Publicado originalmente em Agência Lupa por Evelyn Fagundes. Para acessar, clique aqui.
Circula nas redes sociais um vídeo em que o apresentador César Tralli afirma que o Supremo Tribunal Federal (STF) intimou o WhatsApp a indenizar em R$ 30 mil todos os usuários da rede, pois eles tiveram informações vazadas. É falso. O vídeo foi criado por deepfake.
Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Pessoal, só para lembrar vocês que em menos de 48 horas se encerra o prazo para solicitar o resgate da indenização de até R$ 30 mil pelo vazamento de dados do WhatsApp. Foram vazados dados como conversas, fotos e documentos de mais de 200 milhões de brasileiros. E, por conta desse grande vazamento, o WhatsApp foi obrigado pelo STF a indenizar todos os atingidos. Para consultar se você tem direito, o link está logo abaixo em ‘saiba mais’”
– Transcrição de trecho do vídeo que circula nas redes sociais
Falso
Não houve nenhum vazamento de dados do WhatsApp. O vídeo é falso e foi criado a partir de Inteligência Artificial (IA) com a técnica de deepfake, que permite manipular uma gravação movendo os lábios de uma pessoa de acordo com um áudio enganoso, diferente da versão original. O apresentador César Tralli, que aparece em um dos vídeos desse golpe, nunca fez a filmagem falando sobre o suposto vazamento de dados.
Para criar a gravação manipulada de Tralli, os golpistas alteraram um vídeo que o apresentador publicou em sua conta no Instagram no dia 12 de agosto deste ano. Na filmagem original, ele falou sobre o acidente aéreo que vitimou 62 pessoas em Vinhedo, no interior de São Paulo, no dia 9 daquele mês. O apresentador, então, deixou uma mensagem de apoio para os familiares das vítimas e lembrou o falecimento de sua mãe, que também ocorreu em uma queda de avião em 2022. Na imprensa, veículos como UOL e Terra repercutiram o depoimento de Tralli.
Além disso, a Lupa contatou a Meta, empresa responsável pelo WhatsApp e ela negou que o vídeo seja verdadeiro, afirmando que não houve qualquer tipo de vazamento de informações que tenha comprometido os usuários da plataforma. “O vídeo é falso”, disse a empresa, em nota.
“É importante reforçar que o WhatsApp conta com criptografia de ponta a ponta por padrão, ou seja, tudo o que os usuários compartilham com seus amigos e familiares fica só entre eles. Isto significa que essas conversas são privadas, e que o WhatsApp não pode ler, ouvir ou ver os conteúdos trocados pelos usuários dentro do aplicativo”, pontuou a Meta, no comunicado enviado à Lupa.
O vídeo falso orienta que o usuário acesse um site para fazer o saque dos valores da indenização. No entanto, conforme é possível observar na publicação, o link que acompanha a postagem não redireciona para nenhum portal relativo ao assunto, mas para um site de notícias. A Lupa já verificou, em outras publicações que continham fraudes, que essa é uma tática de golpistas: eles inserem links que levam para sites de golpe – no entanto, posteriormente, ao reparar que existem chances do post ser denunciado, mudam o site que acompanha a publicação.
Em muitas das vezes, os golpistas alteram o link apresentado no post como uma forma de despistar. A alteração da URL é feita para que a publicação permaneça nas redes e não seja apagada. Depois de um tempo, é comum que os golpistas retornem e insiram na postagem o site que realmente leva para o golpe que, em geral, se trata de um phishing, isto é, de uma tentativa de roubar dados se passando por fontes oficiais.
Além disso, é comum que esses portais falsos peçam dinheiro para fazer a suposta transferência dos valores prometidos. É alegado que essa é uma “taxa” necessária e obrigatória para o processo. Nesses casos, a vítima que faz o pagamento, além de correr riscos ao compartilhar seus dados pessoais em sites inseguros, também perde dinheiro.
No post desinformativo analisado há comentários que mencionam essa exigência. Um usuário escreveu: “É golpe. Paguei e não recebi”. Em resposta, outra pessoa afirma: “É golpe, sim. Aconteceu comigo também”. Outro usuário alerta: “Se fosse verdade, não teríamos que pagar nada, e sim receber”.
Para saber mais sobre outros tipos de golpes, acesse Será que é Golpe?, novo site da Lupa, em parceria com o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), que traz mais de 120 conteúdos verificados sobre diferentes tipos de golpes digitais, além de orientações sobre como proceder caso o golpe já tenha ocorrido.