Publicado originalmente em Covid-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.
Ao contrário do que sugere vídeo disseminado nas redes sociais, não há relação documentada cientificamente entre a vacinação e a fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca
Circula no Twitter o vídeo publicado originalmente no perfil Real America’s Voice, conhecido por compartilhar fake news e desinformações, no qual um homem que se apresenta como piloto de avião relata ter tido problemas cardíacos depois de receber a vacina contra a COVID-19. “Eu também não queria tomar a vacina. Eu nunca tomei uma vacina contra a gripe na minha vida”, admite. Ele afirma ter recebido o diagnóstico de fibrilação atrial.
A cardiologista Fátima Dumas Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), afirma que a fibrilação atrial é uma condição frequente, já considerada um “problema de saúde pública”, decorrente do envelhecimento da população, e pode estar associada a fatores de risco como apneia do sono, obesidade e sedentarismo.
“A preocupação com a fibrilação atrial é que seu principal efeito é o acidente vascular cerebral, o derrame, muito dramático na prática clínica”, relata. Ela explica que o problema ocorre quando o átrio, uma região do coração, não contrai de forma adequada e provoca a estagnação do sangue, levando à formação de um trombo.
A cardiologista lembra que fenômenos como a trombose e a embolia fazem parte dos riscos ocupacionais de profissionais de aviação, a exemplo do piloto do vídeo, e podem ser desencadeados por diferentes fatores. “Os mecanismos são vários e incluem uma postura viciosa, por tempo muito prolongado. Já é bastante sabido que as viagens longas, podem, de alguma forma, ocasionar algum evento tromboembólico”, sugere.
A cardiologia reafirma que não há relação estabelecida entre a fibrilação atrial, que é um tipo de disritmia cardíaca, e as vacinas contra a COVID-19. Por outro lado, a doença provocada pelo coronavírus, em si, pode estar associada ao problema cardíaco.
“Existem, sim, vários relatos que associam a infecção da COVID-19 com a documentação de fibrilação atrial. Não que exista uma relação de causa e efeito, esta causalidade não foi totalmente esclarecida. Mas a coexistência é frequente”, diz. Ela considera a possibilidade de indivíduos internados com COVID-19 já serem portadores da fibrilação atrial, justamente por ser uma condição comum.
Cintra menciona um amplo estudo realizado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, que avaliou possíveis consequências cardiovasculares da vacina contra a COVID-19. “Não existe nenhum dado robusto alegando que a vacina seja responsável por casos de arritmia grave. Eu gostaria de dizer que ela é bastante segura”, garante.