VIOLÊNCIA DE GÊNERO CONTRA JORNALISTAS Pesquisa realizada pela ABRAJI com o apoio da UNESCO

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo-ABRAJI divulgou recentemente uma pesquisa que tem como foco a violência de gênero contra jornalistas no ano de 2021 e que foi realizada com apoio do Global Media Defence Fund, da UNESCO. De acordo com o estudo, 127 jornalistas e meios de comunicação foram alvos de 119 casos de violência de gênero, dos quais mulheres jornalistas  representam 91,3% das vítimas.

Vale ponderar que desde 2013 que a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo-ABRAJI monitora os ataques a jornalistas no Brasil, e desde 2019 integra a rede latino-americana Voces del SurOs monitoramentos anuais têm revelado as dificuldades de ser comunicador(a) no Brasil, descrevendo um cenário de agressões, discursos estigmatizantes, processos judiciais e tentativas de limitar a liberdade de expressão na internet. Nos últimos anos, os dados mostram que as agressões contra a imprensa e os jornalistas têm crescido. O contexto de pandemia, desinformação e as constantes investidas dos governantes contra a credibilidade jornalística criaram um ambiente hostil a comunicadores(as) do país, diz o estudo.

O relatório de 2021 oferece um panorama da violência contra mulheres jornalistas e ataques de gênero a comunicadoras(es) no Brasil. Os dados incluem registros de ataques públicos contra mulheres, cis e transgênero, meios de comunicação voltados para pautas feministas e agressões com características sexistas, homofóbicas, transfóbicas ou misóginas, classificadas como “ataques de gênero” e que podem vitimar homens e mulheres (cis ou trans) e pessoas não-binárias. Independentemente da vítima, o principal atributo de um ataque de gênero é o fato de que o autor da agressão se apoia na sexualidade ou na identidade de gênero para atacar seu alvo (ABRAJI, 2021).

O relatório “Violência de gênero contra jornalistas” revela que, em 2021, profissionais da imprensa e veículos foram alvos de 45 ataques direcionados, utilizando gênero, sexualidade ou orientação sexual como argumentos para a agressão. Discursos estigmatizantes”, narrativas que utilizam agressões verbais com o intuito de hostilizar e descredibilizar jornalistas, representam 75% dos episódios, foram localizados na pequisa. 

A pesquisa realizou monitoramento das redes sociais e identificou 57 ataques de usuários às jornalistas e revelou ainda que 59,9% dos casos de discursos estigmatizantes foram iniciados por publicações de autoridades de Estado e outras figuras proeminentes no campo político brasileiro. Nesses casos, as jornalistas vítimas de violência,  em cerca de 60% das agressões, trabalhava com temáticas relacionadas a política.

O perfil das vítimas de violência no jornalismo também foi identificado durante a pesquisa. A maioria dos casos de violência foram direcionadas a repórteres e analistas (85,7%) de veículos jornalísticos. Os profissionais mais atacados atuam na televisão (47%); jornais impressos (20,1%) e jornais  digitais (14,3%). As regiões sudeste, nordeste e centro-oeste lideram as agressões, sendo que o região Sudeste registrou  o maior  número de ocorrências, com 66,4% dos ataques, seguida pelo Nordeste (12,6%) e Centro-Oeste (11,7%).

O relatório também destaca que 71,4% dos insultos tiveram origem ou foram repercutidos em ambientes virtuais, como as redes sociais. Os principais agressores eram homens, correspondendo a 95% dos abusos dentro e fora da internet. 

A origem dos agressores e perfis foram identificadas. Procurou-se localizar se o ataque foi feito por um indivíduo ou grupo, o número de agressores, seus nomes e gênero. Em seguida, aplicaram-se aos autores dos ataques as classificações: estatal, paraestatal, não estatal, grupos às margens da lei e não identificado. Após essa triagem, os autores dos ataques foram classificados em outros 17 tipos detalhados, que permitiram identificar quem são e que posições ocupam na sociedade, a saber: _  Estatais: Autoridades do governo e funcionários vinculados aos poderes do Estado em níveis local e nacional. Também inclui empresas estatais. Parestatais: Indivíduos, grupos, organizações ou agências que, apesar de não pertencerem à administração pública, colaboram com o Estado em atos econômicos, sociais, políticos ou até criminosos. Não Estatais: Manifestantes, sindicatos, atores privados, empresários, empresas privadas, diretores de meios, dirigentes de agremiações, grupos sociais organizados, entre outros. Grupos à margem da Lei: Grupos do crime organizado, narcotráfico, guerrilha, paramilitares, milícias (ABRAJI, 2021).

Em 2020, 37,5% dos 367 ataques a jornalistas e profissionais da imprensa brasileira foram direcionados a mulheres. Esses dados, coletados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo em parceria com a rede Voces del Sur revelam as dificuldades de ser comunicadora no Brasil, especialmente em um contexto de pandemia, desinformação e constantes investidas dos governantes contra a credibilidade jornalística. 

Os números apontaram que as jornalistas foram alvos constantes de agressões (44,3%), restrições na internet (34,4%), discursos estigmatizantes (16,4%) e processos judiciais (4,9%). As diversas formas de violência tinham como intuito, invariavelmente, diminuir, humilhar e silenciar as vítimas – o que representa, de maneira clara, uma violação da liberdade de imprensa e do direito democrático à livre expressão (ABRAJI, 2020).

A comparação entre os anos de 2020 e 2021 revela um crescimento de 23,4% nos alertas de violações à liberdade de imprensa, que já vinha sendo vislumbrado desde o início do ano.

 O projeto Violência de gênero contra jornalistas, que conta com o apoio da UNESCO, é uma derivação do monitoramento de ataques à imprensa, feito anualmente pela Abraji usando os indicadores da rede Voces Del Sur.

A violência do ataque de gênero não se expressa apenas na forma de discursos. Pode incluir insultos e comentários negativos, além de abranger atos e práticas como assédio sexual, violência física, estupro e ameaças de agressão sexual. À medida que jornalistas ampliam sua presença na internet e nas redes sociais, outras modalidades de ataque de gênero se tornam rotina, a exemplo dos ataques massivos online e hackeamentos com o intuito de censurar cobertura jornalística relacionada a gênero, assim como novas estratégias para desmoralizar e um ataque de gênero é definido pela instrumentalização do gênero, aparência ou sexualidade da vítima para atacá-la e desacreditar as jornalistas nos ambientes virtuais: a divulgação ou manipulação não autorizada de imagens pessoais, ataques massivos nas redes sociais e ofensivas contra a reputação ou moral da mulher, que incluem insinuações sobre casos extraconjugais, orientação sexual ou troca de favores sexuais por informação, entre outros (ABRAJI, 2021).

Com informações do Relatório da ABRAJI disponível em: https://abraji.org.br/publicacoes/relatorio-violencia-de-genero-contra-jornalistas

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