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Em Abaetetuba, jovens deixam as ilhas em busca de oportunidades

Por Adrielly Araújo Foto Acervo da Pesquisa

De acordo com dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2019 os jovens entre 15 e 29 anos representavam um quarto da população do nosso país. Isso significa 51,3 milhões de jovens vivendo atualmente no Brasil, sendo 84,8% nas cidades e 15,2% no campo. Além disso, também segundo o IBGE, de 1991 até o ano 2000, houve uma redução de 26% da população jovem no meio rural.

Esses dados identificam um forte contexto de migração jovem no Brasil, segundo a engenheira agrônoma Edilcina Monteiro Ferreira, autora da dissertação intitulada Entre o campo e a cidade: o jovem ribeirinho e suas relações com o processo de migração na região das ilhas de Abaetetuba/PA.

A pesquisa, que teve como principal objetivo identificar os motivos que levam os jovens ribeirinhos a optarem por ficar ou sair de suas comunidades de origem, no município de Abaetetuba/PA, foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/INEAF) da Universidade Federal do Pará e orientada pela professora Angela May Steward.

“A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, com o intuito de conhecer o objeto de estudo e seus hábitos. Para conhecer a comunidade, eu fiz minha pesquisa de campo vivenciando o lugar estudado”, relata a pesquisadora. “Fiquei alojada na casa de uma família por algumas semanas e saía na embarcação deles para visitar diversas comunidades. Levei comigo os formulários, com entrevistas semiestruturadas, e fiz a coleta de dados, de setembro a outubro de 2018, abrangendo 10 comunidades ribeirinhas e 45 jovens”, relata a engenheira agrônoma.

Edilcina Ferreira também saiu jovem de Igarapé-Miri para Belém. “Aos 16 anos, fui morar na casa de familiares, porque desejava estudar em uma universidade pública, então precisava de uma base de ensino melhor. Entender a realidade e as dificuldades de um jovem do sítio ao chegar à cidade foi o que me motivou a falar sobre esse assunto”, afirma.

Razões para ficar: vida simples e alimentação farta

“Eu conversei com jovens que não queriam sair do campo, que gostam da simplicidade, da alimentação farta, dos amigos, da igreja, enfim, da vida no sitio. Mas eles acabam precisando migrar, pois precisam mudar de vida, ter um bom emprego e fazer a diferença ‘lá fora’. Inclusive, alguns jovens falaram que, se tivessem a oportunidade de voltar formados e trabalhar em sua própria comunidade, não pensariam duas vezes”, conta a engenheira agrônoma.

De acordo com a pesquisa, o principal motivo que leva os jovens a escolherem a cidade está relacionado com o ensino. Muitos desejam fazer cursos técnicos e/ou superior, mas, permanecendo no campo, não terão essa oportunidade. Outro motivo citado faz referência à falta de emprego com carteira assinada e de estabilidade financeira no campo. A principal fonte de renda nessas comunidades é o açaí, porém, durante a entressafra, falta trabalho.

A migração por gênero acontece principalmente pela desvalorização do trabalho feminino nas comunidades. “No processo de manejo e comercialização do açaí, as mulheres têm um papel importante, apesar de pouco reconhecido. Em relatos, foi possível observar que algumas jovens preferiram trabalhar em casa de família em Belém ou Abaetetuba, pois tinham também a oportunidade de estudar em boas escolas da cidade”, revela Edilcina Monteiro Ferreira.

“Muitas jovens entrevistadas saíram da casa dos pais, conseguiram superar as adversidades e fazer um curso superior. Essas histórias acabam motivando a migração por gênero”, reforça Edilcina Ferreira. Um desses exemplos é a engenheira agrônoma Rosiléia Carvalho Andrade, “lembro que, no ano que mudei da ilha (Rio Maracapucu) para Abaetetuba, foi o ano que as escolas das comunidades ribeirinhas passaram a oferecer ensino da 5ª série do fundamental até o 3º ano do ensino médio. No entanto meus pais optaram por nos manter na cidade para garantir acesso a uma educação de melhor qualidade”, conta a engenheira. conta a engenheira,que, diferentemente de outras jovens migrantes, não precisou trabalhar em casa de família.

 Beira do Rio edição 160

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