Publicado originalmente em ABPEducom. Para acessar, clique aqui.
“Um programa que desenvolve soluções inovadoras para a educação brasileira”. Foi assim que Silvana Gontijo, associada e colaboradora da ABPEducom, definiu, em entrevista exclusiva para a Associação (disponível na íntegra) o projeto “Esse Rio é Meu”, criado e desenvolvido, inicialmente, na cidade do Rio de Janeiro com o propósito de fazer com que as escolas de ensino municipal estejam envolvidas em prol da recuperação e preservação dos rios ao seu entorno, a partir de ações que incentivam o protagonismo infanto-juvenil e trabalhem a interdisciplinaridade.
Em 2023, as ações do programa foram ampliadas: mais 646 escolas da Prefeitura do Rio se juntarão às outras 127 que participaram no ano passado, totalizando 773 instituições e 89 bacias. A expansão, no entanto, não se limitou somente ao município carioca, porque a cidade de Itabira, em Minas Gerais, também recebeu as atividades do “Esse Rio é Meu”. Para 2024, está previsto que mais quatorze municípios do Estado do Rio de Janeiro, que deságuam na Baía de Guanabara, e outras Unidades Federativas como São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia, deem início às ações do projeto.
O anúncio do desenvolvimento das atividades deste ano e das produções que foram realizadas em 2022 ocorreu em um evento realizado em março no Museu do Amanhã com a presença de estudantes das escolas participantes no ano passado, educadores, autoridades municipais e embaixadores do projeto, dentre eles o ator Thiago Lacerda.
“Esse Rio é Meu” é um projeto idealizado pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) PlanetaPontoCom e desenvolvido pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, pelas Secretarias Municipais de Educação e Meio Ambiente. A OSCIP é presidida pela jornalista, escritora e fundadora do projeto Silvana Gontijo, com quem a ABPEducom conversou sobre todos os detalhes do programa. Confira a entrevista.
ABPEducom: Como podemos definir o projeto ‘Esse Rio é Meu’? No que ele consiste e como ele funciona?
Silvana Gontijo: Ele é uma política pública. Um programa que desenvolve soluções inovadoras para a educação brasileira e deriva de um trabalho bem antigo. Foi um modelo metodológico chamado ‘educação com e por meio de causas’. A gente fez alguns testes com essa iniciativa de associar o currículo com a BNCC [Base Nacional Comum Curricular] a uma pauta de transformação e foi muito impressionante como isso trouxe engajamento. Ajudou as escolas a combater a evasão e a se vender para além dos seus muros. A escola para além dos seus muros tem uma questão que a gente defende muito. O que acontece: nós temos uma revista: a Revistapontocom. Pela revista, fizemos uma pesquisa com 4 mil professores do Brasil perguntando quais eram as causas que motivaram os seus estudantes. A causa ambiental foi disparada em torno de 84%. Desses 84% da causa ambiental, 72% das crianças e jovens definiram que o tema água era o mais importante. Por isso, a gente começou a cogitar associar o fazer pedagógico a uma causa associada à água em um território específico. Então, pensamos em como propor para algumas escolas a recuperação de um rio, em como engajar os estudantes na recuperação de um rio. Como estamos no Rio de Janeiro, escolhemos o Rio Carioca, que é o rio de fundação da cidade e é também um rio pequeno – tem só 8 ou 9 quilômetros de extensão – que nasce e deságua dentro do município do Rio de Janeiro. Nisso, buscamos 40 escolas públicas. Todas as inovações que nos propormos a fazer, a gente testa. Sempre. Se a gente percebe que é passível de ser sistematizado para que se transforme em política pública… Olhamos para essa ideia de cadastrar as 40 escolas. Dessas 40, 27 toparam, durante dois anos, articular seus afazeres pedagógicos com a ideia da recuperação e preservação do Rio Carioca. Todas as escolas estavam situadas na bacia do Rio Carioca. Durante dois anos, trabalhamos juntos e os resultados nos surpreenderam. Do ponto de vista metodológico da escola, a gente trabalhou a questão da interdisciplinaridade, de como olhar para esse fazer pedagógico pensando de forma interdisciplinar e como adquirir o saber através de um problema. Usamos algumas metodologias ativas como a Problem Based Learning [Aprendizado Baseado em Problemas], mas fizemos outras ativas e a gente observou o que estava sendo feito em relação a isso. A partir disso, construímos um processo e uma metodologia durante dois anos letivos propondo que as escolas, em uma primeira etapa, levantem a história do rio, a origem do rio, por onde ele corre… E aí foi uma grande surpresa, porque tinha escola que dizia: “não, aqui não tem nenhum rio não” e eu falava: “não, tem!” e eu levava para dar um passeio… “não, mas aqui é um lixo” e eu dizia: “não, ele está lixo, mas ele é rio. Vamos conversar com os mais velhos e descobrir como é que era o rio no tempo em que eles usavam na condição de rio”. Criamos um outro movimento para trazer dentro das escolas os idosos com os seus testemunhos, com a sua contação de histórias sobre aquele rio e integrar saberes e propondo uma ação. Então essas escolas começaram a fazer esse movimento de trazer os parentes, os amigos e os idosos que as crianças conheciam para esse trabalho de identificação do rio. Então o rio, que não existia, começou a existir a partir das histórias incríveis que contavam sobre ele. A gente trabalha também com um conceito dentro do Direito Ambiental que diz que todos os elementos da natureza são sujeitos de direito. Então, o rio tem direito à sua integridade, assim como os animais, as plantas… e eles começaram a dar voz ao rio e o rio fica indignado com o que as pessoas fazem mal a ele. Nisso começa um trabalho nessa primeira etapa, etapa de diagnóstico. Nós criamos um ambiente digital e, hoje, nós temos uma plataforma para cada município que estamos trabalhando. O importante é que eles começaram a compartilhar esse conhecimento entre as escolas. Algumas escolas privadas promoveram reuniões em período das ações de todas as escolas da bacia e eles começaram a constituir um banco de dados. Depois que eles conheceram a história, os valores históricos e culturais e ambiental que o rio tinha, eles começaram a ver os problemas: poluição, descarte de sólidos , o assoreamento… Eles começaram a ver que aqueles problemas poderiam ser o ponto de articulação para a interdisciplinaridade e quais deles eles poderiam resolver e, então, fazem um diagnóstico dos seus recursos: “o que a gente tem aqui para poder resolver isso?” “Com o que a gente pode contar?” A partir dessa experiência, nós tínhamos um ano e meio de toda parte de desenvolvimento … O rio foi tombado como patrimônio histórico e cultural graças a todo esse levantamento de diferentes valores culturais que ele gerou. A partir dessa experiência gerada com o Rio Carioca, que foi tombado, teve uma parte recuperada e gerou um movimento da sociedade civil que existe até hoje. O mais importante para nós é que produzimos um impacto pedagógico, um engajamento. Com a quantidade de textos lidos de autores que falam sobre esse rio [Rio Carioca]: Machado de Assis e Cecília Meireles, a produção literária, a produção de conteúdo audiovisual, a produção de conteúdo nas redes sociais, achamos que estávamos diante de uma circunstância muito promissora. O que a gente fez? Durante os anos de 2016 e 2017, nós sistematizamos todas essas experiências com uma metodologia e, nesse meio tempo, trabalhamos muito associados à comunicação e temos uma articulação com a mídia em nosso processo de formação, conseguimos uma coisa muito importante que foi dar visibilidade para quem estava operando essa transformação. Tiramos da invisibilidade muitos jovens e crianças que estavam lutando pela recuperação do seu rio e protagonizando. Diante disso fomos para essa sistematização e, enquanto isso, um vereador ficou muito encantado com esse nosso projeto e começou a sair na mídia direto, no Jornal da Manhã da Globo… Fantástico… Era muito auspicioso para as pessoas verem uma ação da sociedade civil organizada, através das escolas, para promover uma mudança tão precisa como patrimônio ambiental e cultural da cidade. Esse vereador se encantou com essa história e ele escreveu um Projeto de Lei e submeteu à aprovação o projeto “Esse Rio é Meu”. Esse Projeto de Lei foi votado, aprovado e sancionado e no ano de 2021 a gente conseguiu que essa lei fosse regulamentada. Conseguimos articular a Secretaria Municipal de Educação e Meio Ambiente. Juntas, as duas secretarias firmaram uma resolução normativa determinando que todas as escolas [públicas] do município trabalhem pela recuperação do rio mais próximo a elas. Diante dessa resolução, a gente pegou todo o trabalho do plano de ação do Programa dando cumprimento a essa lei. Ao mesmo tempo, durante essa mesma pesquisa, onde a gente investigou quais eram as causas que mais inspiravam os alunos e os professores, perguntamos também quais eram as dificuldades que os professores encontravam para avançar com os seus conteúdos curriculares por ano letivo e por componente curricular. Nisso, nós consolidamos os “nós de aprendizagem”. Os nós de aprendizagem são as dificuldades no momento da relação professor/aluno no momento em que o aluno acha que é um mau professor e o professor acha que o aluno é um mau aluno. Nós identificamos todos esses pontos no currículo. Foi uma loucura porque o que a gente fez foi pegar todos os problemas dos rios e depois todos os nós de ensino e aprendizagem, por ano letivo e por componente curricular, e produzimos instrumentos para desatar esses nós. Então, o Esse Rio é Meu ele não chega na escola com a proposta de ser mais uma tarefa a gente chega na escola com uma “cenoura”: “está vendo aquele problema que você tem na alfabetização? Olha aqui um instrumento para você resolver!” Uma das razões do sucesso do Esse Rio é Meu que a gente, de fato, traz a solução para um problema e isso muda tudo, porque deixa de ser mais uma tarefa e passa a ser uma solução para os problemas que ele enfrenta e outro desafio, que foi grande para nós, foi que as redes públicas dificilmente têm agenda para que todos os professores se reúnam para uma atividade interdisciplinar. Então, hoje nós estamos impactando as redes também e mostrando para eles que é imprescindível esse tempo de planejarem de uma forma interdisciplinar. Quando foi no final de 2018, a gente levou para a prefeitura do Rio e conseguimos que o Programa fosse adotado como um piloto da Prefeitura, inicialmente com dezenove escolas. Foi um outro sucesso. Em 2020, quando veio a pandemia, nós tivemos que mudar todo o conteúdo: construímos uma plataforma digital interativa. Nessa plataforma, tem um mapa interativo onde todas as escolas do município, são 1.573 escolas, a maior rede pública municipal da América Latina, maior que a de São Paulo, e todos os rios do município do Rio de Janeiro são 267 rios e córregos. E o que acontece: a escola clica nela mesma e ela descobre quais são as escolas daquela mesma bacia e qual é o rio mais próximo que ela vai trabalhar e essa plataforma vai sendo alimentada. Nós saímos de dezenove escolas para 127. Neste ano [2023] estamos com 773. Nós saímos de sete rios para 18 rios, no ano passado, e esse ano para 85 rios. Em 2024, nós teremos 1.545 escolas e 267 rios e córregos. Ao mesmo tempo que estamos com o Rio de Janeiro, nós começamos a fechar com outros municípios. Temos quinze ou dezesseis municípios com a mesma lei a construir. Começamos este ano com Itabira, em Minas Gerais, fora do Rio. Dentro do Rio de Janeiro, temos mais quatorze municípios no Estado do Rio, que deságuam na Baía de Guanabara, que irão entrar no ano que vem; mais quatro em Pernambuco; quatro em São Paulo; Rio Grande do Sul e Bahia. Estamos em uma expansão gigantesca, porque diante de um desafio muito grande para que a gente cresça também e forma sustentável. Esse é o momento que estamos vivendo agora: de organizar esse crescimento.
ABPEducom: Quais são as principais ações desenvolvidas no Projeto? Como elas são praticadas e vivenciadas pelos estudantes e educadores para alcançar os propósitos?
S.G: As principais ações são divididas em quatro etapas do projeto: a etapa do diagnóstico, do planejamento, implementação e, a última etapa, a culminância. As ações variam e uma das coisas que a gente defende muito é não ser uma ação de cima para baixo. Chegamos nos lugares e as escolas criam com a gente a sua forma de preparar. Cada escola trabalha dentro de uma circunstância específica. Então, o que acontece? Na ação de diagnóstico, por exemplo, é uma ação de mapeamento, de entender o rio e de conhecer a sua história, a história daquele território. Depois dessa ação, eles registram tudo isso e os meninos são levados a pensar e a refletir sobre o seu papel diante dessa iniciativa de recuperar o seu rio. Isso é uma coisa importante, porque eles começam a questionar uma série de valores. Como eles vão conseguir mudar aquela realidade? Como abordar aquele órgão público responsável pela limpeza do rio? Na plataforma, a gente oferece para o professor uma lista simples: “a quem procurar em caso de: descarte de sólidos, pedido de replantio de uma árvore…” Temos, também, uma parceria estratégica aqui no Rio de Janeiro. Quem nos apoia, quem é o nosso patrocinador, é uma empresa chamada “Águas do Rio”, uma empresa que ganhou a licitação para o saneamento da maior parte do Rio de Janeiro. Eles são parceiros fundamentais, porque, muitas vezes, as escolas querem ações que são eles os responsáveis pela realização. Esse canal da empresa fornecedora de saneamento de água para a cidade e as soluções necessárias decididas pelas escolas, estão inteiramente ligados. Tem umas ações que são muito interessantes. Os meninos começam a aprender como é que se limpa um rio, como se despolui um rio. Eles levam para conhecer a ação de mergulhadores que entram nas tubulações para identificar os pontos de esgoto, rastreamento de câmeras que entram nas tubulações menores. São experiências de análise da qualidade da água, mas o mais importante para nós é que esses meninos se sintam realmente os grandes transformadores de sua realidade. Mais do que um exercício de cidadania, é assumir a autoria. Nós jogamos muita luz sobre eles. Várias pessoas vêm pedir para me entrevistar e eu falo “ok, eu dou a entrevista, mas vão ver o que eles estão fazendo”. Como a gente capilariza isso no município do Rio de Janeiro especificamente? A Secretaria de Educação é dividida em onze regiões, que se chamam CRE (Coordenação Regional de Educação). Cada uma das onze CREs têm dois articuladores designados para acompanhar o Programa. Eles se encontram mensalmente, contam todas as coisas que eles estão fazendo, que eles estão conseguindo e a gente interage para ajudá-los e apoiá-los e eles vão a todas as escolas que estimulam, mostram e compartilham as experiências. Uma coisa muito importante é esse compartilhamento de experiências, é inspiradora. Muita gente pergunta: “como é que eu começo?” E eles respondem: “olha aqui como as pessoas estão começando de diferentes maneiras”. Nós não queremos ser incisivos ao ponto de dizer “para fazer tem que ser assim”, mas queremos que a escola descubra. Nós a ajudamos a pensar a sua forma de trabalhar. Isso é muito importante também. É um trabalho muito colaborativo e tem todo um exercício de colaboração que permeia as ações dos estudantes, as ações entre os professores e as ações do conjunto da comunidade escolar. Outra coisa muito importante: toda escola deve ser formada para liderar uma ação no território. Os articuladores e os professores são formados para cada etapa do programa e, além disso, a gente disponibiliza um canal para tirar dúvidas, onde eles podem falar com os nossos formadores. Temos um suporte da plataforma que nos orienta e tem um mapa que eles recebem; uma série de vídeo aulas e uma série de vídeos narrando experiências diferentes, de diferentes pontos da cidade, em diferentes contextos. Os resultados também são bem impressionantes: atividades feitas por essas escolas.
ABPEducom: Dentro dessas atividades, é incentivada a adoção de práticas educomunicativas?
S.G: Aqui no Rio de Janeiro as pessoas não chamam de Educomunicação. Chamam de Midiaeducação. Aqui existe esse curso de Midiaeducação na própria MultiRio [Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro] e essas práticas educomunicativas, que nós chamamos de midiaeducativas, são o tempo inteiro incentivadas. É a base do processo. Todas as nossas ações baseadas na informação, na produção de conteúdo, análise crítica dos meios, análise das diferentes linguagens . O tempo todo é trabalhado com os professores e com os estudantes.
ABPEducom: Então, podemos afirmar que o Projeto ‘Esse Rio é Meu’ é e está fundamentado em práticas educomunicativas?
S.G: Pode. Aqui [no Rio de Janeiro] o termo [Midiaeducação] chegou em 1998 e se consolidou desse jeito.
ABPEducom: E você acha que a adoção, do Projeto ter bases da Educomunicação, da Midiaeducação, contribuiu para o sucesso do Projeto no ano de 2022? Por quê?
S.G: Acho sim, porque a comunicação é tudo. É um tripé: escola, meio ambiente e educação. O olhar sobre tudo o que é feito é um olhar de construir narrativas, de construir fenômenos de comunicação para inspirar, motivar e registrá-lo. A gente trabalha com essas competências o tempo inteiro: de como se comunicar, se expressar para que as pessoas se apropriem daquele saber. Acho que isso é decisivo para o sucesso do Programa. Mais do que importante: é decisivo.
ABPEducom: Você imaginava que esse Projeto, já que nesse ano e em 2024, como você adiantou, o número de escolas será ampliado, fosse crescer tanto?
S.G: Nenhum de nós imaginava. Quem trabalha com inovação sabe que toda inovação proposta existe um contingente de resistência. Isso é natural. A inovação geralmente tira as pessoas da sua zona de conforto, propõe mudança. A gente achava que fosse ter muito mais resistência, porque sempre tem. Ao mesmo tempo, as escolas foram contaminadas por essa vontade. A comunicação foi muito importante para tudo isso o tempo inteiro e nenhum de nós poderia imaginar que chegaríamos nesse volume de produção nas escolas. Iremos entregar quatro rios completamente limpos. Isso é um feito. Um grande feito: rio dos Macacos, Rio Carioca…Isso não é trivial. O mais desafiador, principalmente com o Rio Carioca, foi instalar essa mudança no território como um todo. A escola começa a perceber o rio. Você não pode atacá-lo, você não pode sujá-lo. A gente percebe essas mudanças quando começamos a registrar atitudes como essa. São muitas. Estamos falando de uma transformação de mentalidade e de atitude e, com isso, eu fico muito feliz.
ABPEducom: Na sua entrevista para a Planeta Ponto Com, você fala sobre o Ciclo de Formação. Nesse Ciclo de Formação, que você também comentou anteriormente, quem participa?
S.G: A gente faz a formação. Temos que fazer várias sessões de formação com os professores. Os alunos não. O trabalho com eles é realizado dentro da escola. O Ciclo de Formação de professores consiste na formação para o planejamento pedagógico interdisciplinar. Depois, tem uma formação para a primeira etapa do processo [diagnóstico]; para a segunda etapa [planejamento]; no segundo bimestre, a implementação e no quarto bimestre, a coleta de dados e apresentação.
ABPEducom: Falando um pouco sobre o evento do dia 17 de março, quais foram os compromissos firmados em torno do Projeto?
S.G: Do ponto de vista do Planetapontocom, foi dar sequência na questão de crescer de forma sustentável e aí apontamos para mais quatro ações para esse ano. A primeira ação a gente nomeia como “O mar começa aqui”. Nela, as escolas são convidadas a pintar nas grelhas de água pluvial, que têm nas ruas, motivos para as pessoas não jogarem lixo na rua, porque o mar começa ali. Nós incorporamos ao “Mar começa aqui” mais uma frase: “O mar começa aqui” e “O mar começa em ti”. Qualquer papel de bala que a gente jogar vai parar no mar. A gente, que faz parte,da Década do Oceano da ONU, sabe que 80% do lixo do mar vem dos rios. Isso é uma tragédia descomunal. Esse é o primeiro programa dos quatro. Depois, temos um outro projeto que se chama Rios Literários. Ele nasce da identificação de uma questão muito importante. Todos os rios que estamos trabalhando têm grandes autores que escreveram sobre ele. Todos. Sem exceção. Autor, jornalista… No Rio Carioca, que foi o primeiro, identificamos Machado de Assis, Cecília Meireles e grandes nomes da literatura. Então, o que a gente fez? Estamos construindo um itinerário de turismo cultural para que as pessoas percorrem o rio aprendendo, através de QR Codes, trechos das obras desses grandes autores e todo o contexto que as obras foram escritas. Esse é outro Programa que resulta do Esse Rio é Meu. Depois tem mais um programa de empreendedorismo sustentável, que é quando você recupera a parte visível do rio, ela deixa de ser um lugar onde você vira as costas para ser uma área de convivência e aí, as comunidades mais carentes, pedem para que aquele lugar se transforme em ponto de venda de produtos sem gerar um novo impacto negativo para o rio. Isso envolve você trabalhar com plantio orgânico, de alimentos saudáveis. Tem quatro ou cinco formações que estamos propondo para jovens carentes e para mães solo. A última ação que estamos começando a desenvolver, é uma ação de comunicação nos territórios em que há um processo, um fenômeno de comunicação específica para cada território. Estamos fazendo um mapeamento. Por exemplo, as escolas descobrem qual é a forma de comunicação mais efetiva daquele território. Por que isso? Porque há uma referência local, uma validação, que confere seriedade às mensagens que estão ali. Então, estamos propondo que as escolas estudem formas de comunicação para trabalhar incorporando as peculiaridades de seu território as mensagens que elas querem passar.
ABPEducom: O que significou esse evento no Museu do Amanhã? O lugar parece bem sugestivo para as intenções e propósitos do Projeto…
S.G: O Museu é o nosso parceiro. Eles adoram o que a gente está fazendo. Apoiam, não cobram da gente (risos) querem que a gente mostre lá. É um privilégio. Todos são torcedores. Porque, o que estamos fazendo, impacta justamente nas preocupações deles, que é a Baía de Guanabara. O Museu fica muito feliz e dá apoio a todas as nossas iniciativas e sem contar que é uma visão de futuro. Trabalhamos com o Museu do Amanhã uma visão de futuro desse ecossistema que é a Baía de Guanabara e para os oceanos, de modo geral. Eles, tanto quanto nós, fazem parte do Pacto Global da ONU e estão presentes em todas essas iniciativas. Eu acho que o evento, além do fato de ser no Museu do Amanhã e ter todas essas forças que convergem, ele também foi uma oportunidade de pararmos para pensar, medir e refletir o que estávamos fazendo. Por que a gente vai fazendo e de repente nos damos conta das milhares de ações que realizamos na cidade com resultados incríveis. É um evento que tem que ser da sociedade carioca, por isso é importante mostrar. Teremos outro em agosto. Sempre prestar contas para a sociedade daquilo que fizemos e mostrar o que a gente pretende fazer. Acho que é esse o significado. Ver aquele auditório lotado, em dia de semana, foi muito legal.
ABPEducom: O que tem planejado para esse ano e para os próximos?
S.G: As quatro ações que eu falei anteriormente e o crescimento do programa como um todo. Estamos falando de mais quatorze municípios que deságuam na Baía de Guanabara e de olhar para todas essas perspectivas sempre muito consciente de quanto mais sustentável, melhor vai ser. Trabalhamos também a questão de equipes e isso é crucial. Tem um outro guarda-chuva que se chama “Cidades, salvem os seus rios”. É um apelo, é um convite para que as cidades promovam ações desse tipo.