Publicado originalmente em Instituto Palavra Aberta por Bruno Ferreira. Para acessar, clique aqui.
*Bruno Ferreira, coordenador pedagógico do Instituto Palavra Aberta
O exercício das liberdades, no mundo contemporâneo, além de uma conquista civilizatória que corresponde ao enraizamento de valores democráticos, representa novos desafios à sociedade. Como garantir que os direitos individuais, sobretudo os que envolvem apropriação das tecnologias da informação e da comunicação, não coloquem em risco conquistas coletivas históricas e não danifiquem as estruturas que as mantêm?
A conquista da liberdade é ambivalente. Apesar da luta pela emancipação de povos, reconhecimento da legitimidade e dignidade de grupos sociais e da superação de desigualdades ainda serem pautas recorrentes, é indiscutível que, em termos globais, muito se avançou na conquista de direitos sociais.
A própria liberdade de expressão ampliou-se e ganhou novos contornos no contexto da cultura digital, uma vez que esta possibilita que qualquer cidadão com acesso à internet seja não apenas audiência de conteúdos, mas também produtor e difusor de informações. Mas o que à primeira vista pode ser entendido como uma ampliação do direito à comunicação também representa aumento da violência e de mentiras no ecossistema informacional.
Testemunhamos, nos últimos anos, os danos causados pela sombria proliferação de discursos de ódio, negacionismo e fake news por grupos radicais cuja existência é sabida, mas cujos autores nem sempre são facilmente reconhecidos, por se esconderem por detrás das telas que facilitam sua produção.
Os desafios relacionados ao clima e a necessidade de mais rigor na preservação ambiental, por exemplo, são desmerecidos e negados em conteúdos midiáticos enganosos que se pulverizam nas redes sociais. A dúvida e a confusão instaurada pela má fé desses conteúdos agravam ainda mais esse contexto. Cada novo episódio trágico da crise climática, como a recente enchente no Rio Grande do Sul, traz consigo lamentáveis casos de mensagens enganosas, como informações mentirosas e tentativas de golpes, que induzem ao erro e prejudicam ainda mais as vítimas das negligências socioambientais.
E o rápido avanço da inteligência artificial entorna esse caldo de complexidade, tornando o que já era urgente ainda mais imprescindível, uma vez que essa tecnologia permite a criação de mensagens hiper-realistas, que rompem com o paradigma do ver para crer, o que reforça a desconfiança generalizada na informação. Nesse contexto, a credibilidade de instituições sérias também é afetada e questionada.
Essas inquietações levam a sociedade civil e a academia a discutir e encontrar rumos diante das novas encruzilhadas que se colocam entre avanço tecnológico e preservação e ampliação de direitos e responsabilidades. Um desses espaços é o Encontro Internacional de Educação Midiática, uma iniciativa do Instituto Palavra Aberta que, nesta quinta e sexta-feira (23 e 24), promove a sua segunda edição na sede da Fundação Roberto Marinho, no Rio de Janeiro.
Nomes como Adeline Hulin, chefe da unidade de Alfabetização Midiática e Informacional e Competências Digitais na Sede da UNESCO Paris, e Kyle Pope, cofundador da Covering Climate Now, discutirão os desafios éticos da tecnologia na era da inteligência artificial e suas implicações aos direitos humanos, à democracia e ao meio ambiente, além do impacto da desinformação sobre questões climáticas. O evento, que é gratuito, é transmitido pelo YouTube do Canal Futura. A programação completa pode ser acessada neste link.
Esse evento soma aos esforços de promover uma necessária reflexão sobre os desafios contemporâneos relacionados à intensa midiatização digital da vida cotidiana, contribuindo para construir saberes indispensáveis neste século 21, como nos recorda o intelectual francês Edgar Morin: educar para a complexidade, para a incerteza e para a ética humana.