Por Ana Regina Rêgo.
Artigo também disponível em Portal Acesse Piauí e Jornal O Dia.
Ano passado o Digital News Report realizado anualmente pelo Instituto Reuters e Universidade de Oxford detectou que cerca de 82% dos brasileiros estavam preocupados com a desinformação e, portanto, já passaram a duvidar de tudo o que recebem pelas redes sociais e aplicativos de mensagem, mesmo quando vem por alguém em quem confiam. Aumentando assim, de um lado a margem de dúvida e de uma abertura para uma possível criticidade e, por outro, elevando o nível de exigência na recepção da desinformação.
O mercado da desinformação que como já mencionamos neste espaço continua extremamente lucrativo, mesmo com as derrubadas de canais e de vídeos de personagens muito conhecidos da sociedade brasileira, pelo grande número de narrativas com desinformação que produzem. Pois bem, esse mercado tem se aperfeiçoado a cada dia, não só com a construção híbrida de narrativas que são compostas ao mesmo tempo de fato, mentiras, descontextualizações temporais e espaciais, mas também tem incorporado novas tecnologias como a deep fake, muito usada pelos produtores de fake News nos Estados Unidos há alguns anos e que desde 2020 está no Brasil, atuando nos últimos meses com muita força, prometendo mudar novamente os rumos eleitorais em nosso país, a exemplo, do que o mercado da desinformação foi capaz de fazer em 2018, a partir do gabinete do ódio, que posteriormente se instalou no Palácio do Planalto.
Essa nem tão recente aderência da tecnologia deepfake ao escopo da desinformação ( os primeiros registros são de 2017) dificulta cada vez mais, que os cidadãos possam distinguir uma informação de uma desinformação, visto que a deepfake imprime um efeito de real às estratégias de enganação intencional do público e construção intencional da ignorância. Mas o que vem a ser tecnologia deepfake?
Em síntese trata-se de usar Inteligência Artificial para criar vídeos com personagens reais, só que os colocando para falar e fazer coisas que jamais fariam, objetivando desconstruir suas reputações, abalar sua credibilidade e destruir nomes e carreiras.
Nesse sentido é possível prever que o pleito eleitoral brasileiro de 2022 será muito rico em vídeos falsos, além das já comuns fake News. Em verdade, esse processo já está acontecendo há alguns meses.
Diante desse cenário nada promissor, uma pesquisa realizada recentemente pelo Instituto Datafolha e divulgada no último sábado (26) revelou que 60% dos entrevistados acreditam que a desinformação pode interferir no resultado das eleições, o que revela uma compreensão maior do povo brasileiro em relação ao conturbado ambiente digital e comunicacional em que nos vemos mergulhados.
A pesquisa foi realizada em 181 cidades de todo o país, totalizando 2.556 entrevistados acima de 16 anos. Os jovens entre 16 e 24 anos são os mais preocupados com a desinformação e suas consequências para o pleito eleitoral deste ano, entre estes, 88% acreditam que as fake News podem desestabilizar a concorrência política influenciando diretamente na escolha das pessoas. Vale ponderar que os participantes desta faixa etária são os mais presentes nas redes sociais e que gastam mais tempo na biosfera. 98% dos jovens entrevistados possuem conta em pelo menos uma plataforma.
Por outro lado, o grupo de pessoas acima de 60 anos, também demonstra grande preocupação com a desinformação, sendo que 76% apontam que pode haver alguma relação entre a desinformação e o resultado das eleições, mas não acreditam que haverá grande interferência no resultado. Os idosos também são ativos nas redes sociais, destes, 57% possem perfil em alguma das plataformas digitais.
A preocupação com a desinformação parece ativar um senso de defesa e, portanto, 81% dos entrevistados relevaram que as redes sociais da Meta, como Facebook e Instagram, assim como outras, devem excluir todas as postagens que vierem a veicular desinformação sobre qualquer candidato em 2022.
Um dado importante é o apoio de 51% dos entrevistados à suspensão do funcionamento de aplicativos de mensagens em caso de não cumprimento de ordens judiciais que objetivem inibir o mercado da desinformação e a influência deste, no destino do país.
Na contramão da preocupação, 15% dos entrevistados dizem que a desinformação não vai interferir nas escolhas pessoais e coletivas dos brasileiros concernentes à eleição de 2022. Outros 22% afirmam que o impacto não será grande. Já 3% não souberam responder.
Vale ressaltar que no cômputo geral, 84% dos entrevistados possuem conta em alguma plataforma digital. A maioria deles (82%) estão no WhatsApp, enquanto 61% usam o Facebook, 56% estão no Instagram, 30% no TikTok e 20% no Telegram, enquanto 16% estão também no Twitter.
Vale, portanto, ficar cada vez mais atento às mensagens que recebemos. Em caso de dúvida acessar os canais jornalísticos e/ou agências de checagem. Também é possível enviar as dúvidas através do aplicativo @eufiscalizo Fiocruz, e/ou acessar a Rede Nacional de Combate à Desinformação– RNCd Brasil (rncd.org), é bem provável que um dos nossos parceiros possa ter conteúdo que venham a esclarecer suas dúvidas.