Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Giovanny Freitas. Para acessar, clique aqui.
Nenhuma ligação entre as vacinas contra a covid-19 e aumento no contágio de Aids foi reportada pelos grupos que desenvolveram os imunizantes.
As tecnologias utilizadas na produção das vacinas contra a Covid-19, além de inovadoras, proporcionaram uma rápida desaceleração dos casos da doença em todo mundo. Foram utilizadas técnicas desde as clássicas metodologias — como as vacinas de vírus inteiros inativados, subunitárias proteicas, recombinantes e VLP — até às novas plataformas de ácidos nucleicos (DNA e mRNA) e de vetores virais. Em todos os casos, o alvo dos imunizantes é a proteína S (spike), responsável pela ligação do vírus SARS-CoV-2 com as células humanas.
Entretanto, uma das técnicas utilizadas na fabricação dos imunizantes tem dado o que falar, sobretudo no Brasil, após um pronunciamento do presidente da república durante uma live, na qual o mesmo comentou que “os totalmente vacinados [15 dias após a segunda dose] estão desenvolvendo AIDS”.
O início desta confusão se deu a partir de um estudo publicado no jornal científico The Lancet em que de acordo com pesquisadores, algumas vacinas que usam um adenovírus específico no combate ao vírus SARS-CoV-2 “podem” aumentar o risco de que pacientes sejam infectados com HIV, o vírus da Aids – SÓ QUE para isso, a pessoa precisa ser exposta ao vírus.
Até agora, não se comprovou que alguma vacina contra a covid-19 reduza a imunidade a ponto de facilitar a infecção em caso de exposição ao vírus. Em sua fala, Jair Bolsonaro comentou que: “Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados [15 dias após a segunda dose] estão desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida [Aids] muito mais rápido que o previsto. Recomendo que leiam a matéria. Não vou ler aqui porque posso ter problemas com a minha live” – disse o presidente na ocasião.
O presidente ainda atribuiu a veracidade da informação à uma matéria publicada no portal Exame no dia 20 de outubro de 2020, e pode ser lida na íntegra aqui. Ao verificarmos a matéria, identificamos imprecisões e distorções na fala de Bolsonaro:
“Foi a própria Exame que falou da relação de HIV com vacina. Eu apenas falei sobre a matéria da Revista Exame. E 2 dias depois a Exame me acusa de ter feito fake news sobre HIV e vacina. A gente vive com isso o tempo todo. Se for pegar certos órgãos de impressa, são fábricas de fake News”.
Em resposta, a Exame explicou que:
“Os cientistas se baseavam não em vacinas contra a covid-19, que ainda estavam em desenvolvimento na época, mas em análises feitas em 2007 na busca por uma vacina contra o HIV que usavam o Ad5 em sua composição. O Ad5 foi utilizado em algumas vacinas específicas contra a covid-19, como a russa Sputnik V. É importante notar que nenhuma delas tem uso no Brasil. Apesar do alerta de cientistas no ano passado, nenhuma ligação entre as vacinas contra a covid-19 e aumento no contágio de Aids foi reportada pelos grupos que desenvolveram os imunizantes. Em um comunicado, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) reforçou que as vacinas contra a covid-19 não carregam nenhum elemento do vírus da Aids e não causam supressão no sistema imunológico. Como medida de precaução, porém, no início do mês, a África do Sul decidiu por não aprovar o uso da Sputnik V no país, citando um possível aumento de risco de infecção pelo HIV. No domingo, 24, a Namíbia seguiu a decisão da África do Sul e confirmou que deve suspender a Sputnik V em seu território. Os dois países sofrem com alta incidência de HIV”. (fonte: Exame).
As autoridades sanitárias recomendam que todas as pessoas adquiram sua imunização por meio das vacinas, visto que os efeitos colaterais são superados pelos benefícios da imunização. As demais intersecções que liguem as vacinas ao desenvolvimento de outras doenças não possuem quaisquer comprovações científicas até o momento, sobretudo, que ligue às vacinas ao desenvolvimento da AIDS. Portanto, devido a inconsistências das alegações do presidente, o mais sensato a ser feito, é sim, dar continuidade ao processo de imunização contra o novo coronavírus e suas variantes.