Violência contra mulheres na política ocorre mais no Twitter, mas engaja mais no Facebook

Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.

Na semana do Dia da Mulher, o Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB) da Universidade Federal Fluminense divulgou o Mapa da Violência Política de Gênero em Plataformas Digitais, destacando a intensidade, o tipo e as variáveis das manifestações de violência política que acontecem no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube.

Os pesquisadores responsáveis (Letícia Sabbatini, Viktor Chagas, Vinicius Machado Miguel, Gabriela Rezende Pereira e Sabrina Dray) coletaram mais de 4 milhões de mensagens entre julho e dezembro de 2021 que mencionaram 91 parlamentares (79 deputadas federais e 12 senadoras). Em 9% das menções de todas as plataformas foram identificados conteúdos violentos, no entanto o Twitter liderou ao se analisar cada rede de forma específica, 24% das mensagens do microblog apresentaram violência discursiva.

Apesar de o Twitter ter mais ofensas, é no Facebook que essas ofensas mais engajam. Os pesquisadores sugerem que é possível que os conteúdos violentos circulem menos, mas não é uma medida que previna esses casos. No Facebook, os números de interações, curtidas, comentários e compartilhamentos são maiores quando se trata de um material ofensivo. O *desinformante publicou um especial: Violência política mudou cenário eleitoral, em que as plataformas digitais informaram seus posicionamentos em relação à violência política de gênero,

O relatório também busca compreender o nível de ofensividade, desde críticas até ameaças. “Levando em consideração os diferentes níveis de ofensividade, observa-se que o insulto (41% dos ataques), a invalidação (26,6%) e a crítica (24,5%) são os modos de ataque mais acionados, somando mais de 90% das mensagens ofensivas que circulam no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube”, apresenta a pesquisa.

Além disso, os pesquisadores identificaram que os agressores utilizam na maior parte das vezes a retórica satírica para ofender. Dos conteúdos violentos, 30,9% usavam do humor, 22,3% desqualificavam as parlamentares e 15,8% contestavam a posição delas.

Intolerância política e misoginia 

O tema dos ataques também foi alvo de análise. A pesquisa apontou que 22,3% dos ataques partem de intolerância política, levando em consideração “os partidos e o espectro ideológico ocupado pelas parlamentares como uma de suas principais motivações, evidenciando um padrão de misoginia intimamente relacionado com a polarização e a radicalização política”. Nesse espectro, os pesquisadores destacam que parlamentares mulheres de esquerda são duas vezes mais atacadas que parlamentares mulheres de direita.

A deputada Talíria Petrone (50%), a então deputada Profª Dayane Pimentel e a deputada Jandira Feghali (33,3%) foram as parlamentares mais atacadas analisando alvos nominais da violência política de gênero proporcionalmente, isto é, que mais recebem ataques em relação às menções nominais diretas endereçadas a elas nas redes.

“Enfrento a tentativa de silenciamento da minha voz e do meu corpo político desde antes do meu mandato de deputada federal, o que se acirrou nos últimos anos. Isso é parte da conclusão de que, dos alvos nominais da violência política de gênero, fui a parlamentar mais atacada nas redes sociais. Um tipo de violência que também anda junto com outra constatação pelo estudo: a maioria das ofensas são insultos e invalidação da nossa capacidade de atuar como parlamentar”, disse Talíria Petrone ao relatório de pesquisa do coLAB. 

Outros temas aparecem, 8,6% dos ataques exploram algum conteúdo misógino, 1,4% se relaciona com conteúdo homofóbico e 2,9% dos conteúdos violentos são de natureza racista. A aparência das mulheres motivam 3,6% dos ataques e condições físicas e deficiências também aparecem nos conteúdos violentos em 0,7% das vezes. “Há um consenso entre tais mapeamentos sobre a centralidade do corpo nesses ataques, ou seja, são comentários que não têm relação com a ação de tais mulheres na política, mirando em aspectos pessoais e subjetivos, como a sexualidade ou a idade da vítima”, pontua o relatório.

Os pesquisadores ressaltam que 5% desses ataques se baseiam em informações comprovadamente falsas. “Esses e todos os outros dados trazidos pelo estudo mostram que é urgente uma política de regulação das plataformas, que efetivamente fortaleça a democracia e freie os discursos de ódios e a desinformação. Sigo resistindo, ao lado de tantas outras companheiras também constantemente atacadas pela misoginia, a intolerância e o racismo. Não nos silenciarão nem nas redes sociais, e muito menos nas ruas e na tribuna das casas legislativas”, completa Petrone.

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