FALSO: Ao contrário do que afirma médica, tratamento precoce não tem eficácia nem base científica

Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Márcio Granez. Para acessar, clique aqui.

Está circulando nas redes sociais um vídeo em que a médica Raissa Soares, que atua na prefeitura de Porto Seguro – BA, elogia a atuação de colegas médicos que defenderam o tratamento precoce na CPI do Senado. Com pouco mais de 1 minuto e meio de duração, o vídeo foi enviado para checagem pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz, e foi compartilhado pela conta do Instagram do cantor de axé music baiano Netinho, em @netinhooficialbrasileiro, apoiador do presidente Jair Bolsonaro.

A médica Raissa Soares é uma das profissionais que defende o chamado tratamento precoce com drogas que supostamente teriam efeito preventivo e curativo contra a Covid-19. Em sua fala, ela elogia os depoimentos de dois colegas médicos que teriam dado um show na CPI em defesa do tratamento precoce: “É com grande prazer que eu venho aqui para dizer para vocês e contar para vocês algo que se alguém não, ainda não viu, por favor, acesse os vídeos que estão no Youtube na CPI do Senado em… nessas investigações da Covid-19, que vocês vão ver o dr. Francisco Cardoso e o Dr. Ricardo Zimmermann fazer um discurso belíssimo, com ciência, com trabalhos científicos, esclarecendo todas as dúvidas que foram colocadas até o momento”.

Além de exaltar a fala dos médicos, Raissa afirma que o tratamento precoce é eficaz: “Olha, gente, eu vou dizer pra vocês: eu, como uma das representantes em defesa do tratamento precoce nesse Brasil, que tô aqui em Porto Seguro, defendendo na Bahia o tratamento, a gente vê, a gente lida com paciente, a gente sabe que funciona. Lidando com várias vidas, com milhares de pacientes tratados e recuperados, a gente sabe que funciona”.

A afirmação da médica sobre a eficácia do tratamento precoce não se sustenta. Diversos estudos já foram feitos para tentar provar cientificamente a eficácia de drogas como a cloroquina e a ivermectina, como você pode lembrar acessando aqui e aqui. Mas nenhum deles conseguiu passar nos testes mais rigorosos.

A médica também afirma mais de uma vez que a fala dos médicos estava embasada na ciência: “E olha, escutar os nossos colegas terem a oportunidade de falar naquela CPI como falaram, como brilharam… Com informações da ciência, com informações da prática, esclarecendo, para que todo o mundo tenha a compreensão do que nós fazemos, nós estamos completamente sustentados hoje por trabalhos científicos feitos ao redor do mundo”.

É falso e induz a erro afirmar que a opinião dos médicos em defesa do tratamento precoce tem base científica. Isso porque a ciência até agora não conseguiu provar a eficácia dos medicamentos que compõem o tratamento precoce. A médica já disse em outras ocasiões que sua defesa do tratamento se embasa em sua prática cotidiana. Embora possar soar como ciência, isso chama-se empirismo: experimentações práticas que não foram testadas em larga escala, como explica o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Para ser ciência é necessário passar pela testagem, e os resultados devem mostrar eficácia em larga escala.

Barbosa explica que, em mais de 80% dos casos de Covid-19, a doença não evolui para casos graves. Isso pode explicar o suposto sucesso do tratamento precoce, quando não se conduz uma pesquisa em grande escala e observando os métodos científicos. Mas adverte: “Todas as estratégias, seja a hidroxicloroquina ou qualquer outra (azitromicina, ivermectina e nitazoxanida), estão em estudo, e não se justifica o uso por experiência pessoal porque isso não é ciência, isso é empirismo”. A explicação do médico está na checagem feita em 5 de junho de 2020 pelo jornal Estadão de outra mensagem envolvendo a médica Raissa Soares. Confira aqui.

A médica Raissa Soares: elogios ao tratamento precoce. Imagem: Captura de tela/Instagram

O NUJOC já fez outras checagens envolvendo fake news disseminadas pela médica Raissa Soares. Nesta aqui, ela afirma falsamente que a segunda dose não é necessária. Nesta outra, ela defende, sem provar, a eficácia do tratamento precoce contra a Covid-19.

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