Publicado originalmente em Âncora dos Fatos. Para acessar, clique aqui.
Uma mensagem sobre um suposto uso de celular com urna eletrônica pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) movimentou a internet nos últimos dias. O conteúdo em texto e áudio afirma que profissionais a serviço do órgão estariam realizando uma pesquisa eleitoral para saber o voto da pessoa entrevistada.
No áudio falso o homem diz: “Boa noite para todo mundo do grupo aí. Vou dar uma informação aí que é pra turma ficar ligeiro, viu? Porque está passando a turma aí tipo IBGE, tal de Censo nas rua aí. Passou aqui em casa, tinha acabado de chegar pra almoçar porque eu tava fazendo os bairro e voltei. E ela veio com um papo furado de que tá fazendo pesquisa pra ver quem que é Bolsonaro, quem que é Lula, quem que é outro partido. Aí tudo bem. Fui falando com ela, pedi ela foi falando as informação e foi pondo no aplicativo dela do celular, um celular avaliado mais ou menos nuns onze mil reais porque é o dos mais caro que tem da Apple. Já vi o celular já falei: aí tem. Ela num tava bem vestida não, num tava uniformizada, só tava com crachá. Ele também tava com um crachá também do outro lado da rua. Ela fazia um lado da rua e ele o outro. Fizeram o bairro meu. Eles não são daqui. Porque perguntaram o nome da rua, perguntaram o CEP da cidade e patati patatá. Aí depois de todas informação que ela pediu, ela perguntou pra mim em quem eu ia votar. Eu falei: mas eu já falei umas dez vez pra você. Ela falou, então no aplicativo aqui daria pra você escolher o seu o seu presidente, você apertar aqui. Eu falei, eu não vou por minha mão no seu celular. Ela falou, não, tem que ser o senhor. Aí eu estranhei. Eu falei, viu? Mas por que que eu que tenho que por o dedo aí? Por quê? Porque ele quer pegar digital, né? Aí eu olhei no aplicativo dela, falei, deixa eu dar uma olhada, coloquei o óculos, era uma urna eletrônica. É mole? Uma urna eletrônica. Então está o aviso aí. Estão passando nas casa aí fazendo a turma colocar o dedo. Você colocou o dedo? Toda a informação sua, eles tem tudo. É só o hacker entrar na Polícia Federal sabe tudo da sua vida meu amigo, tendeu? Aí o que acontece, na hora de votar quando cê for votar lá já votaram no seu lugar, por quê? Passaram essas informação pra outra urna lá, então vai ter fraude, hein? Nessa eleição, com certeza vai ter. E então eu tô alertando a turma aí, fica esperto, esse negócio de Censo, de IBGE, isso não é desse jeito, nunca vi isso aí. Então tá o alerta aí, vou colocar nos grupo aí o alerta pra todo mundo ficar ficar ficar de olho, hein? Brincadeira, meu.”
O conteúdo é
Segundo a narrativa, os responsáveis pela coleta de dados da população roubariam a biometria de eleitoras e eleitores durante a realização do censo demográfico de 2022.
O conteúdo também diz que os recenseadores sugeririam ao entrevistado que clicasse em uma urna eletrônica disponibilizada na tela de um celular para que, por meio desse processo, colhessem a impressão digital do eleitorado que vota em determinado candidato à Presidência da República.
Segundo o boato, a cópia da biometria pelo smartphone transmitiria essa informação para a urna física e, desse modo, permitiria que um eleitor votasse no lugar de outro no dia da eleição.
Censo
A notícia é completamente falsa. Primeiro porque, no censo demográfico, não são feitas perguntas sobre a intenção de voto das pessoas entrevistadas. O objetivo do estudo é reunir informações de quantos são e como vivem as brasileiras e os brasileiros. A pesquisa, portanto, não leva em consideração a preferência política de quem participa do levantamento.
Depois, é importante destacar que nenhum aplicativo de celular é capaz de substituir a urna eletrônica física, que é o único equipamento usado para registrar o voto do eleitorado. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) não utilizam impressões digitais coletadas por meio de smartphones.
A única forma de identificação biométrica válida é aquela coletada presencialmente pela Justiça Eleitoral ou por órgãos públicos parceiros, como o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e Institutos de Identificação, por exemplo.
Além disso, não há a possibilidade de uma “cópia” da impressão digital pelo celular interferir na votação. Isso porque, no dia da eleição, é necessário que a eleitora ou o eleitor posicione o dedo no terminal do mesário, que contém o leitor biométrico.
Tudo é acompanhado de perto pela equipe de mesárias e mesários, que passam por treinamento para detectar qualquer problema que ocorra na seção eleitoral. É impossível que uma pessoa se passe pela outra na hora de votar.
A informação foi verificada pelo TSE, Boatos.org, Fato ou Fake e pelo IBGE.
Conteúdo publicado também no site Gralha Confere.