Em dois municípios do Amapá, mais da metade da produção de açaí tem descarte inadequado de resíduos

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.

Highlights

  • 53% dos estabelecimentos de produção de açaí nos municípios de Macapá e Santana fazem o descarte de forma inadequada
  • A pesquisa foi realizada nos municípios de Santana e Macapá, onde o descarte inadequado pode afetar a qualidade das águas
  • Os pesquisadores recomendam que as instituições públicas apoiem e passem orientações técnicas e ambientais para os batedores de açaí quanto ao descarte

O açaí é um dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros. A região Norte do país é responsável por grande parte da produção e consumo do fruto e, por isso, o descarte incorreto dos caroços pode ocasionar vários problemas ambientais, como alteração na qualidade das águas. Uma nova pesquisa publicada no dia (13), no periódico Ambiente & Sociedade, revela que 53% das batedeiras de açaí em Macapá e Santana, no Amapá, adotam métodos inadequados de descarte e destino final dos caroços. O artigo foi elaborado por pesquisadores do Instituto Federal do Amapá (IFAP), Universidade Federal do Amapá (Unifap) e Embrapa Amapá.

O artigo é um dos resultados do mestrado de Lidiane de Vilhena Amanajás Miranda. A engenheira ambiental aplicou questionários a 212 proprietários, em 2017, de batedeiras de açaí (151 em Macapá e 61 em Santana) sobre como os caroços de açaí são descartados. A professora da Unifap Helenilza Cunha, também autora do artigo, explica como o processo geralmente ocorre: “o empresário, ou quem prepara o açaí, bate os caroços para extrair a polpa. Os caroços – que agora são considerados resíduos dessa extração – são colocados em recipientes e descartados geralmente na frente da propriedade. Uma outra análise feita pelos pesquisadores é quanto ao destino final. Alguns batedores pagam pelo recolhimento dos materiais e outros deixam em frente ao estabelecimento para ser recolhido por pessoas que jogam esses resíduos em lugares inadequados, como cursos d’água”.

Os danos ao meio ambiente são inúmeros. A pesquisadora explica que Macapá e Santana têm muitas áreas de ressacas – áreas úmidas e sujeitas a alagamentos. Por isso, muitas pessoas construíram suas moradias nessas áreas úmidas (palafitas), e os caroços de açaí, às vezes, são utilizados para aterrar essas áreas. O material apodrece, gera matéria orgânica em decomposição e representa um perigo  para a qualidade da água pela diminuição do oxigênio – o que pode ocasionar até a morte de peixes, por anoxia, por exemplo. Conforme informam os autores no artigo, “há uma tendência do problema se agravar no futuro, com o insuficiente avanço técnico na gestão desses resíduos sólidos”.

Além do sabor aprazível, os frutos do açaí possuem ricos valores nutricionais. O caroço constitui cerca de 83% do peso do fruto e se trata de um material orgânico rico em carbono. Além das propriedades naturais, a produção tem bastante relevância econômica e social: dados oficiais estimam que o Pará e o Amapá produzem cerca de 60 toneladas por ano. Para muitas famílias, essa é a única fonte de renda.

E o que pode ser feito com os resíduos da produção de açaí? Felizmente, há diversas aplicações que poderiam diminuir os danos ambientais do destino incorreto. Consultando a literatura científica, os pesquisadores encontraram que os caroços de açaí são utilizados na produção de artesanato, adubação orgânica, farelo para alimentação de animais, fertilizantes e até mesmo em pesquisas farmacológicas e na prevenção de doenças. “É uma pena quando passo pelas ruas e vejo que há grandes quantidades de resíduo próximo aos estabelecimentos que produzem açaí. Penso: se houvesse investimento e orientação, esses caroços poderiam gerar renda para os batedores e para outras pessoas, e isso reduziria os impactos ambientais”, conclui Cunha.

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