WhatsApp foi essencial para governo Bolsonaro espalhar desinformação, aponta estudo

Publicado originalmente em *Desinformante por Matheus Soares. Para acessar, clique aqui.

Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o WhatsApp teve papel fundamental em espalhar desinformação para grupos hiperpolarizados e antipetistas. Essa foi uma das conclusões levantadas por pesquisadores da Universidade do Texas, incluindo o brasileiro João Vicente Ozawa, em artigo que buscou mostrar como a plataforma de mensageria foi utilizada pelos aliados do político de extrema-direita brasileiro nos últimos anos.

Publicado em março, o estudo “Como a desinformação no WhatsApp passou de arma de campanha para propaganda governamental no Brasil” mostra que o aplicativo serviu de canal de desinformação bolsonarista, primeiro, nas eleições de 2018, virando, em seguida, ferramenta de propaganda computacional coordenada por representantes governamentais.

De acordo com os pesquisadores, um dos principais promotores de campanhas de desinformação a favor de Bolsonaro foi o Gabinete do Ódio (GDO), como ficou conhecido o grupo de assessores próximos a Bolsonaro que trabalhavam dentro do Palácio do Planalto.

“O gabinete do ódio se envolveu em propaganda computacional financiada pelo governo, empregando uma combinação de pessoas e bots para moldar o discurso – não apenas no Whatsapp, mas também no Twitter, Facebook, Youtube e blogs, para aumentar artificialmente o apoio ao governo e atingir oponentes políticos”, trouxe o estudo.

Ao longo do governo do ex-presidente, foram incentivadas narrativas no aplicativo de mensagens que buscavam fortalecer as negações de Bolsonaro sobre a pandemia de Covid-19, espalhando informações falsas sobre riscos, sintomas, curas e prevenções; além de ataques a figuras públicas que apoiavam o isolamento social durante a pandemia. Recentemente, pesquisadores da UFRJ também identificaram a volta da desinformação vacinal com o início da campanha da vacina bivalente contra o coronavírus.

Evidências sugerem também que o GDO espalhava sistematicamente desinformação para desacreditar veículos jornalísticos e jornalistas que relatavam temas sensíveis durante o governo, como esquemas de corrupção e desmatamento da floresta amazônica.

Grupos radicais são os principais alvos da desinformação

Jornalistas e pesquisadores ouvidos pelo estudo mostram algumas dinâmicas que configuraram a desinformação propagada nos grupos de WhatsApp. Composto por integrantes radicais e hiperpolarizados “dispostos a tudo”, os coletivos acabaram repercutindo suas próprias verdades, desconsiderando informações factuais.

Esse público é diverso, sendo constituído por evangélicos, liberais e militares, mas que possuem um “inimigo” em comum: o Partido dos Trabalhadores. Apesar do elemento agregador, cada um desses grupos costuma se juntar separadamente conforme interesses específicos.

“O WhatsApp permitiu a disseminação de desinformação atendendo a cada um desses públicos separados individualmente”, concluíram os pesquisadores. 

Além disso, uma das principais formas de engajamento é o uso de memes e de humor político, elemento importante para a viralização de conteúdos dentro do aplicativo. Já que, nas palavras dos autores, “as funcionalidades da plataforma do WhatsApp facilitam ainda mais a circulação de memes, que são especialmente atraentes para os eleitores mais jovens de uma ampla gama de origens socioeconômicas”.

Durante as eleições de 2022, pesquisadores também identificaram desinformação sendo espalhada no WhatsApp. No segundo turno, um estudo do NetLab considerou o aplicativo como uma das principais fontes de narrativas e informações falsas.

Metodologia da pesquisa

O método utilizado pela pesquisa consistiu em entrevistas com 10 pessoas que os autores consideraram importantes para a compreensão do fenômeno da desinformação no Brasil. Dentre eles, estavam seis pesquisadores, dois checadores de fatos, um jornalista investigativo e uma vítima de assédio online no WhatsApp. Alguns dos pesquisadores e jornalistas recrutados também foram alvo de campanhas de assédio, com exposição de informações pessoais e ameaças de morte.

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