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Na manhã desta quarta-feira (10), a renomada cientista e arqueóloga Niède Guidon recebeu o título de Doutora Honoris Causa, a maior honraria dos segmentos honoríficos da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A cerimônia aconteceu em São Raimundo Nonato (PI) e contou com a presença do reitor Gildásio Guedes. A concessão do título foi aprovada pela resolução Nº 138, de 21 de agosto de 2023, do Conselho Universitário (CONSUN).
Reitor Gildásio Guedes conduz solenidade de entrega do Título
O reitor da UFPI, Gildásio Guedes, expressou sua alegria em participar do evento e enfatizou a importância da Universidade no reconhecimento do trabalho científico: “Eu me sinto muito feliz em participar deste momento histórico. É a UFPI fazendo mais uma vez história no Piauí. Este é um momento de preservar, reconstruir e construir o conhecimento aqui aplicado e o legado da doutora Niède. Estamos mostrando um trabalho científico, para que as pesquisas sejam ainda mais reconhecidas, agora no âmbito da Universidade, através da concessão deste título”, comentou.
Doutora Honoris Causa pela UFPI, Niède Guidon
Niède Guidon agradeceu a honraria e ressaltou a importância do reconhecimento de seu trabalho. Ela também destacou que ainda há muito a ser explorado na região: “É uma gentileza imensa receber este reconhecimento pelo meu trabalho, mas quem realmente merece isso é o homem pré-histórico, que deixou esse patrimônio fantástico na região da Serra da Capivara. Ainda há muitas áreas a serem completamente pesquisadas e um número fantástico de sítios arqueológicos a serem explorados”, completou.
O coordenador do curso de arqueologia da UFPI, Ângelo Lopes Corrêa, e a professora de Arqueologia da Instituição, Conceição Lage, falaram sobre a importância de Niède Guidon para o campo arqueológico e sobre o valor do título concedido à arqueóloga por suas descobertas e trabalhos na Serra da Capivara.
“É muito bom participar da cerimônia de entrega da honraria a uma pessoa que fundamentou a arqueologia no estado do Piauí, trazendo uma compreensão muito maior sobre todo o processo de ocupação dessa região há milhares de anos”, afirmou Ângelo Corrêa.
“É um grande prazer ter alguém como inspiração. Ela sempre nos transmitiu essa vontade de trabalhar. Mesmo exausta, se alguém chegasse com uma dúvida, ela conversava e ajudava. Ela também foi minha professora durante minha especialização na UFPI nos anos 90. Podemos ver a importância e a dedicação que ela sempre teve ao trabalho”, concluiu Conceição Lage.
Na oportunidade, também estiveram presentes a arqueóloga francesa e diretora-presidente da FUNDHAM Anne Marie-Pessis; Rosa Trakalo; Elizabete Buco; e a membra da FUNDHAM, Maria Fátima Ribeiro Barbosa.
Niède Guidon foi homenageada em decorrência de suas pesquisas arqueológicas no Piauí, sendo responsável pela descoberta de mais de 800 sítios pré-históricos na área e vestígios dos primeiros habitantes humanos da Terra. Os vestígios de presença humana foram descobertos em escavações arqueológicas realizadas principalmente em abrigos rochosos naturais com muitas pinturas rupestres, no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, que foi declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1991.
A partir da exploração de sítios arqueológicos no Piauí e das datações realizadas na Serra da Capivara, Guidon deu forma à hipótese de que os humanos teriam chegado ao continente americano pela África. Segundo Niede Guidon, conforme artigo publicado em 2008, na revista Fapesp, o material arqueológico resgatado no Piauí até o início dos anos 2000 indica que o homem chegou à região há cerca de 100 mil anos.
A teoria de Guidon sobre a chegada do homem às Américas causou ruptura com o consenso científico tradicional da arqueologia, cristalizado pela dominância da visão norte-americana, que posiciona a chegada do homem nas Américas há cerca de 13 mil anos, vindo da Ásia, com passagem pelo Estreito de Bering, localizado entre a Sibéria e o Alasca, e que de lá, teriam migrado para o sul.
Niède Guidon atuou na área por cinco décadas, sendo diretora-presidente da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM). Atualmente, ela é presidenta emérita. Em 2018, a pesquisadora também foi condecorada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).