Publicado originalmente em *Desinformante por Matheus Soares. Para acessar, clique aqui.
Em um contexto de medo generalizado, a confiança individual no emissor e no retransmissor do conteúdo é um elemento central para que as pessoas consumam e acreditem em informações compartilhadas nos aplicativos de mensageria. Essa foi uma das conclusões trazidas pela terceira edição do relatório “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagem: hábitos e percepções”, divulgado pelo InternetLab e Rede Conhecimento Social.
O estudo, coordenado pelas pesquisadoras Ester Borges e Heloísa Massaro, mostrou que os brasileiros estão cada vez mais cientes do fenômeno da desinformação e dos diferentes tipos de fake news que circulam nos ambientes digitais. Mesmo assim, a possibilidade de receber informações falsas, além de possíveis golpes online, ajudaram a construir um ambiente de desconfiança por parte dos usuários.
Heloísa Massaro explicou que, diante desse receio e incerteza, as pessoas foram criando suas próprias formas de verificar a autenticidade das informações, construindo parâmetros de confiança em relação a quem produz e repassa os conteúdos. Esses parâmetros diferem entre grupos, que passam a reconhecer diferentes fontes confiáveis no ambiente digital.
Como apontou Massaro, a construção da confiança depende não só do afeto que o usuário tem por quem repassou o conteúdo, como um familiar ou um amigo, mas também o alinhamento político, ideológico e intelectual. A adequação ou não a esses parâmetros será fundamental para que a pessoa confie mais ou menos na informação que chega até ela.
“[Nesse processo] importa não só quem produziu, mas quem compartilhou a informação. Porque se essa pessoa que compartilhou – seja de comunicador/influenciador ou seja quem encaminhou – for alguém que o usuário tem como referência intelectual e confia muito, muitas vezes ele nem sequer vai checar”, afirmou a pesquisadora.
Dos entrevistados ouvidos pelo estudo, 44% deles afirmaram que acreditam na veracidade da informação quando confiam muito na pessoa que enviou a notícia. Quando é levado em consideração os espectros políticos, as pessoas que se declaram à direita estão mais propensas a acreditar em suas relações de confiança (57%), seguidas pela esquerda (47%) e centro (43%).
Além disso, as concepções de fontes confiáveis estão mais diversas. “Para algumas pessoas, são veículos de jornais tradicionais ou são veículos digitais de jornalismo, enquanto para outras pessoas isso vai ser algum influencer, youtuber ou comunicador que ela confia, ou alguém que ela tenha como referência intelectual”, disse Heloísa.
WhatsApp é o app mais utilizado por brasileiros
Outro ponto levantado pelo relatório é o crescente uso dos aplicativos de mensageria pelos brasileiros. A liderança dos apps está com o WhatsApp, utilizado por 99,3% dos entrevistados. A preferência nacional pelo aplicativo de mensagens da Meta também foi recentemente pontuada pelo presidente da plataforma, Will Cathcart, que disse que o Brasil era o “país do WhatsApp”.
Segundo Heloísa Massaro, o WhatsApp ganha uma importância central para os brasileiros por ser um app centrado na vida cotidiana das pessoas. “É onde as pessoas fazem conexão, mantém contato com os familiares e amigos, usam para comprar coisas”, explicou.
O ambiente de mensagens do Instagram vem em segundo lugar (67%), seguido pelo o Facebook Messenger (57%) e o Telegram (47%). Este último, apesar de estar bem atrás do principal aplicativo, foi o que conseguiu um maior crescimento entre os brasileiros nos últimos dois anos, angariando uma expansão de 16%.
Apesar desse ranking, o relatório também aponta que cada um desses aplicativos possui funções específicas para os usuários distintos, como também apontou recentemente o estudo “Desigualdades Informativas” produzido pelo Aláfia Lab. Isso porque, enquanto o WhatsApp é uma ferramenta de comunicação entre pessoas próximas, o Telegram se consolida como repositório e ambiente de acesso a conteúdos diversos e a pessoas desconhecidas que pensam igual, sendo utilizado principalmente por pessoas que se reconhecem à direita.
O TikTok é presente nas trocas de mensagem em outras plataformas pelo hábito de compartilhamento de prints e facilidades de envio de vídeos. O Instagram segue com relevância na troca de mensagens e consumo de notícias. Já o Discord se configura como ambiente de troca de mensagens e expande seu uso para além dos jogos (trabalho, aula é espaço de debate em comunidade), principalmente para um público jovem, masculino e de classes sociais mais altas.
Metodologia
O estudo do InternetLab e da Rede Conhecimento Social entrevistou 3.121 pessoas nas 5 regiões do Brasil, enquanto o enfoque qualitativo voltou-se para a análise de discussões em plataformas digitais, contando com exame do material coletado em 9 grupos. Em ambos os casos, as pessoas interlocutoras da pesquisa eram maiores de 16 anos, com acesso à internet e usuárias do WhatsApp e/ou Telegram e/ou outros aplicativos de trocas de mensagem. Foram considerados critérios como escolaridade, posicionamento político e porte do município.