Publicado originalmente em COVID-19 DivulgAÇÃO Científica por Catarina Chagas. Para acessar, clique aqui.
Postagem enganosa nas redes sociais sugere que indivíduos vacinados estão mais suscetíveis às novas variantes do que quem não tomou a vacina. Entenda por que esta é uma distorção dos resultados de um estudo realizado em Israel.
Nos últimos dias, uma postagem no Twitter afirmou que “pessoas vacinadas têm oito vezes mais chances de contrair variantes do coronavírus”. Mais uma vez, trata-se de uma frase fora de contexto, que induz o leitor ao erro.
Pessoas vacinadas contra o SARS-CoV-2, causador da COVID-19, têm menos chances de contrair a doença do que aquelas que não foram vacinadas. Porém, o risco de infecção pelo vírus existe mesmo após a vacina, principalmente antes que se complete o esquema vacinal: com imunizantes que requerem aplicação em duas doses, consideramos que a proteção máxima oferecida pela vacina só será atingida, em média, duas semanas após a segunda dose.
Entre a população já vacinada, quando há infecção pelo coronavírus, a prevalência de novas variantes pode ser mais alta. E é sobre isso que fala a matéria da agência Reuters citada pela postagem enganosa que vem circulando no Twitter.
A notícia faz referência a um estudo realizado em Israel – país que iniciou a vacinação contra a COVID-19 em 20 de dezembro de 2020 e, em meados de março de 2021, já havia imunizado com pelo menos uma dose de vacina mais de 80% da população com 16 anos ou mais. O trabalho, disponível na plataforma de pré-print medRxiv e ainda não revisado por pares, buscou analisar se as vacinas ofereciam proteção contra duas novas variantes do coronavírus: B.1.1.7, detectada pela primeira vez no Reino Unido, e B.1.351, originalmente detectada na África do Sul.
Foram incluídos no estudo cerca de 800 indivíduos diagnosticados com infecção sintomática ou assintomática pelo SARS-CoV-2. Entre eles, metade havia sido vacinada e a outra metade, não. Os pesquisadores avaliaram, por meio de teste de PCR, a presença das novas variantes.
No estudo, B.1.1.7 foi a variante mais comum, mas teve incidência menor entre as pessoas que já haviam completado seu esquema vacinal há pelo menos uma semana, o que pode sugerir que a vacina foi eficaz de proteger contra esta variante. Por outro lado, a variante B.1.351, que apareceu em menos de 1% dos casos, afetou proporcionalmente mais indivíduos vacinados. No grupo de pessoas infectadas após completar o esquema vacinal, essa variante apareceu quase oito vezes mais do que no grupo controle, isto é, em indivíduos que não foram vacinados.
Para o virologista Flávio Guimarães da Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais, este não é um resultado surpreendente. “Nós já sabemos que essa variante consegue evadir, em parte, a resistência imunológica gerada após a vacinação”, pontua. “Se temos infecção de indivíduos vacinados, é natural que eles estejam sendo infectados por variantes que conseguem escapar da resposta imunológica induzida pela vacina”.
Mas o especialista continua: “Isso não significa que a vacina cause um número maior de infecções. Isso não tem nada a ver!”, exclama, lembrando que é necessário ter cautela na interpretação dos dados.
Ao avaliar a infecção de pessoas já vacinadas pelo SARS-CoV-2 e suas variantes, o estudo israelense traz à tona uma reflexão importante: mesmo após recebermos a vacina, precisamos estar atentos às medidas de contenção da transmissão do coronavírus. Usar máscaras, manter distanciamento social e higienizar as mãos são orientações que continuam valendo mesmo para os vacinados.