A vacina da AstraZeneca foi suspensa para menores de 60 anos na Itália?

Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Márcio Granez. Para acessar, clique aqui.

Em 13 de junho, a Agência Europeia de Medicamentos recomendou restringir a vacina de Oxford para essa faixa etária, mas destacou que a AstraZeneca tem relação risco-benefício positiva

Circula nas redes sociais vídeo do aplicativo Kwai com a informação de que a Itália teria suspendido o uso da vacina AstraZeneca para as pessoas com menos de 60 anos, devido a reações adversas. A mensagem foi enviada do NUJUC pelo aplicativo Eu Fiscalizo, da Fundação Oswaldo Cruz, para checagem.

No vídeo, que tem 1 minuto de duração, a apresentadora diz que a vacina da AstraZeneca teve seu uso suspenso na Itália para as pessoas com menos de 60 anos, devido a reações adversas, “que estão causando mortes, inclusive”.

A informação sobre a suspensão da AstraZeneca na Itália é parcialmente verdadeira. Nesta entrevista com o ministro da saúde italiano, Roberto Speranza, o jornal La Stampa destaca que a decisão é que a vacina da AstraZeneca será restrita ao público a partir de 60 anos. O ministro segue a orientação geral da EMA (Agência Europeia de Medicamentos, na sigla em português), que recomendou no último dia 13 que a vacina de Oxford seja subministrada preferencialmente para a faixa etária a partir dos 60 anos.

Contudo, a EMA também destacou que os eventos adversos verificados são em número ínfimo, e que a AstraZeneca pode ser utilizada na imunização de outras faixas etárias, dada a relação custo-benefício. Cabe a cada governo do bloco de países europeus avaliar a melhor estratégia a ser adotada.

AstraZeneca: Itália mantém restrições para o imunizante. Imagem: Captura de tela/Kwai

Ocorre que agora há mais opções de vacinas, e o governo italiano, por intermédio de seu ministro da Saúde, inclina-se à possibilidade de vacinar com outras marcas, ouvindo sempre os cientistas, como ele destaca na entrevista.

Contexto – Em março deste ano diversos países europeus suspenderam a vacinação com a AstraZeneca, devido ao relato de reações adversas e mortes por trombose. Na sequência, alguns deles suspenderam a medida, e voltaram a vacinar com o imunizante de Oxford, mas restringindo o seu uso para determinados públicos. No Brasil, a vacina da AstraZeneca foi suspensa para gestantes em maio, após a morte de uma gestante por trombose, óbito que ainda está sendo investigado.

É importante destacar que reações adversas são comuns na subministração de vacinas, como descreve esta matéria aqui, que explica também por que não há motivo para se preocupar. No Reino Unido, por exemplo, computavam-se 19 mortes decorrentes de reações adversas em um total de 20 milhões de pessoas vacinadas até abril com a vacina de Oxford, segundo reportagem da BBC. O vídeo que está circulando no Kwai dá a entender que a AstraZeneca foi suspensa por implicar riscos graves e que agora haverá um problema para quem precisar da segunda dose na Itália.

A afirmação incorre em erro. Primeiro, porque os riscos da AstraZeneca são considerados pequenos pela EMA, avaliando-se a relação custo-benefício, e a suspensão não implica que o imunizante esteja descartado definitivamente pelo governo italiano. Segundo, porque a combinação de imunizantes, opção adotada pela Itália, já começa a ser efetuada em outros países, pois se constatou que pode ser benéfica e potencializar os efeitos da imunização. No Brasil, a combinação de imunizantes ainda não é recomendada pelo Ministério da Saúde, mas o Rio de Janeiro começou a praticá-la no dia 29 de junho, conforme esta matéria da Folha de S.Paulo.

Ouvida pela Folha, a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Institute (EUA), diz que a estratégia é “corretíssima”. “Vários estudos mostram que a intercambialidade das vacinas é segura e eficaz. Inclusive é possível ter uma resposta imune até melhor com AstraZeneca e Pfizer. Vários países já estão adotando”, diz.

Na Itália, rumores de que a vacina da AstraZeneca teria sido suspensa inclusive para as pessoas a partir de 60 anos circularam no jornal italiano La Stampa logo depois do anúncio da EMA. Conforme esta matéria do portal de notícias UOL, o jornal distorceu as palavras do diretor da estratégia de vacinação do órgão regulador europeu, Marco Cavaleri. A EMA nega que a vacina da Oxford será suspensa. A recomendação é que seja aplicada em pessoas a partir dos 60 anos e que, para os que já tomaram a primeira dose com a AstraZeneca, a segunda seja de outro imunizante, como o da Pfizer ou da Moderna.

Nas palavras do próprio Marco Cavaleri à agência de notícias Reuters: “Infelizmente, minhas palavras não foram interpretadas corretamente em uma entrevista recente ao La Stampa”. Para ele, a injeção da AstraZeneca “mantém um perfil de risco-benefício favorável em todas as idades, mas particularmente em idosos acima de 60 anos”. Confira a matéria da Reuters aqui.

Portanto, é verdadeira a notícia de que a Itália restringiu o imunizante à população que tem 60 anos ou mais. Mas não procede o boato de que a AstraZeneca será suspensa também para essa faixa etária. E a posição da Agência Europeia de Medicamentos é que o imunizante mantém relação risco-benefício favorável para todas as idades.

O NUJOC já verificou diversos boatos sobre vacinas, como você pode conferir aqui.

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