Confiança nas notícias registra pior índice em nove anos no Brasil

Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.

A pesquisa Digital News Report 2023, publicada nesta quarta-feira (14), identificou uma queda de cinco pontos percentuais no índice de confiança dos brasileiros em notícias do ano passado para cá. O índice de 43% é o mais baixo registrado pelo estudo, feito pelo Instituto Reuters com a Universidade de Oxford. Em 2015, o índice chegava a 62% e, após um recuo para 48% em 2019, a confiança começou a aumentar durante a pandemia (2020 e 2021) para, logo depois, voltar a cair. 

“Isso é consistente com a queda acentuada verificada apenas alguns meses após a também altamente polarizada eleição presidencial vencida por Jair Bolsonaro em 2018. As críticas a jornalistas são altas no Brasil, com quase dois terços dos entrevistados ouvindo ou vendo pessoas criticando a imprensa com frequência – alinhado com um ambiente de confiança decadente e alta polarização”, destacou o pesquisador Rodrigo Carro no relatório.

A queda da confiança em notícias não é uma particularidade brasileira. No mundo, essa taxa caiu em média 2% no último ano, chegando a 40%. Entre os 46 países estudados no relatório, o Brasil encontra-se na 14ª posição, com a Finlândia liderando a confiança em notícias com 69% e a Grécia em último no ranking, com apenas 19%.

Mesmo com a baixa na confiança, os brasileiros estão acessando mais notícias. Em 2022, o Brasil registrou 54% na evasão de notícias, já neste ano o índice caiu para 41%, uma queda de 13 pontos percentuais. Para Rodrigo Carro, essa queda pode ter sido influenciada pelas eleições presidenciais de 2022, que foi o maior evento noticioso do ano e atraiu a atenção de milhões de pessoas.

No entanto, mesmo com a queda, o Brasil ainda está acima da média mundial de evasão de notícias, que este ano foi de 36%. Os pesquisadores identificaram que há duas formas diferentes de se evitar notícias: parte das pessoas que escolhem não ver notícias o fazem de forma ampla, por exemplo, desligam a TV quando começa o noticiário. Já outro grupo evita notícias mais específicas, tentando ver com menos frequência ou evitando alguns tópicos, como guerra e política.

No mundo, o Digital News Report destacou que o declínio no interesse por notícias acontece em um grande número de países, especialmente na Espanha, Reino Unido e França, além de apontar que o interesse é menor entre as mulheres e os mais jovens, com quedas geralmente maiores em países polarizados.

Acesso de notícias por redes sociais supera acesso direto aos veículos

A pesquisa também abarca o consumo de informações pelas redes sociais. Entre as pessoas que consomem notícias online em todo o mundo, 30% delas o fazem prioritariamente pelas redes sociais e 22% por meio do acesso direto dos sites de veículos jornalísticos. Esses dados representam uma mudança nos hábitos, pelo menos, desde 2018.

No Brasil, o acesso é prioritariamente online (79%), com 57% se informando via redes sociais. O meio impresso estagnou em 12% desde 2021 após grandes baixas e a TV segue caindo, alcançando 51% do público.

Um dos grandes destaques deste ano é o declínio acentuado do Facebook para o acesso a notícias.  Em todo o mundo, apenas 28% dizem ter acessado notícias via Facebook em 2023, em comparação com 42% em 2016. Já no Brasil, a queda foi de 12 pontos em dois anos, chegando a 35% neste ano. 

Com a queda do Facebook, o Instagram passou a ser mais utilizado no Brasil (39%) , mas ainda fica atrás do WhatsApp (43%) e do YouTube (41%). “O TikTok teve mais crescimento; os três diários mais vendidos do país (O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo) têm contas, mas ainda têm maior número de seguidores no Instagram e no Twitter. O mesmo vale para as emissoras de TV aberta. Todos estão interessados no TikTok, mas mais interessados em outras redes, onde é mais fácil promover o conteúdo existente”, complementou o relatório sobre a realidade brasileira.

Em todo mundo, o TikTok foi destaque como a rede que mais cresce. A amostra global mostrou que o aplicativo de vídeos curtos é usado por 44% dos jovens de 18 a 24 e usado por 20% dos usuários para consumo de notícias. O instituto destaca que o app é mais usado no Sul Global, por muitas pessoas, em todas as idades. 

No Brasil, os usuários que consomem notícias pelo TikTok estão mais interessados em notícias sobre política (51%) e notícias divertidas (47%). O interesse sobre política nacional na rede social é bem maior que a média mundial, que alcança 36%.

Acesse aqui a seção Brasil do relatório.

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