Publicado originalmente em Agência Lupa por Maiquel Rosauro. Para acessar, clique aqui.
Circula pelas redes sociais um vídeo com o ex-candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) onde é alegado que, no governo Jair Bolsonaro (PL), não foram usados aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) nem o cartão corporativo. Ele também diz que Bolsonaro diminuiu despesas. É falso.
Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
Os caras ficaram quatro anos sem usar os aviões da FAB”
– Fala de Pablo Marçal em vídeo que circula nas redes sociais
Falso
Reportagem do portal Metrópoles, publicada em julho de 2023, revelou que a família Bolsonaro usou aviões da FAB para participar de eventos privados, como cultos religiosos, e para transportar amigos, parentes, pastores e até um cachorro de estimação. O veículo mapeou 70 viagens da família realizadas durante os quatro anos de governo, todas feitas sem que o Bolsonaro estivesse a bordo. Foram 54 voos da então primeira-dama Michelle Bolsonaro, dez do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) e sete de Jair Renan Bolsonaro, ambos filhos do ex-presidente.
O cara não usou o cartão… o cartão… como é que fala, [cartão] corporativo”
– Fala de Nilson Castro em vídeo que circula nas redes sociais
Falso
Jair Bolsonaro fez uso do cartão corporativo enquanto foi presidente da República. Porém, os números divulgados no Portal da Transparência e na Casa Civil são divergentes.
O Portal da Transparência indica um gasto total de R$ 77,6 milhões durante os quatro anos de gestão Bolsonaro (R$ 14,9 milhões em 2019; R$ 19,2 milhões em 2020; R$ 18,9 milhões em 2021 e R$ 24,6 milhões em 2022). Em janeiro de 2023, o UOL noticiou que o gasto ultrapassava R$ 75 milhões.
Já os dados da Casa Civil apontam um gasto total de R$ 41,2 milhões de Bolsonaro com cartão corporativo. Para chegar ao valor é preciso somar todos os gastos entre 2019 e 2022 do arquivo Cartão de pagamento – 2003-2023. Este mesmo valor do cálculo da Lupa foi noticiado pela agência Fiquem Sabendo, em fevereiro deste ano.
Bolsonaro diminuiu despesa”
– Fala de Pablo Marçal em vídeo que circula nas redes sociais
Falso
O governo Bolsonaro, em quatro anos de gestão, conseguiu diminuir as despesas apenas em 2021. Nos outros três, os gastos do governo foram sempre superiores ao período anterior.
Ao final de 2019, o governo registrou R$ 1,44 trilhão em despesas. O valor foi 2,7% superior ao gasto por Michel Temer (MDB), em 2018, no valor de R$ 1,35 trilhão (página 8).
Em 2020, no auge da pandemia de Covid-19, as despesas registraram um crescimento de R$ 447,6 bilhões (31,1%) em relação ao ano anterior, acumulando R$ 1,94 trilhão (página 6).
A despesa caiu R$ 522,2 bilhões (-23,6%) em 2021 em comparação a 2020, totalizando R$ 1,61 trilhão (página 7) – mas ainda foi mais alta do que a de 2019.
No último ano da gestão Bolsonaro, em 2022, a despesa total aumentou R$ 38,4 bilhões (2,1%) em relação a 2021, chegando a R$ 1,80 trilhão (página 7).
[Bolsonaro] baixou o imposto”
– Fala de Pablo Marçal em vídeo que circula nas redes sociais
Falta contexto
A Estimativa da Carga Tributária Bruta do Governo Geral 2023, do Tesouro Nacional, indica que, em dois dos quatro anos de gestão Bolsonaro ocorreu uma queda de impostos no governo federal. Ele terminou o mandato em 2022, no entanto, com uma carga tributária 0,41 ponto porcentual maior do que a que herdou do seu antecessor, Michel Temer (MDB).
Em 2019, no primeiro ano de administração, a carga tributária do governo central representava 21,80% do Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano, inferior aos 22% de 2018 (página 5) – queda de 0,20 ponto porcentual.
Em 2020, a carga tributária chegou a 20,56% do PIB, o que representa uma redução de 1,44 ponto porcentual em relação a 2019.
Em 2021, a carga tributária foi de 21,65% do PIB, aumento de 1,09 ponto porcentual em relação a 2020.
No último ano de gestão, em 2022, a carga tributária do governo central atingiu 22,41% do PIB – aumento de 0,76 ponto porcentual em relação a 2021.
Fonte: Estimativa da Carga Tributária Bruta do Governo Geral 2023, do Tesouro Nacional
E aumentou a receita”
– Fala de Pablo Marçal em vídeo que circula nas redes sociais
Verdadeiro
Nos quatros anos de gestão Bolsonaro, apenas em 2020 foi registrada queda na receita. Em 2019, as receitas totais apresentaram um crescimento real – ou seja, descontando-se a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – de 6,1% em relação a 2018, totalizando R$ 1,63 trilhão de receitas totais (página 8).
Em 2020, a receita apresentou uma queda real de 13,1% na comparação com 2019, totalizando R$ 1,46 trilhão (página 6).
A receita teve crescimento real de 21,6% em 2021 – quando comparada à do ano anterior – totalizando R$ 1,93 trilhão (página 7).
Bolsonaro encerrou sua gestão, em 2022, com um acréscimo real de 9,7% nas receitas em relação a 2021, alcançando R$ 2,31 trilhões (página 7).
Ele desligou o aquecedor da piscina no Planalto para economizar energia”
– Fala de Pablo Marçal em vídeo que circula nas redes sociais
Verdadeiro
A piscina do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, possui aquecimento solar desde 2002. Em abril de 2020, a Secretaria-Geral da Presidência encaminhou uma nota ao jornal O Globo explicando que o aquecedor solar estava estragado desde o início de 2019 e que Bolsonaro mandou desligar o aquecimento elétrico em março daquele ano.
Em contato via WhastApp, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) informou que não possui informações sobre o uso do aquecimento elétrico da piscina do Alvorada no governo Bolsonaro.
Outro lado
A Lupa entrou em contato com a assessoria de Pablo Marçal, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. A verificação será atualizada caso o candidato se manifeste.
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