Agricultura usa dado distorcido do governo Bolsonaro sobre preservação

Publicado originalmente em Fakebook.eco. Para acessar, clique aqui.

Tuíte da pasta afirma que 66% do território nacional está “completamente preservado”, mas só na Amazônia degradação chega a 38%

O Ministério da Agricultura repetiu em sua conta no Twitter no último dia 28 um dado distorcido que era usado durante o governo de Jair Bolsonaro. Segundo afirmou a pasta, numa postagem feita após missão à Alemanha, o Brasil tem 66% do seu território “completamente preservado”.

Essa alegação era feita constantemente pelo governo passado para minimizar a crise ambiental brasileira. Ela tem origem no pesquisador aposentado da Embrapa Territorial Evaristo de Miranda, o “guru” ambiental do bolsonarismo. Miranda é acusado por seus pares na academia de usar estatística criativa para promover falsas controvérsias ambientais.

Segundo o consórcio MapBiomas, o Brasil tem cerca de 66% de seu território coberto por vegetação nativa, mas essa parcela não está totalmente preservada: 11% já queimou ao menos uma vez nas últimas três décadas, e outros 9% foram desmatados pelo menos uma vez no mesmo período. Entre os biomas brasileiros, a Mata Atlântica foi reduzida a 12% de sua extensão original, o Cerrado já perdeu metade de sua cobertura e a Amazônia teve 20% de sua floresta destruída em apenas 50 anos.

O número agregado impressiona por causa da grande extensão do bioma Amazônia, que perdeu 20% de sua cobertura nativa em apenas 50 anos. Mas, mesmo ali, ao olhar para as árvores (em pé), corre-se o risco de não ver a floresta (degradada). No último dia 28, um grande estudo de revisão assinado por mais de três dezenas de pesquisadores e publicado na revista científica Science mostrou que 38% da floresta amazônica tem sinais de degradação por fogo, secas extremas, extração de madeira ou ressecamento de bordas. O dado é da chamada Pan-Amazônia, ou seja, inclui os nove países do bioma, mas torna ainda menor a porção considerada “preservada” do território nacional.

Procurado, o Ministério da Agricultura não havia se manifestado até a publicação deste post.

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