Taxação de bebidas açucaradas e regulação da publicidade podem diminuir os impactos do consumo de alimentos ultraprocessados

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.

Highlights

  • Novo editorial do periódico científico The British Medical Journal é assinado por pesquisador brasileiro
  • A edição traz um estudo norte-americano que investigou a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a ocorrência de câncer colorretal
  • Autores defendem mais transparência nos rótulos dos alimentos em relação à quantidade de açúcares, gorduras saturadas e sódio

A última edição da revista científica The British Medical Journal, uma das mais influentes na área da saúde, acrescenta importantes contribuições sobre o impacto dos alimentos ultraprocessados na saúde pública de vários países. Carlos A. Monteiro, pesquisador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP), e Geoffrey Cannon, pesquisador sênior da mesma instituição, escreveram o editorial que abre a nova edição do periódico que será publicado no dia 31 de agosto.

Os pesquisadores começam o editorial definindo que os alimentos ultraprocessados, pertencentes ao grupo quatro da classificação NOVA, são formulações industriais obtidas a partir da desconstrução de alimentos integrais que os transformam em componentes químicos, alterando e recombinando-os com aditivos. O resultado desse processo é o surgimento de produtos que aparecem como alternativas para alimentos frescos minimamente processados e refeições preparadas na hora.

“Não raro, esses alimentos têm como ingredientes aditivos cosméticos, que dão cor, sabor, aroma e textura, mimetizando alimentos in natura. Um exemplo é o biscoito recheado de morango, com cor, sabor e aroma próximos aos do morango, mas sem a presença da fruta na composição”, explica o pesquisador Monteiro.

Inclusive, as mudanças de rótulos dos produtos nas prateleiras dos supermercados já são percebidos pela população. Segundo a reportagem da BBC, existem diversos relatos de alimentos que empobreceram a fórmula e a qualidade nutricional em razão da crise econômica, situação confirmada por Monteiro.

“O leite condensado é um exemplo. O leite subiu quase 80% apenas neste ano, o que tornou seus derivados muito mais caros. Quando a indústria passa a oferecer a “mistura láctea”, o leite é, em parte, substituído por ingredientes como soro de leite e amido, e pode ganhar aroma artificial de leite condensado – ou seja, temos um alimento ultraprocessado”, informa o pesquisador.

Dessa forma, os estudos na área de epidemiologia nutricional têm aumentado nas últimas décadas. A nova edição da revista The British Medical Journal traz uma descoberta importante: os pesquisadores concluíram a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a ocorrência do câncer colorretal.

“Hoje, temos um conjunto robusto de evidências científicas que mostram a associação do consumo de alimentos ultraprocessados com maiores riscos de desenvolvimento de quadros de obesidade, sobrepeso, diabetes, hipertensão e dislipidemias”, explica o autor do editorial.

Diante desse cenário, Monteiro afirma que existem alternativas que podem ser feitas para atenuar os impactos dos alimentos ultraprocessados na saúde dos brasileiros, como a iniciativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que em outubro aprovará uma nova rotulagem de alimentos, a fim de auxiliar a população a reconhecer alimentos com excesso de açúcares, sódio e gordura saturada.

“Outras ideias seriam a taxação de bebidas açucaradas (como sucos de caixinha e refrigerantes) e a regulação da publicidade de ultraprocessados (principalmente aquela destinada ao público infantil)”, conclui Monteiro.

Um projeto de lei (PL 239/22) dispõe sobre a regulamentação da publicidade de alimentos com altos teores de açúcar e ultraprocessados. Segundo a Câmara dos Deputados, “o texto proíbe que a propaganda sugira o consumo imoderado de alimentos ultraprocessados com grande quantidade de açúcar ou atribua a eles benefícios à saúde, ao crescimento ou ao desenvolvimento de crianças e adolescentes”. O projeto aguarda parecer da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.

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