Populismo digital: da desconfiança à radicalização

Publicado originalmente em *Desinformante por Ana D’angelo. Para acessar, clique aqui.

“Desinformação e populismo digital” foi o tema do debate que aconteceu hoje (13/3) em São Paulo dentro do evento  “Pública 13 anos: O jornalismo na linha de frente da democracia”. As pesquisadoras Letícia Cesarino (UFSC) e Nina Santos (INCT.DD) falaram sobre o ecossistema digital movimentado pela extrema direita no Brasil e os desafios (e riscos) que ele representa para nossa democracia, com mediação da cofundadora da Agência Pública, Natália Viana.

Para Cesarino, que hoje é assessora especial do Ministério dos Direitos Humanos, o extremismo e o conspiracionismo são dois lados da mesma moeda. A plataformização da esfera pública gerou uma crise de confiança social muito grande, segundo ela, tanto no campo da mídia como as instituições democráticas, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que hoje ocupa o centro dessa desconfiança.

As teorias conspiracionistas mais radicais  – como a pandemia foi uma fraude, códigos-fonte das urnas entregues à Venezuela, entre outras – circulam em aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Instagram, onde as regras são mais flexíveis por conta da criptografia de ponta a ponta.

Já um espectro mais moderado, revelou Cesarino, com base em suas pesquisas, está nas redes mais abertas como Instagram e Facebook e se encarrega de cooptar o cidadão que tem uma `desconfiança light´que, segundo ela, pode ser ativada em momentos mais sensíveis, como as eleições. “Daí esta desconfiança pode se transformar numa crença mais arraigada, é o afeto e a disposição da pessoa que vai potencializar essa transição. Atuar para frear esse caminho da desconfiança para a radicalização é nosso papel porque depois é muito difícil reverter”, afirmou a pesquisadora.

Natália lembrou que 88% das pessoas que estavam no ato de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, no mês passado, acreditavam que as eleições tinham sido fraudadas.

Nina Santos trouxe a reflexão sobre a necessidade de uma base comum informacional para que as pessoas formem suas visões de mundo, um cenário do qual estamos cada vez mais distantes com a polarização política e informativa.

Pesquisa realizada por Santos em 2020 apontou uma fragmentação  das fontes de informação usadas pelas pessoas de tal forma que suas visões de mundo acabam reforçadas e pouco se entrelaçam.

A pesquisadora reforçou ainda que o uso da desinformação pela extrema direita brasileira está cada vez mais habilidoso na percepção de que as fake news vão se sedimentando ao longo do tempo, para além do efeito imediato. “E a estrutura das plataformas digitais acaba gerando dietas informativas que facilitam esse caminho da desconfiança para radicalização”.

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