Publicado originalmente em Observatório da Comunicação Pública – OBCOMP. Para acessar, clique aqui.
A professora e coordenadora geral do Observatório da Comunicação Pública, Maria Helena Weber (UFRGS), compartilha suas impressões e questiona a decisão de encerrar 12 programas de pós-graduação da Unisinos, instituiçao na qual atuou e cujo papel é de extrema relevância para diversas áreas do conhecimento, dentre elas, a da Comunicação, um dos cursos afetados.
Ainda estou sob o impacto da notícia sobre a Unisinos e a extinção de 12 programas de mestrado e doutorado. Escrevo para compartir minha indignação e abraçar amigas, amigos, professoras, professores, ex-alunas e alunos que me mantiveram sempre ligada a esta universidade, especialmente, em dois momentos. Ao contrário do que pensava, descobri, no antigo prédio da Unisinos, que meu ofício seria o de professora.
Recém terminara a graduação na Comunicação/UFRGS e fui levada pela mão generosa da professora Martha D’Azevedo, até a sala de aula onde fiquei por alguns anos, até optar pela FABICO/UFRGS. Depois, quando em 2013, o PPGCOM/ Unisinos conquistou a nota 6 junto com a UFMG (numa escala até 7 na avaliação da CAPES), eu estava na coordenação e representação da área CSAP, com Nair Kobashi (USP). Nesta época, apenas a UFRJ era um “programa 6” e a homologação de novos “programas 6” pelo CTC foi acirrada, mas os argumentos em relação a Unisinos venceram ao ressaltar a qualificação docente, a produção científica e os compromissos assumidos pela instituição.
Sem assinatura, a institucional e lacônica nota oficial sobre esse desastre acadêmico ressalta que a “Unisinos mantém-se inabalável em seu propósito de oferecer educação superior de excelência.” O que seria “excelência” para essa universidade, já que três dos programas (Comunicação, Psicologia e Linguística) detêm a nota 6 atribuída a programas de excelência. Isto não foi considerado? O impacto é maior quando tentamos encontrar na história da Unisinos, na sua expansão e investimentos, algum indicador que possa ser relacionado ao desmonte de importante parte da sua estrutura em pós-graduação, interrompendo programas de referência nacional para seus campos de conhecimento, como é o caso da Comunicação. Nos cursos de graduação, mestrado e doutorado foram formados importantes professores e professoras e pesquisadores e pesquisadoras que hoje qualificam a formação de mestres e doutores em várias universidades brasileiras.
Repercute e impacta o campo científico, a decisão da Unisinos que modifica o futuro de centenas de estudantes, professores e pesquisadores. Estranhamente, cumpre à risca o ambíguo slogan do seu site de contemporâneo design que grita em letras garrafais: “Questionar hoje pode mudar o futuro”. E, sim, a Unisinos está mudando o futuro de centenas de pessoas e parece alterar seus valores, ao interromper o processo de formação de mestres e doutores nos cursos de Comunicação, Arquitetura, Biologia, Ciências Contábeis, Ciências Sociais, Economia, Enfermagem, Engenharia Mecânica, Geologia, História, Linguística Aplicada e Psicologia. A justificativa para este ato, em sua nota oficial está amparada na ordem econômica: “como resultado da crise econômica do país”; devido ao “reduzido número de matrículas” e à “redução expressiva do financiamento público”. Como uma instituição importante como a Unisinos, que integra a poderosa rede internacional de ensino da Companhia de Jesus (jesuítas), com milhares de estudantes, professores e pesquisadores em centenas de universidades, privilegia a questão econômica e não se refere à educação e à ciência?
O impacto da notícia reside também na indignação de que o fechamento desses cursos contribui para a consecução das políticas nacionais que, desde 2018, desprezam o interesse público e o investimento em ciência e educação, em detrimento de um suposto desenvolvimento. É assustador pensar que o ensino e a pesquisa mesmo numa universidade do porte da Unisinos, também podem estar submetidos ao mercado e a um conceito limitado de desenvolvimento, quando se lê ao final da nota oficial: “A Universidade potencializará seu portfólio de cursos e programas, em permanente conexão com as oportunidades e demandas do mercado, visando contribuir ainda mais para o desenvolvimento do estado do Rio Grande do Sul.”
Maria Helena Weber
Coordenadora Geral do Observatório da Comunicação Pública