Matéria originalmente publicada no Observatório da Comunicação Pública. Para acessar o conteúdo original, clique aqui.
Em recente estudo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, pesquisadores do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) apontaram que as fake news têm potencializado o discurso antivacina nas redes sociais. A pesquisa mostra que 13,5% dos links com maior engajamento são de discursos antivacina.
Os resultados foram obtidos a partir da análise dos links mais compartilhados, curtidos e comentados no Facebook, Twitter Pinterest e Reddit no intervalo de um ano a partir de maio de 2018. Para uma das autoras da investigação, a pesquisadora Luisa Massarani, o dado é preocupante devido à desinformação sobre as vacinas e ao aumento da desconfiança em torno da vacinação na última década, o que tem levado muitas pessoas a deixar de vacinar a si mesmas ou a seus filhos.
As fake news disseminam temores comuns entre a parcela da população que duvida parcial ou totalmente da segurança e da eficácia das vacinas, como efeitos colaterais inexistentes, um mal que pode adoecer pessoas saudáveis, indefesas diante das autoridades e dos cientistas que atuariam em benefício próprio. Além disso, a popularidade desses discursos indica um desconhecimento da população quanto à cesta de vacinas oferecidas pelo SUS.
O discurso antivacina é potencializado pela comunicação do Governo Federal. Depois de Jair Bolsonaro afirmar que “ninguém é obrigado a tomar a vacina”, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) reproduziu em suas redes sociais a declaração e acrescentou que “impor obrigações definitivamente não está nos planos”.
A desinformação e a falta de responsabilidade da comunicação pública do Governo Federal afetam os rumos das políticas públicas na saúde. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (MS), todas as vacinas destinadas a crianças menores de dois anos de idade têm apresentado queda na cobertura. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil aparece como um dos países que mais regrediu nos últimos cinco anos.
Outro dado interessante do estudo, intitulado O debate sobre vacinas em redes sociais: uma análise exploratória dos links com maior engajamento, que também contou com a participação dos pesquisadores Tatiane Leal e Igor Waltz, é que, entre os links mais curtidos, comentados e compartilhados, não foram identificadas páginas de órgãos governamentais ligados às áreas de ciência e tecnologia, páginas de ministérios, agências reguladoras, secretarias municipais e estaduais e entidades de fomento à pesquisa. Entre os conteúdos com maior engajamento, o predomínio foi de informações produzidas por veículos jornalísticos.
Os pesquisadores apontam que, ainda que em menor número dentre os textos analisados, não se pode negligenciar as fake news e os possíveis efeitos da reverberação de discursos antivacina no ambiente on-line e sua influência na promoção de atitudes anticiência.
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