Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.
O andamento das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes nesta segunda-feira (24) despertou uma rápida resposta desinformativa nas redes sociais, apontou o ministro da Justiça Flávio Dino. A desinformação sobre o caso e o uso de robôs em campanhas desinformativas foram alguns dos temas presentes no debate “E AGORA, BRASIL? A regulação das plataformas digitais” que aconteceu nesta manhã, logo após a divulgação das novas informações sobre a ação da Polícia Federal.
“Nesse momento nos trending topics [do Twitter] estão ‘Celso Daniel’ e ‘Adélio’ como uma resposta de desinformação sobre a investigação de hoje sobre a Marielle, o que mostra que é um engendramento porque são coisas que não fazem sentido, um caso não tem nada a ver com o outro, mas a desinformação é massiva e imediata. Nós estamos falando de um evento ocorrido uma hora atrás e a resposta é essa. Justamente visando criar uma cortina de fumaça para acobertar uma investigação séria sobre um grave crime”, disse o ministro durante o debate.
O evento, organizado pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico, também contou com a participação do deputado Orlando Silva, relator do projeto de lei 2630/2020, que visa regular as plataformas digitais no Brasil. O deputado destacou o tipo penal que o PL propõe, que torna crime promover ou financiar divulgação em massa de informações falsas que possam causar dano à integridade física e seja passível de sanção criminal.
“Estar no trending topics, depois de uma ação da Polícia Federal, em um prazo tão rápido, seguramente envolve a utilização de fazendas de celulares, de robôs, ou seja, são quadrilhas que se organizam para desinformar”, aponta o deputado.
Já a professora Marie Santini, diretora do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da UFRJ, pontuou no debate como o caso se tornou um “divisor de águas” para o tema da desinformação no país, destacando a campanha coordenada no dia seguinte ao assassinato para descredibilizar a vítima e “distorcer completamente o debate criando uma cortina de fumaça”.
Reação da extrema direita
O caso foi estudado pelo pesquisador Guilherme Felitti, que analisou a reação da extrema direita ao assassinato e seus desdobramentos. “O estudo analisa como o bolsonarismo no YouTube reage a determinados assuntos políticos sempre com ‘argumentos-escudo’. É o que estamos vendo hoje com ‘Celso Daniel’ no TT com os avanços nas investigações do assassinato de Marielle e Anderson”, disse Felitti em suas redes sociais.
No artigo publicado, o pesquisador identifica, a partir da investigação de vídeos no YouTube, que alguns dos picos dos termos contido na categoria ‘Marielle’ são seguidos, com um pequeno atraso, por picos citando ‘Celso Daniel’. “Essa tentativa de responder se alimenta da recuperação de notícias semelhantes envolvendo seus rivais políticos, a estratégia da ‘acusação espelhada’. Trata-se de uma estratégia para turvar o debate, imputando aos rivais políticos suspeitas idênticas ou parecidas para que não exista um descasamento moral ou ético percebido muito grande entre os dois lados”, conclui Felitti no artigo.