Vacinados contra COVID-19 podem doar sangue, mas é preciso esperar

Publicado originalmente em COVID-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.

É falsa mensagem em circulação no WhatsApp que pessoas imunizadas contra a COVID-19 não devem doar sangue, supostamente porque a vacina destruiria os anticorpos naturais.

Uma mensagem em circulação no WhatsApp diz que a Cruz Vermelha dos Estados Unidos teria proibido a doação de sangue de pessoas imunizadas contra a COVID-19, supostamente porque a vacina destruiria os anticorpos naturais.

O médico Dante Mário Langhi Júnior, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), refuta a informação. “Anticorpos contra a infecção não são naturais. Anticorpo natural seria aquele que, em algumas situações especiais, não houve um estímulo prévio para sua produção”, afirma.

“O erro está em vários aspectos. A começar pela questão conceitual do que é anticorpo natural. Nós chamamos esse anticorpo de imune, ou seja, o indivíduo teve a doença, seguida da resposta imune, e parte desta resposta é a produção de anticorpos”, detalha.

Segundo o médico, as pessoas vacinadas contra COVID-19 podem doar sangue. Mas esclarece que elas precisam esperar entre dois e sete dias, dependendo da vacina que tomaram. A variação de tempo de espera está associada à tecnologia usada no desenvolvimento do imunizante.

De acordo com uma nota técnica emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em fevereiro de 2021, para as vacinas cuja plataforma é o próprio vírus SARS-CoV-2 inativado, a exemplo da Coronavac e da Covaxin, o prazo para doação de sangue após a vacinação é de 48 horas.

No caso das vacinas com vetor viral (adenovírus) não replicante – Astrazeneca, Janssen e Sputinik V –, e daquelas desenvolvidas a partir do RNA mensageiro, como a da Pfizer, é preciso esperar sete dias após a aplicação para doar sangue.

“Essas regras são estabelecidas não só para COVID, mas para qualquer outra vacina, contra influenza, febre amarela ou sarampo, por exemplo”, esclarece o médico. “O indivíduo vacinado não é, de forma absoluta, desqualificado para doação de sangue, pelo contrário”, enfatiza.

Se possível, doe antes da vacina

Durante o período de vacinação em massa da população, o Ministério da Saúde tem incentivado os brasileiros a fazerem a doação antes de serem vacinados, para garantir a manutenção dos estoques de sangue. Segundo o órgão, houve queda no número de doadores durante a pandemia: em 2019, foram 3,2 milhões de coletas no País; em 2020, o total caiu para 2,9 milhões.

“Com as regras de distanciamento social, primeiro, as pessoas ficaram com medo de doar. Segundo, não era adequado que as doações continuassem da mesma forma: as pessoas irem ao serviço, ficarem esperando, com aglomerações. Então, foi uma situação que demorou certo tempo até ser organizada e houve queda das doações”, analisa Langhi Júnior.

Ao mesmo tempo, ele observa que, inicialmente, também diminuiu a demanda por sangue, em razão da redução das cirurgias eletivas – aquelas que não são emergenciais. “Depois, os serviços se organizaram e as coletas passaram a ser agendadas, na maioria dos locais, o que atendeu às necessidades sanitárias”, diz.

Além da possibilidade de marcação do horário, foram tomadas medidas como o distanciamento das poltronas de coleta e o uso obrigatório de máscaras nos locais de atendimento.

Segurança para doadores e receptores

O presidente da ABHH lembra que a triagem para a doação de sangue com relação à COVID-19 segue o mesmo padrão daquela já realizada para outras possíveis infecções e que as pessoas não devem fazer a doação enquanto estiverem doentes. “Trinta dias após o término dos sintomas, qualquer indivíduo que teve COVID passa a ser um doador de sangue normal”, pondera.

O médico minimiza qualquer possibilidade de contaminação dos receptores, ao argumentar que a COVID-19 é uma doença respiratória. “Existem alguns casos em que o vírus foi detectado no sangue, mas foram casos de pacientes muito graves”, relata. “Em todos os estudos feitos até agora, não se demonstrou, de maneira conclusiva, que esse vírus possa ser transmitido pelo sangue”, afirma.

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