Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Highlights
- Estudo analisou repercussão de denúncias de violação de direitos humanos feitas contra multinacionais signatárias do Global Compact da ONU com atuação na cidade de Uberlândia (MG)
- Empresas que neutralizam esses casos adotam postura de omissão diante dos fatos
- Tratado de direitos humanos para empresas signatárias poderia estabelecer limites para sua atuação
Nenhuma empresa gostaria de se ver envolvida em um escândalo de violações contra os direitos humanos. No entanto, quando isso acontece, existem tentativas de neutralizar a repercussão dos casos que levam as companhias a desqualificarem e/ou desacreditarem as denúncias. É o que revela uma análise realizada por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP) e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) publicada nesta quarta-feira (4) na revista “Cadernos Ebape”.
A pesquisa qualitativa avaliou reportagens, vídeos, documentários, documentos institucionais e relatórios de entidades e ONGs que mencionaram denúncias de violação de direitos humanos, como comercialização de produtos oriundos de áreas de preservação ambiental, condições precárias e insalubres de trabalho feitas contra multinacionais signatárias do Global Compact da ONU e que tivessem atuação na cidade de Uberlândia (MG). Isso porque as signatárias do Global Compact se comprometem a alinhar suas estratégias e operações com princípios de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção, desenvolvendo ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade, esclarecem os autores.
Os resultados encontrados apontam que ao recusarem a responsabilidade sobre as denúncias e tentarem negar seu envolvimento, as empresas acabavam se omitindo diante das revelações de violações de direitos humanos, se abstendo da sua responsabilidade e chegando a adotar estratégias de negação dos fatos.
“Em alguns casos, observamos um movimento que excedia a desacreditação, formando os chamados ‘gabinetes de guerra’, que usavam do aparato organizacional para ocultar denúncias que ameaçassem ao seu negócio, o que incluía a demissão de sindicalistas, desqualificação de cientistas e de pesquisas acadêmicas, financiamento de reportagens, pesquisas e entidades em defesa dos interesses e produtos das organizações”, explica Rodolfo Maritan, um dos autores do estudo.
O pesquisador reforça que a análise não tem o intuito de acusar nenhuma empresa, mas de refletir sobre a percepção pública a partir dos materiais veiculados pela imprensa e por organizações internacionalmente reconhecidas como defensoras dos direitos humanos.
De acordo com os autores, os achados reforçam ainda mais a necessidade de se avançar em um tratado de direitos humanos que determinaria e obrigaria que as empresas participantes respeitassem normas, leis e jurisdições pré-definidas em nível internacional.
“Esse é um caminho longo, pois estamos há anos tentando formalizar um tratado vinculante de Direitos Humanos. O tratado seria uma oportunidade para que sejam estabelecidos limites para as atuações empresariais”, reflete Maritan.