Estudo não prova que vacina de RNA altera código genético de humanos, como diz médico em vídeo

Publicado originalmente em Agência Lupa por Ítalo Romany. Para acessar, clique aqui.

Circula nas redes sociais vídeo de um trecho de uma fala do médico Alessandro Loiola com diversas críticas às medidas sanitárias adotadas à época da pandemia da Covid-19. Ele também afirma que um estudo comprovou que a vacina de RNA mensageiro promove a modificação do código genético, e isso seria transmissível para gerações posteriores. É falso.

Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:

[…] Usar máscara não faz o menor sentido, lockdown não faz o menor sentido, isolamento social não faz o menor sentido

– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp

Falso

Em 5 de março de 2021, o CDC publicou uma pesquisa afirmando que o uso de máscara e a restrição de refeições em bares e restaurantes auxiliaram a diminuir a transmissão da Covid-19 nos primeiros 20 dias de implementação, reduzindo as taxas de crescimento de casos e de mortes. A instituição pontuou ainda que essas medidas foram cada vez mais importantes devido ao surgimento de variantes do novo coronavírus em diversos países.

Outro estudo, divulgado em fevereiro de 2021 pelo CDC, afirmava que usar duas máscaras – uma de pano e outra cirúrgica – reduzia em 95% a exposição aos aerossóis, pequenas partículas respiratórias que podem conter o vírus.

Estudos publicados em diversas revistas científicas também mostraram a importância das medidas de lockdown e isolamento social na contenção da pandemia da Covid-19. A partir de projeções matemáticas, pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido concluíram que as políticas de isolamento implementadas em diferentes países do mundo salvaram milhões de vidas. 

Uma das pesquisas, publicada na Nature, feita pelo Imperial College London, no Reino Unido, avaliou o impacto das intervenções chamadas não-farmacêuticas (lockdown, distanciamento, isolamento, entre outros) em 11 países europeus (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Itália, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça) no período entre o início da pandemia e o dia 4 de maio de 2020, quando os bloqueios começaram a ser flexibilizados. Eles calcularam, inicialmente, a taxa estimada de mortes e contaminados para os meses seguintes caso não fossem adotadas medidas de isolamento. Depois, avaliaram o número efetivo de mortos registrado e compararam ao modelo sem restrições. Descobriram que cerca de 3,1 milhões de mortes foram evitadas nos países que adotaram estratégias de distanciamento social.

Outro estudo, realizado na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, analisou como a velocidade do contágio mudou a partir da implementação de restrições locais, regionais e nacionais em seis países: China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Itália e Irã. “Na ausência de ações políticas, estimamos que as infecções precoces exibiam taxas de crescimento exponencial de aproximadamente 38% ao dia”, explicam os autores. A partir dos pacotes de restrições, essas taxas foram caindo de forma gradual nos diferentes países, impedindo ou retardando até 61 milhões de casos confirmados e 495 milhões de infecções.

No Brasil, um estudo realizado por professores do Programa de Economia Regional e Desenvolvimento da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGER-UFRRJ) mostrou que o isolamento social pode ter poupado 118 mil vidas somente em maio de 2020. Outro estudo, publicado em julho de 2020 na revista Science, mostrou que essa medida diminuiu a taxa de transmissão de 3 para 1,6 contaminados por pessoa infectada no país. 


Que os caras pegaram a linhagem de hepatócitos, que são células do fígado, e eles no meio de cultura gotejaram um pouco dessa vacina da Pfizer. E o que eles viram é que naquela linhagem que estava na placa, alguns genes que estavam ligados foram desligados. E alguns genes que estavam desligados foram ligados. Ou seja, modificou a expressão genética daquela linhagem de células. Essas células quando se dividiram, essas alterações estavam na célula do fígado. Então, essa vacina promove a modificação da expressão de genes, de seu código genético, e isso é transmissível para gerações posteriores

– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp

Falso

Um estudo publicado na Current Issues in Molecular Biology (MDPI), em fevereiro de 2022, tinha como objetivo investigar o efeito das vacinas de RNA mensageiro na linha celular de fígado humano Huh-7 in vitro (em laboratório). O objetivo era entender os resultados apresentados em estudos pré-clínicos feitos em camundongos e ratos, que mostraram problemas hepáticos após receberem o imunizante, a exemplo do aumento do fígado.

O estudo apenas demonstrou que o RNA havia se convertido em DNA sob as condições específicas criadas em laboratório, não no corpo humano. Os autores da pesquisa esclareceram em uma sessão de perguntas e respostas da Lund University que “este estudo não investiga se a vacina da Pfizer altera nosso genoma” e que “não há motivo para ninguém mudar sua decisão de tomar a vacina com base neste estudo”. 

“Deve-se considerar que as linhagens celulares diferem das células dos organismos vivos e, portanto, é importante que investigações semelhantes também sejam estudadas em humanos. É importante ter em mente que as células do fígado neste estudo são geneticamente mais instáveis ​​do que as nossas próprias células do fígado”, reforça um dos autores do estudo. 

Em 2022, a edição de abril da revista publicou um comentário sobre o artigo acima. Segundo o texto, tal fenômeno demonstrado in vitro pelo estudo pode não se manifestar clinicamente in vivo (em humanos) e, portanto, não pode ser generalizado para a população saudável. O comentário dos editores aponta ainda outros problemas, a exemplo da dose da vacina usada in vitro, que foi muito maior do que o esperado in vivo. Além disso, o experimento utilizou células de carcinoma hepatocelular cultivadas (Huh-7) — linha de célula imortal composta por células tumorigênicas — que diferem significativamente dos hepatócitos humanos primários (células encontradas no fígado capazes de sintetizar proteínas).

No caso da fórmula das vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna, que usam a tecnologia de RNA mensageiro, é injetado no organismo o código genético do vírus com “instruções” para que as células do corpo produzam a proteína Spike (também conhecida como proteína S) — ela é identificada pelo sistema imunológico como algo estranho e o organismo “aprende”, então, a se defender quando entra em contato com o vírus. Entretanto, como já mostrado pela Lupaas vacinas não conseguem alterar o DNA ou o material genético das pessoas.

O médico Alessandro Loiola não retornou o contato por e-mail até a publicação deste texto.

Checagem similar foi produzida pelo Comprova


Nota: Este conteúdo foi produzido pela Lupa com apoio do Instituto Todos pela Saúde (ITpS)

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