Nas próximas horas, dias e semanas, muita gente vai queimar os neurônios tentando entender os próximos caminhos
Publicado originalmente em Brasil de Fato por Valter Pomar. Para acessar, clique aqui.
Se não houver nenhuma surpresa, no dia 20 de janeiro de 2025 Trump voltará a presidir os Estados Unidos. Detalhe: o candidato do Partido Republicano conseguiu maioria de votos no Colégio Eleitoral e, também, conseguiu maioria entre os eleitores.
O que explica este resultado? O que mudará na política externa e interna dos Estados Unidos? O que farão aqueles que equipararam Trump, não apenas com o fascismo, mas também com o nazismo?
O que devemos fazer nós, na América Latina e Caribe, especialmente no Brasil?
Nas próximas horas, dias e semanas, muita gente vai queimar os neurônios tentando responder estas e outras questões.
A seguir, algumas opiniões.
Primeiro: fenômenos complexos geralmente não têm uma única causa.
Mas tudo indica que a vitória de Trump, inclusive com maioria de votos populares, está relacionada com a situação econômica dos Estados Unidos. Alguém poderia dizer: mas os índices econômicos dos EUA são positivos (como os do Brasil, acrescentaria alguém da Fazenda brasileira)!
Sim, isto é verdade.
Mas, como no Brasil, o julgamento popular não coincide com os índices.
Além disso, e muito mais importante, o que está em jogo não é apenas a situação econômica no sentido estrito do termo; o que está em jogo é algo mais profundo, a saber, o lugar dos Estados Unidos no mundo.
Tanto Democratas quanto Republicanos querem que os EUA voltem a liderar.
E, mesmo que por pequena diferença, a maioria do eleitorado estadounidense escolheu a fórmula trumpista para tentar “fazer a América grande outra vez”. O que isto significará na prática? Em algumas questões, significará mais do mesmo ou uma radicalização do que já está acontecendo.
Noutras questões, teremos novidades.
A esse respeito, recomendo ler o seguinte artigo.
Seja lá o que Trump efetivamente venha a fazer, o impacto político imediato será o envalentonamento da extrema-direita mundo afora e a decorrente polarização. Um verdadeiro inferno para os que têm medo da polarização.
Mas como a polarização existe, gostemos ou não, temos que nos preparar para vencer.
Para alguns isso exigirá “ir mais para o centro”, ou seja, aprofundar as alianças entre a esquerda e a direita gourmet.
Acontece que uma fórmula aparentada com esta foi derrotada nas eleições estadunidenses. O “social liberalismo democrático” é incapaz de vencer a extrema-direita. Claro, os caminhos alternativos – por exemplo, “ir para a esquerda” – não são nada fáceis.
Mas é o que temos, se não quisermos que se repita aqui o que acabou de acontecer na gringolândia.
Trata-se de tomar medidas mais profundas e velozes para garantir nossa soberania econômica, o que entre outras coisas exige deixar de lado as limitações do Calabouço Fiscal.
Trata-se de tomar medidas urgentes para reconstruir a integração regional, o que entre outras coisas exige voltar a manter boas relações com o governo da Venezuela.
Trata-se de aprofundar as relações com os BRICS, o que entre outras coisas significa estabelecer um acordo de alto nível entre a China e o Brasil, na visita que Xi Jinping fará ao Brasil.
Trata-se, enfim, de voltar a pensar a longo prazo. Entre outros motivos porque, sem estratégia, no curto prazo estaremos todos mortos.
*Valter Pomar é historiador e professor da UFABC.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Nathallia Fonseca