Testes de saliva e swab têm desempenho semelhante para detecção do vírus Sars-CoV-2

Publicado originalmente em Ciência UFPR por João Cubas. Para acessar, clique aqui.

Estudo indicou que o método que analisa a saliva pode detectar o vírus causador da covid-19 tão bem quanto o teste padrão que utiliza haste flexível, conhecida como swab, para colher material no fundo da garganta

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Paraná (UFPR) comparou três métodos de coleta para detecção do vírus Sars-CoV-2: swab nasofaríngeo, saliva e bochecho.

Os resultados indicam que os dois primeiros possuem precisão semelhante, o que credenciou a utilização de saliva como o método aplicado nas testagens na UFPR desde 2020. Até o momento, cerca de 40 mil amostras já foram analisadas pelos laboratórios do Departamento de Genética da UFPR, em uma ação coordenada pelo Setor de Ciências Biológicas, em parceria com o Centro de Atenção à Saúde (Casa 3) e do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Saúde (Nepes).

A nota técnica foi publicada no início de março na revista Diagnostic Microbiology and Infectious Disease e fez parte da dissertação de mestrado do pesquisador Gustavo Genelhoud, do programa de pós-graduação em Genética, sob orientação da professora Patrícia Savio de Araújo Souza.

A docente explica que a motivação para a pesquisa surgiu com a demanda pelos exames, no início da pandemia. Havia uma pressão na cadeia produtiva e baixa disponibilidade de swabs de rayon, condição para a coleta das amostras para a realização do teste de RT-PCR, considerado padrão-ouro para o diagnóstico de Covid-19. Além disso, buscavam-se alternativas de menor custo e que pudessem ser feitos pelo próprio paciente, sem a necessidade de um profissional treinado.

Parâmetros avaliados alcançaram eficácia próxima a do teste padrão

Foram analisadas 229 amostras de trabalhadores do Complexo Hospital de Clínicas da UFPR, entre agosto e novembro de 2020. Os voluntários se submeteram às três testagens em um único momento, para comparação dos métodos.

Dentre as amostras, 41 foram positivadas para Sars-CoV-2 por swab, 40 pela saliva e 36 por gargarejo.

As amostras com resultados positivos passaram por três tipos de análise:

  1. Especificidade – para comprovar que os resultados positivos se traduzem na condição esperada, ou seja, estar com Covid-19. Neste caso, os três métodos tiveram mais de 95% de especificidade, o que mostra a baixa incidência de falsos negativos.
  2. Sensibilidade – para indicar que, mesmo em baixas concentrações, é possível detectar a presença do vírus. Ou seja, se o teste deu positivo para o swab (em 100% dos casos), também deveria ser positivo para os outros dois métodos. De acordo com os resultados, a sensibilidade chegou a 87,8% dos testes de saliva e 80,5% dos de lavado bucal.
  3. Acurácia – considera os dois parâmetros anteriores associados, para gerar um percentual de concordância com o teste padrão-ouro. Em comparação com o swab, houve igualdade de diagnósticos em 96,9% das amostras de saliva e em 95,6% das amostras de gargarejo.

Assim, a saliva apresentou maior sensibilidade e acurácia do que as amostras de bochecho, credenciando-se como um método de eficácia semelhante ao swab. O diferencial do estudo da UFPR é que os testes envolveram amostras pareadas (colhidas em sequência), o que não ocorreu em muitos estudos já publicados.

O professor Railson Henneberg, chefe Divisão de Apoio Diagnóstico e Terapêutico do Complexo Hospital de Clínicas (CHC-UFPR), foi um dos voluntários que se submeteram aos testes. Para ele, o fato de o exame de saliva ser indolor é uma vantagem em relação aos outros métodos. “A coleta do swab traz uma ansiedade muito grande nas pessoas pelos relatos que dói, é agressivo, etc. Quando fiz a coleta da saliva percebi as vantagens por ser indolor, o que aumenta a adesão à realização do teste”, comenta.

O surgimento de novas mutações do Sars-CoV-2 e de novos vírus que podem afetar o trato respiratório indica a necessidade de rastreio contínuo dos casos, como enfatiza a professora Patrícia: “Infelizmente estamos à mercê de novos vírus. Por isso imagino que o mesmo princípio possa ser aplicado no futuro”, indica.

Além de Gustavo e Patrícia, participaram do estudo os pesquisadores Douglas Adamoski, Regiane Nogueira Spalanzani, Lucas Bochnia-Bueno, Jaqueline Carvalho de Oliveira, Daniela Fiori Gradia, Ana Cláudia Bonatto, Roseli Wassem, Sonia Mara Raboni e Meri Bordignon Nogueira.

Edição: Rodrigo Choinski

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