Empresas aproveitam somente um terço da madeira explorada na Amazônia, aponta estudo

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.

Highlights

  • Equipe do INPA propõe que o coeficiente de rendimento volumétrico de madeireiras deixe de ser um valor padrão, hoje determinado em 35%, e seja calculado a partir do rendimento de cada indústria
  • Acúmulo de créditos virtuais por empresas que não atingem o rendimento de 35% estabelecido por órgãos ambientais aumenta risco de exploração ilegal de madeira
  • Investimento em tecnologia para aproveitamento da madeira e produção mais sustentável deve ser prioridade

A floresta amazônica é uma das principais regiões que produz madeira tropical no mundo. Para fazer o controle da exploração de madeira ilegal, órgãos ambientais utilizam ferramentas como o coeficiente de rendimento volumétrico (CRV), que é a relação entre o volume da tora de madeira processada e o volume obtido de madeira serrada. Atualmente, esse rendimento é de apenas 35% da madeira explorada. Um estudo de caso feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) publicado na revista científica “Acta Amazonica” nesta segunda-feira (6) propõe que cada indústria de base florestal tenha o seu próprio CRV com um intervalo de confiança, e que haja mais investimento em tecnologia para aumentar o rendimento da madeira explorada.

As análises foram feitas na empresa Mil Madeiras, que fica em Manaus (AM), entre 2015 e 2016, e são parte da dissertação de mestrado de Kauanna de Andrade, que foi aluna do Instituto. Durante a pesquisa de campo, Andrade ouviu relatos de que havia muita dificuldade dos órgãos ambientais em conferir o CRV. Em muitas empresas, o coeficiente não é atingido, o que gera falhas dentro do sistema DOF (Documento de Origem Florestal), que controla a origem da madeira.

Para medir esse coeficiente de fato, as toras de 19 espécies de madeira foram pintadas e o CRV estimado foi de apenas 24,6%, em média. Quando os 35% determinados pelo DOF não são atingidos, a empresa recebe créditos virtuais. Quando esses créditos se acumulam, os empresários enfrentam dificuldades para adquirir novas licenças para exploração. Em alguns casos, para atingir os 35%, é utilizada madeira ilegal sem rastreabilidade. “Quando a indústria faz seu próprio estudo, você evita acúmulo de créditos virtuais, que são alvos muito fáceis de cibercriminosos e que podem ser usados por quem faz exploração ilegal”, pontua Andrade.

Por isso, os cientistas sugerem no artigo que cada indústria tenha seu próprio CRV. “Tem que ter investimento em tecnologia da madeira para aproveitar mais o material que está sendo explorado”, afirma Andrade. “O DOF é importante, mas pode ser melhorado”, avalia. Cada espécie se comporta de uma maneira, segundo a pesquisadora, por isso, o rendimento de cada uma é diferente. O maquinário utilizado no desdobro, o tipo de produto final, a qualidade das toras, o tempo e locais de estocagem da madeira também podem influenciar o rendimento dentro da indústria.

Ao derrubar o CRV padrão e apoiar o investimento em ciência e tecnologia para melhorar o rendimento das espécies, os órgãos ambientais estimulam empresas a produzir de forma mais sustentável. “Sem manejo florestal sustentável, adeus biodiversidade”, observa Adriano José Lima, que também é autor do artigo.

DOI: https://www.scielo.br/j/aa/a/LNWngxngDqpYgznkmXzQqfw/?lang=en#

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