TWITTER TÓXICO: Centro de Combate ao ódio identifica que os tweets contra pessoas LGBTQIA+ aumentaram 119% nos últimos meses

Texto por Ana Regina Rêgo. Também disponível em Jornal O Dia e Portal Acesse Piauí

O Centro de Combate ao ódio digital-CCDH divulgou esta semana, os resultados de uma pesquisa realizada no Twitter sobre discursos de ódio contra pessoas LGBTQIA+ e constatou que após a compra do Twitter por Elon Musk  houve um aumento de 119% nesse tipo de narrativa de ódio. 

O CCDH identificou mais de 1,7 milhão de tweets e retuítes desde o início de 2022 que mencionam a comunidade LGBTQIA+ por meio de uma palavra-chave como “LGBT”, “gay”, “homossexual” ou “trans” junto com calúnias, incluindo “groomer” , “predador” e “pedófilo”.

Em 2022, antes de Musk assumir, havia uma média de 3.011 tuítes por dia. Esse número saltou para 6.596 nos quatro meses após sua aquisição por Musk. Vale destacar que a análise do CCDH captura o volume do discurso em torno da narrativa do grooming, que inclui tweets defendendo a comunidade LGBTQIA +, bem como aqueles que concordam com as calúnias.

Os tweets visam eventos de orgulho, procuram demonizar a comunidade acusando de pedofilia e atacam profissionais como educadores que sejam LGBTQIA+ , e  muitas vezes essas narrativas se tornam virais em eventos trágicos como o tiroteio em Colorado Springs. 

No que concerne ao foco, as narrativas convocam supostas violências do mundo real, como ameaças, assédio, pedofilia e outros temas que provocam ódio, medo e angústia entre os seguidores dos perfis. 

O relatório da pesquisa sobre a toxicidade do Twitter revela ainda que a plataforma lucra muito com o discurso de ódio que permite circular entre seus usuários.

Para termos uma ideia, a pesquisa aponta que apenas cinco contas do Twitter especializadas em ódio à comunidade LGBTQIA+ e que possuem milhões de seguidores, ao impulsionar as narrativas de ódio chegam a gerar um lucro de US$ 6,4 milhões para a receita publicitária do Twitter. São as contas mais influentes e cujos seguidores terminam por retuitar seus conteúdos. O ódio digital nesse segmento emana potencialmente dessas contas.

Para projetar o lucro do Twitter, o CCDH capturou screenshots de anúncios de marca que aparecem ao lado de tweets de cada uma das cinco contas mais influentes nos temas e no ódio a comunidade, confirmando que o conteúdo das contas está sendo monetizado. E para estimar o valor das receitas anuais com anúncios levantados em cada conta do Twitter, o Centro combinou três elementos: números publicamente disponíveis sobre impressões de tweets, os resultados de uma simulação para encontrar a frequência de anúncios no Twitter e informações do setor sobre o custo de Anúncios no Twitter.

O Twitter, portanto, além de hospedar e possibilitar o crescimento de um campo de ódio contra pessoas LGBTQIA+, também possibilita uma grande lucratividade a esse ecossistema ao recomendar os tweets que terminam viralizando e ganhando outras plataformas e, como dito anteriormente, termina também por obter uma grande lucratividade para si.

As contas localizadas no Twitter como maiores propagadoras de ódio contra a comunidade LGBTQIA+  nos Estados Unidos são: 

Gays Against Groomers talvez seja a mais tóxica conta do Twitter com foco no tema aqui em pauta. É um conta que está por trás de uma coalizão fundada por Jaimee Michell que vende narrativas enganosas sobre a comunidade LGBTQIA+, focando em falsas alegações de “grooming” por drag performers, “doutrinação” por Educadores LGBTQIA+ e “mutilação infantil” por cuidadores gays. A Against Groomers tem sido apontado pela ADL, que é uma Instituição/Liga antidifamação criada nos Estados Unidos em 1913,  como uma das maiores amplificadoras de extremismo anti-LGBTQIA+.

Libs do TikToK é uma conta administrada pelo ex-corretor imobiliário Chaya Raichik que frequentemente visa artistas drag, educadores e profissionais de saúde no espaço LGBTQIA+ com falsas alegações de “grooming”, “abuso infantil” e “doutrinação”. Libs do TikTok também está na lista da ADL como um dos maiores divulgadores do extremismo anti-LGBTQIA+.

James Lindsay  é o terceiro perfil concentrador desse ecossistema e contribuiu para a popularização da frase “ok groomer”, que ele frequentemente usa de maneira depreciativa para responder a tweets sobre temas LGBTQIA+ . Ele tinha sido expulso do Twitter por seus tweets que propagam ódio, mas após a compra da plataforma por Elon Musk, terminou retornando com grande força e número de seguidores.

O quarto maior perfil em influência na propagação do ódio contra a comunidade em pauta é o de Chris Rufo que trabalha que como membro sênior do Manhattan Institute, conhecido por suas posições de extrema direita. Ele tem promovido debates e temores sobre os supostos “perigos” da “ideologia de gênero”, divulgando absurdas teorias da conspiração, incluindo a alegação de que “a teoria radical de gênero quer substituir os pais com uma ideologia sexual apoiada pelo Estado”. Também está na lista da ADL. 

E por último, o perfil de Tim Pool, que é um famoso influenciador digital de direita, YouTuber e apresentador de podcast. Tim Pool foi muito criticado pela Media Matters na sequência do tiroteio em Colorado Springs por “culpar as vítimas do ataque” e por “espalhar  propaganda e  ódio anti-trans “.

O relatório da pesquisa do CCDH indica que a análise de dados publicamente disponíveis sobre impressões mostra que os tweets das cinco contas já acumularam quase 1,4 bilhão de impressões desde que o Twitter tornou pública a contagem das impressões em 15 de dezembro de 2022. Vale explicar que a análise das impressões reflete a quantidade de vezes que os usuários seguidores de perfis já viram um determinado tweet. 

Em um dia normal, os tweets das cinco contas recebem um total combinado de 18 milhões impressões. Projetando essa média em 365 dias, pode-se esperar que as contas possam atingir quase 6,7 bilhões de impressões ao longo de um ano.

Para conhecer o CCDH acesse: https://counterhate.com/ 

Para acessar a pesquisa Twitter Tóxico entre em: https://counterhate.com/wp-content/uploads/2023/03/Toxic-Twitter-II-Final-Report.pdf 

Para conhecer a ADL acesse: https://www.adl.org/ 

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