociais.

O destaque da vez é um vídeo publicado nas redes sociais pela Deputada Federal no Estado de São Paulo, Carla Zambelli (PSL), onde ela afirma que médicos europeus pedem o uso urgente da ivermectina no tratamento contra o novo coronavírus.

O Nujoc Checagem, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS), teve acesso ao vídeo de mais de cinco minutos que circula nas redes sociais e que já foi compartilhado por vários perfis e páginas do Facebook, dentre essa última, a página ‘Intervenção Militar Já’. Nele, um grupo de médicos portugueses defendem o uso da ivermectina e através de uma petição criada, recomendam que o medicamento utilizado no tratamento contra piolhos e sarnas seja utilizado também no tratamento contra a Covid-19.

Através da Agência Lupa a informação foi averiguada. O vídeo de mais de cinco minutos que traz como título “Médicos europeus pedem uso urgente da Ivermectina” erra ao generalizar que todos os médicos do continente europeu aprovam e recomendam o uso do medicamento no tratamento contra a Covid-19, enquanto que, na verdade, a recomendação foi feita por um grupo de médicos portugueses que ao testar a ivermectina em centenas de pacientes que estavam contaminados com a doença, obtiveram resultados positivos no tratamento e cura da doença, segundo a Ordem dos Médicos.

Diante disso, o grupo pressionou os órgãos públicos locais como a Direção-Geral da Saúde (DGS) e a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), que funciona como a Anvisa no Brasil, para que avaliassem e recomendassem a ivermectina como tratamento da Covid-19. Além disso, a médica pesquisadora e Diretora da Consultoria de Medicina do Reino Unido, Tess Lawrie, solicitou ao primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que autorizasse o tratamento precoce da Covid-19 com o medicamento.

O pedido se deu após ela realizar a revisão de 27 estudos sobre a ivermectina e quando extraiu os dados, verificou que se tratava de uma droga com bons resultados no tratamento e cura da doença. A análise da doutora Tess chegou à conclusão de que o uso da ivermectina reduzia em até 83% o risco de morte de pacientes hospitalizados. No entanto, até o momento não houve respostas para o pedido da pesquisadora, isso porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a divulgar estudos que comprovavam a ineficácia do medicamento, bem como a Comissão de Avaliação de Medicamentos da Infarmed, que após análise feita, alertou em 11 de março de 2021 que não existem provas que assegurem a eficácia do antiparasitário como profilaxia ou tratamento do SARS-CoV-2.

Segundo a Agência Lupa, a petição do grupo de médicos ganhou repercussão depois que o site local Expresso noticiou em 5 de março, que profissionais de saúde portugueses estavam receitando o fármaco como tratamento da doença. A opinião quanto à eficácia ou não da ivermectina no tratamento de pacientes com Covid-19 é divergente entre a própria classe médica do país.

No Brasil, o assunto repercutiu após uma reportagem veiculada no canal de TV RedeTV!, em 11 de março. Reportagem essa publicada por Carla Zambelli em suas redes sociais. Embora essa não tenha ouvido nenhum representante da OMS e tenha usado apenas imagens antigas de entrevistas com o diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus como recurso de edição, exagera ao ter como legenda: “Médicos europeus pedem uso urgente da ivermectina. Diferentemente do que sugere o conteúdo exibido pela emissora de TV, o movimento a favor do uso do medicamento foi restrito apenas a Portugal e não a toda a Europa, como destacam.

A reportagem que viralizou nas redes sociais acabou sendo interpretada de forma equivocada. Diante disso, no dia 15 de março, a emissora corrigiu a matéria e informou a decisão das autoridades portuguesas. Além disso, segundo a emissora, a correspondente Erika Abreu havia questionado a Infarmed acerca da eficácia ou não do medicamento, não obtendo retorno. “No dia em que a reportagem foi ao ar, a agência portuguesa declarou insuficiente a evidência para uso da substância através de sua página na internet. A posição foi atualizada no RedeTVNews da última segunda-feira, 15, juntamente com o parecer de outras agências reguladoras europeias também procuradas”, diz uma nota publicada pela RedeTV!. 

Agência Lupa procurou a assessoria de imprensa da emissora que informou por e-mail que a reportagem exibida no dia 11 de março destacou, em dois momentos, a ausência de comprovação científica sobre a eficácia da ivermectina. Também afirmou que a matéria mencionou que a Infarmed, naquela ocasião, estava avaliando os pedidos de uso do remédio como tratamento precoce da doença. 

Como mostrado anteriormente pela Agência, a última atualização da OMS acerca das opções terapêuticas contra a Covid-19 indica que ainda existem “incertezas sobre os benefícios e danos potenciais” do antiparasitário e que “mais pesquisas são necessárias”. O remédio, portanto, não é recomendado.

Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), agência federal de saúde norte-americana, não aprova a ivermectina para tratar a doença e ainda alerta que a ingestão de grandes doses é perigosa. Já no Brasil, um post do médico pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumonia e Tisiologia, viralizou após ele fazer um alerta sobre o uso da ivermectina no combate à Covid-19. Ele afirmou que não há nenhuma comprovação científica de que o medicamento tenha eficácia contra o novo coronavírus e que seu uso pode causar hepatite aguda. Segundo o médico, ele presenciou o caso em que uma jovem precisou fazer um transplante de fígado após tomar 18mg de ivermectina todos os dias.

O medicamento que integra o famoso “kit covid”, ofertado no Brasil nas fases iniciais da doença, tem se mostrado ineficaz e até mesmo mais prejudicial do que benéfico quando administrado em quadros leves, moderado e graves de Covid-19, segundo estudos rigorosos. Com isso, algumas entidades nacionais e internacionais se posicionaram contra o fármaco que não é reconhecido e chega a ser contra-indicado por entidades como a Organização Mundial de saúde, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da Europa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

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