BRASIL EM 110º LUGAR NO RANKING MUNDIAL DA LIBERDADE DE IMPRENSA DIVULGADO PELA ONG REPÓRTERES SEM FRONTEIRA

Artigo de Ana Regina Rêgo.

Também publicado em Jornal O Dia e Portal Acesse Piauí.

Esta semana comemoramos o dia da Liberdade de Imprensa e é válido trazer aqui os dados da 20ª edição do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa divulgado em maio pela Ong Repórteres sem Fronteiras. Para composição do ranking os pesquisadores convidados pela RSF analisaram o trabalho dos jornalistas em 180 países e territórios a partir de uma metodologia que observa as condições para o livre exercício do jornalismo tendo como parâmetro cinco esferas, a saber: o contexto político, o quadro jurídico, o contexto econômico, o contexto sociocultural e a segurança. As esferas são analisadas e os países são classificados conforme a situação observada, recebendo, cada país, uma classificação que pode ser:  Boa, Relativamente boa, Problemática, Difícil e Muito grave.

Conforme o relatório sobre o ranking de liberdade de imprensa, “esses indicadores são avaliados com base em um levantamento quantitativo de abusos cometidos contra jornalistas e meios de comunicação, bem como um estudo qualitativo baseado nas respostas de centenas de especialistas em liberdade de imprensa selecionados pela RSF (jornalistas, acadêmicos, defensores de direitos humanos) a 123 perguntas. O questionário foi atualizado para melhor levar em conta algumas questões, principalmente relacionadas à digitalização da mídia”.

A RSF conceitua hoje a liberdade de imprensa como “a possibilidade efetiva dos jornalistas, como indivíduos e como coletivos, selecionarem, produzirem e divulgarem informações de interesse geral, independentemente de interferências políticas, econômicas, jurídicas e sociais, e sem ameaça à sua segurança física e mental”

O Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa é revelador tanto da difícil situação dos jornalistas para desenvolvimento diário do trabalho informativo, como é desvelador de um mundo que se divide cada mais em processos de violência simbólica que levam à violência física, discurso de ódio, polarização política, moral e religiosa e a guerras entre os povos.

Quando se trata da análise que tem como foco os cinco continentes o quadro final é preocupante, pois somente em 3,74% dos países e territórios das Américas a liberdade de imprensa foi considerada Boa, como também em 13,21% dos países e territórios da Europa e Ásia Central. Na África a situação é Relativamente boa em 14,58% dos países e territórios, enquanto que em 46,92% a situação é Problemática, sendo Difícil em 33,33% e Muito grave em 4,17%.  Já no Oriente Médio a situação é Muito grave em 52,63% dos países e territórios.

O lócus observacional privilegiado da RSF permitiu aos pesquisadores envolvidos na investigação e observação da situação do jornalismo em 180 países, perceber que as novas condições humanas na vida virtual ubíqua, assim como, as condições de produção e circulação de informação e fruição através dos processos comunicacionais pelas plataformas digitais, conformam um fenômeno social desinformacional de grandes dimensões. Adotando a nomenclatura de caos informativo, o relatório sobre o ranking aponta a desinformação intencional como uma das grandes causas para a suspeição à instituição jornalística, assim como para a violência simbólica e física contra jornalistas, sobretudo, mulheres, e ainda como causa da proliferação do discurso de ódio e acirramento da polarização política.

Alguns casos são destacados no relatório com a intencionalidade de chamar atenção, como a invasão da Ucrânia  que ocupa o 106º lugar no ranking,  pela Rússia que ocupa na versão de 2022, a 155ª posição no ranking, considerando que  a guerra parece ter sido completamente preparada a partir de uma guerra de propaganda pautada pela desinformação.  Por outro lado, os regimes autocráticos são destaques, como a China que figura na 175ª posição do ranking atual, e é acusada de fechar sua população, isolando-a do mundo. “A lógica do confronto entre os “blocos” se reforça, como entre a Índia (150o) do nacionalista Narendra Modi e o Paquistão (157o). No Oriente Médio, a liberdade de imprensa insuficiente continua a impactar o conflito entre Israel (86o), Palestina (170o) e os países árabes”, enfatiza o relatório.

No que concerne aos países considerados democráticos, o relatório alerta para a instabilidade dos regimes pautada na construção intencional da desinformação, fomentando um debate improdutivo e muitas vezes violento, que por sua vez, acarreta tensões políticas e sociais que são levadas das plataformas digitais para a vida concreta.  Os Estados Unidos, país que ocupa a 42ª posição no ranking de 2022,  vem mantendo um estado de alerta constante, considerando o acirramento dos ânimos e a polarização política, promovida por grupos pró-Trump, como o QAnon, movimento que nasce a partir de uma grande teoria da conspiração, como também, o movimento antivacina que naquele país lucra cerca de 36 milhões de dólares por ano.

Vale destacar que um número recorde de países passou para a situação Muito grave. No total 12 dos 180 países e territórios analisados, encontram-se nessa condição, com destaque para a Rússia, já citada neste texto, que ocupa a 155º no ranking, a Birmânia que ocupa a 176ª posição no ranking e onde o golpe de 2021 tornou o trabalho dos jornalistas impossível, o Turcomenistão no 177º lugar, a Eritreia que ocupa a 179ª e por fim, a Coreia do Norte que é simplesmente o pior lugar para o trabalho dos jornalistas, ocupando a 180ª posição.

Na outra ponta, ou seja, os países que mantém as melhores condições de trabalho para os jornalistas com liberdade, encontramos os países nórdicos, a saber: Noruega (1º) Dinamarca (2º) e Suécia (3º) que também são os primeiros colocados em outro ranking, o das democracias plenas, deixando claro que liberdade de imprensa e atuação do jornalismo não caminha separado do regime democrático. Quanto mais forte a aprimorado este for, melhores serão as condições para o trabalho jornalístico.

Já o Brasil figura no ranking de 2022 em 110º revelando os resultados de um governo em linha autoritária e que caminha para fragmentar a democracia a partir de suas instituições pilares, minando os direitos da população e impedindo o trabalho da imprensa, sem contar com o grande incentivo ao mercado da desinformação e a intencional produção de fake News que planta a suspeição sobre o trabalho jornalístico e sobre os meios de comunicação. O Presidente e o seu staff elegeram, a exemplo de Donald Trump, ex-Presidente dos Estados Unidos, a imprensa como inimiga do governo e não poupam esforços no sentido de atacar e desmoralizar os profissionais da área.

Nos últimos meses, jornalistas têm sido ameaçados, atacados e mortos em vários pontos do país, com maior intensidade e frequência. As mulheres jornalistas, principalmente, as que trabalham com política, tem sido alvo de discurso de ódio, violência e assédio moral e sexual nas redes sociais, como revelamos em outro artigo publicado neste espaço. 

O Ranking completo e o relatório com as análises podem ser acessados no site do RSF: https://rsf.org/pt-br/ranking

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