Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Thaís Guimarães. Para acessar, clique aqui.
Um dos assuntos preferidos daqueles que disseminam notícias falsas sobre a covid-19 sem dúvidas é o chamado “tratamento precoce”. Na internet, são disseminados diariamente conteúdos onde pessoas defendem abertamente o uso de medicamentos como Hidroxicloroquina ou Ivermectina para tratar a doença, mesmo sem nenhuma evidência científica. O Nujoc Checagem teve acesso a um vídeo onde uma das grandes defensoras da Ivermectina no estado do Rio Grande do Norte, a ex-candidata a vereadora Luciana Monteiro, afirma que a Ivermectina poderia ter evitado 250 mil mortes por covid.
“Através da ivermectina, mais de 250 mil vidas teriam sido salvas no Brasil, é o que conclui um estudo liderado pela Universidade de Oxford. Segundo esse estudo, publicado no Fórum Aberto de Doenças Infecciosas da própria instituição e assinado por cientistas de seis das principais universidades do Reino Unido, entre elas a Universidade de Liverpool e a Imperial College, a Ivermectina reduz em 56% a mortalidade de pacientes em estado moderado e grave de covid-19. Ou seja, se parte da imprensa e políticos esquerdistas não tivessem militado tanto contra a Ivermectina, mais de 250 mil brasileiros teriam sido salvos”, afirmou Luciana Monteiro, que também é conhecida por ser grande defensora do presidente Jair Bolsonaro.
A informação em questão é falsa.
Primeiramente, o estudo não foi realizado pela Universidade de Oxford, mas foi apenas publicado na Open Forum Infectious Diseases, revista científica online publicada pela instituição. O trabalho é assinado por pesquisadores de outras instituições além de Oxford.
A publicação intitulada “Metanálises de ensaios randomizados de ivermectina para tratar infecção por SARS-CoV-2” reúne resultados de 24 estudos que envolveram 3.328 pacientes. Desses, 11 trabalhos teriam indicado a redução em 56% da mortalidade em casos moderados e graves de covid-19. Por outro lado, os pesquisadores alertam que muitos estudos incluídos na publicação não foram revisados por pares. O trabalho também reconhece que todos os testes analisados envolveram um pequeno número de pessoas.
Por fim, a informação de que 250 mil vidas teriam sido salvas sequer é mencionada na publicação. Este foi um dado criado por Luciana Monteiro.
A Agência Lupa, que também checou o material, entrevistou o biomédico e microbiologista Mateus Falco, divulgador científico da Rede Análise Covid19, e ele falou sobre a fragilidade do estudo em questão. O especialista afirma que um ponto crítico do estudo é a heterogeneidade.
“É como se juntássemos em um mesmo saco maçãs, bananas e abacaxis. São todas frutas, mas diferentes entre si. Nessa metanálise, os estudos selecionados são todos diferentes entre si, com dosagens diferentes de vários medicamentos. Fica difícil chegar a uma conclusão sólida”, avaliou.
*O material aqui verificado pelo Nujoc Checagem foi encaminhado à nossa equipe por meio do aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que está disponível para Android e IOS.