Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Thalita Albano. Para acessar, clique aqui.
Em parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo – da Fiocruz(disponível para Android e iOS), o Nujoc Checagem recebeu para averiguação, um artigo publicado no site Contra Fatos afirmando que spray nasal a base de ivermectina melhora os resultados da Covid-19. Segundo o site, trata-se de um ensaio clínico conduzido pela South Valley University do Egito.
Neste ensaio, 114 pacientes diagnosticados com Covid-19 leve foram incluídos, conforme apresentado em estudo realizado em fevereiro e março de 2021, em uma clínica ambulatorial no Hospital Universitário de Qena, no Alto Egito.
A equipe desse estudo procurou avaliar o uso de uma nanossuspensão mucoadesiva de ivermectina como um spray nasal no tratamento da Covid-19 inicial. Simplificadamente, eles procuraram comparar o uso de uma mistura que consiste em nanossuspensão mucoadesiva de ivermectina para entrega localizada por meio de um spray nasal sozinho com o protocolo egípcio para abordar melhorias gerais e investigar especificamente o impacto na anosmia (perda de olfato) e hiposmia (redução na detecção de odores) para pacientes com Covid-19 leve.
Com base nos resultados obtidos, os pesquisadores concluíram que o uso local do spray nasal de nanossuspensão mucoadesiva de ivermectina é seguro e eficaz no tratamento de pacientes com Covid-19 leve com depuração viral rápida e recuperação de manifestações respiratórias (anosmia, tosse e dispneia).
Com base nas informações recebidas e com a ajuda de alguns sites para checagem, o Nujoc Checagem constatou que trata-se de uma informação ainda em estudo, ou seja, sem comprovação científica, visto que até o momento pesquisas estão sendo realizadas sobre o assunto, não comprovando cientificamente que esses protetores nasais reduzam o risco de infecção pelo novo coronavírus ou melhorem os resultados da Covid-19 em casos de pacientes infectados pela doença, como afirmado pelo site.
Sabe-se que desde o começo da pandemia até aqui, pesquisadores do mundo todo buscam soluções para tentar impedir a disseminação do novo coronavírus e tratar a Covid-19. A vacina chegou em forma de esperança e conforto para aqueles que perderam entes queridos e para os que ficaram e lutam contra um inimigo invisível. Mas até vacinar uma parcela significativa da população para garantir a imunidadepretendida, usar máscaras, lavar as mãos constantemente e manter o distanciamento social são as formais mais eficazes e eficientes de evitar a doença.
Contudo, uma alternativa surgiu não apenas no Brasil, como em partes do mundo, prometendo ser um poderoso aliado na prevenção contra o vírus: trata-se das soluções nasais, como a citada no artigo da South Valley University do Egito, descrito logo acima, onde essas soluções criam uma camada protetora dentro das vias respiratórias, que impediria que micro-organismos e partículas de pó entrassem em contato com as mucosas e células do organismo, provocando doenças e reações alérgicas.
Sabe-se, porém, que ainda não há comprovações científicas de que esses protetores nasais, como já falado aqui, tivessem algum resultado positivo sobre a doença, reduzindo o risco de infecção ou melhorando os resultados em casos de pacientes positivados. Com isso, em hipótese alguma esses sprays devem substituir o uso de máscaras e de outros cuidados para se proteger da Covid-19.
Alexandre Naime Barbosa, infectologista, chefe do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia destaca que “por mais que a solução pareça promissora, se comprovada sua eficácia, ela no máximo será uma proteção coadjuvante, um cuidado a mais para evitar infecções por vias aéreas. Não podemos achar que aplicar um produto no nariz vai substituir o uso de máscara e as outras verdadeiras proteções contra o coronavírus”, falou ele.
Valdes Roberto Bollela, infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP, ressalta que, além de não terem comprovação de que podem proteger da Covid-19, esses produtos não parecem ser compatíveis com nossas funções fisiológicas. Por isso, não recomenda o uso nem como proteção extra contra o coronavírus enquanto não houver estudos científicos robustos para validar o produto. “As mucosas do nariz, necessariamente, precisam ser higienizadas. Por isso que nosso corpo produz secreções como o muco, um líquido de proteção que vai limpando a mucosa. Um produto que cria uma barreira e vai impedir que partículas cheguem até as mucosas não me parece compatível com as funções do organismo”, afirmou Bolella.
Se tratando da ivermectina, que foi o medicamento chave do ensaio conduzido pela South Valley University do Egito, é sabido que o mesmo é originalmente indicado contra sarnas e vermes. Na pandemia da Covid-19, foi indicado por alguns médicos para tratamento precoce, onde esses afirmavam que a ingestão do medicamento reduzia os riscos de infecção por Covid-19 ou ajudava no tratamento de pacientes já positivados. Contudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a agência americana Food and Drug Administration (FDA) desaconselham o uso do medicamento contra o novo coronavírus, visto ser necessário mais testes para determinar se a ivermectina pode ser utilizada na prevenção ou no tratamento da doença.
Com isso, mesmo com estudos em andamento, fica claro que não há nenhuma comprovação científica de que o spray a base de ivermectina melhore os resultados da Covid-19. Contra a doença, além da vacinação já em andamento, o protocolo ideal a ser seguido é o uso da máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos.