Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Marcio Granez. Para acessar, clique aqui.
No comentário, ele questiona a validade das ações contra a pandemia e pergunta, diante da nova ameaça: “Vamos aceitar o carnaval?”
Com data de 1° de dezembro, está circulando nas redes sociais vídeo do perfil do Instagram @luizalbertoradio, que traz comentários sobre uma possível quarta onda da Covid-19 no mundo. O material foi enviado à equipe do Nujoc para checagem por meio do aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz.
Trata-se de um vídeo com três minutos de duração de um homem que se apresenta no canal do Youtube como “locutor e jornalista goiano Luiz Alberto”, que convida a “olhar a notícia por um novo olhar, por dentro da notícia, onde prezamos a verdade, longe das manipulações da mídia vermelha”. O vídeo foi compartilhado da deputada federal Bia Kicis (PSL) no Instagram, onde recebeu alerta de segurança contra a desinformação.
Luiz Alberto começa o vídeo elencando o histórico recente da pandemia no mundo: “Primeiro lhe disseram que fique em casa, que tudo vai se resolver. Depois informaram: ‘Olha, vamos fechar tudo, vamos fazer lockdown, porque aí sim vai resolver a situação’. Aí veio a outra informação posterior: ‘Você vai receber uma picadinha, uma vez, duas vezes, três vezes no braço, e aí vai resolver tudo’”.
Ele faz a leitura das manchetes recentes sobre uma possível quarta onda do novo coronavírus: “Mas agora tem essa nova informação, veja aqui: ‘Vacinados não estão imunes à 4ª onda da pandemia, alerta OMS’. Você percebeu a seriedade da coisa? Que a picadinha que disseram que ia resolver, ‘vamos fazer passaporte sanitário, porque com o passaporte sanitário resolve tudo’. Agora a OMS vem mostrando que não é bem assim, e a informação pode ser diferente. E tem mais, veja aí: ‘Brasil corre risco de nova onda de Covid como a Europa’”.
As notícias lidas pelo jornalista são verdadeiras, e foram publicadas nos sites Metrópoles e BBC News Brasil. As matérias relatam a preocupação das entidades de saúde com a nova onda de casos na Europa, causada por fatores como a resistência de parte da população às vacinas e o relaxamento prematuro das normas de distanciamento.
Depois de ler as notícias, Luiz Alberto comenta: “O mundo está numa quarta onda mesmo com a maioria das pessoas vacinadas como acontece na Europa. O Brasil já tem a maioria da sua população vacinada”. Nesse ponto ele questiona: “Então não resolveu nada? Tudo isso que nos disseram durante dois anos, 2020, 2021, não resolveu nada?”.
O questionamento levantado pelo jornalista não tem fundamento. As ações empreendidas pelos governos – isolamento, lockdown, vacinação – foram todas necessárias e eficazes nos seus respectivos momentos pandêmicos, como você pode conferir aqui e aqui. Sem o isolamento e o lockdown o número de infectados e mortos teria sido ainda maior. E a vacinação vem se mostrando eficaz, já que reduziu drasticamente a curva de infectados e de óbitos desde que as vacinas começaram a ser aplicadas, como você pode conferir aqui.
Claudia Leitte e carnaval – Na parte final de seu comentário, o jornalista traz a notícia recente sobre show da cantora Claudia Leitte em São Paulo, que gerou polêmica devido à aglomeração e ao grande número de pessoas sem máscara. Luiz Alberto prossegue: “E agora tem outra informação, outra novidade: ‘Show de Claudia Leitte reúne multidão sem máscara em São Paulo’. Quer dizer: pra você ir para a escola precisa de máscara, ir para a igreja, ir para o transporte coletivo, precisa de máscara, precisa de distanciamento. Mas o carnaval não”.
A preocupação trazida pelo jornalista faz sentido, considerando os dados do carnaval de 2020, que estão ligados ao crescimento de casos e de mortes pela Covid-19 nos meses subsequentes no Brasil. A variante ômicron, identificada em novembro na África do Sul, vem sendo estudada e gera preocupação sobre a retomada das atividades, incluindo os festejos de carnaval. Várias cidades já anunciaram que vão cancelar a festa popular, como forma de prevenção.
Claudia Leitte rebateu as muitas críticas que recebeu por seu show em São Paulo dizendo que no evento todas as medidas de segurança foram observadas, como número reduzido de praticantes e exigência de comprovante de vacinação.
Bolsonaro e economia – Luiz Eduardo relaciona a liberação do carnaval e o possível aumento de casos, o posterior impacto na economia e a identificação do governo Bolsonaro como culpado, a partir do seguinte raciocínio: “Hoje eles pedem carnaval sem restrição. Amanhã, o que que vai acontecer? Vão trazer novamente como aconteceu no início de 2020, vão trazer o vírus, as mutações do mundo inteiro para o Brasil. E aí o que acontece? Amanhã: aumento de contágio. E depois de amanhã: vão fechar tudo novamente, ‘não, vamos fechar, a economia a gente vê depois’. E na semana seguinte: ‘Bolsonaro é o genocida! A culpa é do Bolsonaro!’”.
Embora parta de uma premissa verdadeira – o vírus pode se disseminar nas aglomerações do carnaval como já aconteceu no início da pandemia – o argumento do jornalista distorce o que aconteceu na esfera política. O governo Bolsonaro foi um dos principais fatores de agravamento e descontrole da crise sanitária desde o início da pandemia no Brasil. As agências de checagem colecionam diversos exemplos de fake news espalhadas pelo presidente e seus apoiadores, como você pode conferir dando uma olhada aqui mesmo, na página do Nujoc.
Portanto, as informações trazidas pelo comentarista são verdadeiras na parte em que ele relata as notícias sobre o temor associado à nova onda da pandemia na Europa. Mas ele faz comentários desconectados dos fatos e que podem induzir a erro ao questionar a eficácia das medidas adotadas, e ao sugerir que o presidente Jair Bolsonaro foi acusado injustamente pela crise sanitária.
Desde o início da pandemia, o governo Bolsonaro foi negligente com a gravidade da situação, o que gerou uma CPI no congresso que apontou responsabilidades e aguarda punição dos envolvidos. Culpar a OMS e as medidas de combate à pandemia pela crise econômica no Brasil não condiz com o que de fato aconteceu, o que torna o comentário enganoso.
O Nujoc já fez outras checagens que mostram os interesses políticos conflitantes nas narrativas sobre a pandemia. Nesta aqui, mostramos como apoiadores do governo Bolsonaro tentaram distorcer o número de casos e de óbitos no início da crise sanitária. Nesta outra, checamos as alegações falsas envolvendo desafetos do governo federal sobre o tema das vacinas.